quarta-feira, 31 de agosto de 2016

MORTE NUTRE DE CAPITAL

Para preservar as nossas vidas governos proibir o fumo em locais públicos. Maços de cigarros exibem fotos horríveis de os efeitos letais do vício. "Fumar mata", adverte o Ministério da Saúde.

Recentemente, foi proibido em os EUA o cigarro eletrônico. Por que, se emite apenas vapor de água inodoro e não contém produtos químicos? Mas os legisladores entendem que isso é um mau exemplo. O charuto virtual pode levar a charuto real ...

No entanto, os filmes do mercado completos mesmo país com cenas de violência excessiva, não que a lei significa que os crimes virtuais podem gerar crimes reais ... O comércio de armas tem total liberdade na maioria dos estados.

O excesso de velocidade mata também. No Brasil, desde 2013, o Datasus, 43 mil 780 pessoas perderam a vida no trânsito. No entanto, o Ministério das Cidades não exige que a indústria automóvel para limitar a velocidade potencial de veículos . A lei e do sistema judiciário são condescendentes com este tipo de risco letal. Os motoristas que ceifaram vidas sob as rodas de seus carros estão em bom estado de saúde, a liberdade total ... e de seus cartões de motoristas.

O consumo de álcool também é prejudicial à saúde. Mas, ao contrário do tabaco, o álcool tem segurado tanto a propaganda como o uso gratuito deles.

Sabemos que a agricultura brasileira é o uso de pesticidas campeão do mundo, o que se reflete no aumento da incidência de câncer em nossa população. No entanto, este paradoxo não é proibido: a rega veneno a comida que precisamos para sustentar a vida . E determinados produtos químicos proibidos em outros países não são proibidos aqui. O Ministério da Agricultura deve ser impresso na embalagem de alimentos: "Comer é prejudicial à saúde!"

Ainda não se sabe qual o efeito real do OGM sobre o corpo humano, embora eles são usados em uma grande escala. Nem sequer é obrigatório por lei indicar aos consumidores que esses alimentos contém geneticamente modificados.

Por que tão descaradamente dialogamos com a morte? Primeiro, porque ele dá lucro ea acumulação de capital é o que rege o mercado, o que, por sua vez, dirige a economia, que está sob a política. Em segundo lugar, porque o perigo de vida passou a ser na agenda do mercado. Dar dinheiro. Veja Fórmula 1 luta de MMA e alguns desportos radicais, base jump, céu surf e andar de asa. A adrenalina dos atletas acrescenta o público, animado como as crianças no circo para assistir voltas dando motoristas no globo da morte.

Drogas são proibidas porque seus usuários fazem irresponsável. O álcool, ingerido em grandes quantidades, produzem o mesmo efeito. Atrás do volante o motorista se torna um assassino em potencial ou suicídio. Ou ambos. Proibição tentativas para reduzir o abuso. No entanto, há relatos de acidentes causados por motoristas que fumam indo de carro. Por que esta política de dois pesos e duas medidas?

E as motos? 12.000 são mortos em acidentes de moto por ano no Brasil. De acordo com o Ministério da Saúde tais acidentes são responsáveis pelo aumento de 115 por cento estadias nos hospitais públicos.

Agora, ele é proibido para proibir tudo o que engorda o capital. O que viveria se o funeral mortes seria não facilitar?

Por Frei Betto

domingo, 21 de agosto de 2016

OS LIVROS MAIS LIDOS PELOS EDUCADORES

Entre os títulos mais lidos pelos professores brasileiros, estão os religiosos e obras de autoajuda com vendas muito expressivas no país. Essa é apenas uma das conclusões da pesquisa Retratos da Literatura no Brasil, Organizada pelo Instituto Pró-Livro em parceria com o Ibope. O estudo foi realizado em 2015 e, ao todo, foram entrevistadas 5.012pessoas de todas as regiões do país.

Segundo o levantamento, 84% dos docentes no Brasil são considerados leitores, ou seja, leram pelo menos um livro inteiro ou em partes nos últimos três meses. Metade dos professores entrevistados não leu nenhuma obra recentemente. Além disso, a média de livros lidos, inteiros ou em partes, pelos docentes nos últimos três meses é de 5,2.

A partir da lista de obras disponibilizada pela pesquisa, o site da revista Educação selecionou cinco títulos que caíram no gosto dos professores. A grande maioria é composta por obras de ficção: apenas um é especializado em uma área de atuação docente. Veja a seguir.

A esperança – Trilogia Jogos Vorazes (Mockingjay, 2010)Suzanne Collins

Toda a trilogia foi adaptada para o cinema em quatro produções, e contou com a interpretação da atriz Jennifer Lawrence (ganhadora do Oscar em 2013 pela atuação em “O lado bom da vida”) no papel principal. Os filmes foram lançados nos anos de 2012, 2013, 2014 e 2015.

Último livro da saga Jogos Vorazes, a obra é sucesso entre o público jovem-adulto. Escrito pela estadunidense Suzanne Collins, a trama se passa no futuro, quando, destruída por guerras, a América do Norte passa a se dividir em 12 distritos e uma capital. A esperança retrata o desfecho da luta de Katniss Everdeen, protagonista e líder da rebelião contra o governo autoritário do novo país.


O monge e o executivo – Uma história sobre a essência da Liderança (The servant, 1998) James C. Hunter


O maior mercado de vendas da obra está no Brasil, onde já vendeu mais de 3 milhões de cópias desde seu lançamento em 2004, pela editora Sextante. The Servant (“O servidor” ou “Aquele que serve”, em tradução livre) foi escrito em 1998, mas não se tornou um sucesso nos Estados Unidos.

O livro do norte-americano James C. Hunter é considerado uma obra deautoajuda profissional. Focada no que autor considera ser a verdadeira liderança, a obra mostra ensinamentos sobre como ser um bom líder por meio da servidão ao outro.

Amor nos tempos do cólera (El amor en los tiempos del cólera, 1985) Gabriel García Márquez

O ponto de partida para o enredo do livro veio da história dos pais de García Márquez. O telegrafista, violinista e poeta Gabriel Elígio Garciá – mesmas profissões do personagem Florentino – se apaixonou por Luiza Márquez, mãe do autor, quando muito jovem. O romance real também enfrentou a oposição do pai de Luiza, coronel Nicolas, que tentou impedir o casamento enviando a filha ao interior da Colômbia para uma viagem de um ano.

Considerado pelo consagrado autor colombiano como sua melhor obra, Amor nos tempos do cólera conta a história do romance entre Florentino e Fermina, amantes na Colômbia do século 19. Impedidos de ficar juntos na juventude pelo pai da moça, o casal vive um amor a distância que dura mais mais de 50 anos , até que os dois se reencontram na velhice.

O símbolo perdido (The Lost Symbol, 2009)Dan Brown


Ambientado em torno da maçonaria nos Estados Unidos, a história deixa de lado os conflitos com a igreja católica trazidos nos dois sucessos anteriores do autor: Anjos e Demônios (2000) e o polêmico O Código da Vinci (2003). Houve um plano de adaptação cinematográfica da obra, que foi abandonado pela produtora. Optou-se por focar a produção do filme do último livro de Brown, Inferno (2013).

Esse é o quinto bestseller do autor estadunidense Dan Brown. Em seu primeiro dia de vendas, o livro vendeu 1 milhão de cópias nos EUA, no Reino Unido e no Canadá. A trama narra a terceira aventura do simbologista Robert Langdon, o mais famoso personagem do autor.

Fisiologia do exercício – Nutrição, Energia e Desempenho Humano (Exercice Physiology, 1981 – 1ª versão) William D. Mcardle


Seu autor, William D. Mcardle, é professor emérito ddepartamento de família, nutrição e saúde do exercício da Queens College of the City University of New York, nos Estados Unidos.

O livro se propõem a ser uma fonte de conhecimento para estudantes e instrutores da área de educação física.Atualmente em sua sétima edição, o livro traz princípios científicos, entrevistas e pesquisas relacionadas aos diversos aspectos que compõem o tema.


Fonte: http://www.revistaeducacao.com.br

“ESCOLA SEM PARTIDO PRECISA SER DISCUTIDO EM SALA DE AULA”

Pais, professores e cidadãos acabam embarcando nas ideias do programa “Escola sem Partido” porque a sociedade brasileira não tem o costume de debater questões ligadas à pluralidade de pensamento nos espaços públicos e nas escolas. Essa é a opinião da coordenadora técnica do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação (Cenpec), Maria Amabile Mansutti.
Segundo Maria Amabile, o “Escola sem Partido” representa retrocesso e causa confusão ao colocar no mesmo patamar a educação na escola com aquela que é oferecida pelos pais no âmbito privado. “O programa vai na contramão de tudo que já conseguimos na perspectiva de uma escola democrática, porque ele defende justamente o que prega não fazer: uma ideologia”, afirma.
Para combater a desinformação a respeito do tema, a coordenadora destaca a responsabilidade dos espaços públicos de discussão – principalmente escolas –  no debate com a população. Isso seria importante porque a implementação do projeto afeta diretamente o funcionamento das instituições de ensino e a formação futura dos cidadãos.
Algumas entidades, como o Ministério Público Federal (MPF), já se posicionaram sobre o assunto e prestaram esclarecimentos sobre seus pontos de vista. Por meio de uma nota técnica enviada ao Congresso Federal, o MPF disse que o projeto é contrário à Constituição por impedir a pluralidade de ideias e eliminar a autonomia didática e pedagógica do professor.
Maria Amabile acredita que o posicionamento do MPF ajudará educadores que se sentem acuados por criticar o programa, além de alimentar o debate e esclarecer, tanto para a comunidade em geral quanto para os educadores, porque o projeto não pode ser considerado uma alternativa para a educação brasileira.
Além do MPF, a Advocacia-Geral da União (AGU) também se posicionou contra o projeto de lei. Aos órgãos federais somam-se movimentos de educadores e especialistas na luta contra a implementação do programa. Esses representantes temem que a medida crie uma forma de censura nas salas de aula.

UNIVERSIDADES BRASILEIRAS NÃO ESTÃO “FORMANDO” PROFESSORES

Especialista e Referência nacional, Bernardete Gatti discorre sobre os rumos da formação docente no Brasil.

Especialista Bernardete Angelina Gatti 
Qualquer discussão sobre formação docente no Brasil que não passe pelo nome de Bernardete Angelina Gatti sairá, de cara, empobrecida pela ausência do olhar – e de tantas pesquisas e interlocuções – de uma das intelectuais mais ativas do país neste tema nas últimas décadas. Pode-se até discordar dela, mas não prescindir de seus pontos de vista.
Atual diretora vice-presidente da Fundação Carlos Chagas, onde orienta o setor de pesquisas, e membro do Conselho Estadual de Educação (São Paulo), esta professora graduada em pedagogia pela Universidade de São Paulo e doutora em psicologia pela Universidade Paris 7, sob orientação de Paul Arbousse-Bastide, um dos docentes franceses que ajudaram a fundar a USP, Bernardete é categórica em suas afirmações.
Acredita, sobretudo, no trabalho coletivo das escolas e nas ações integradas entre estas e as universidades, desde que haja disposição mútua para interlocução. E que as inovações verdadeiramente significativas vêm e virão dessas interlocuções.
Para saber qual formação de professores queremos, não deveríamos antes saber para que educar e qual educação queremos?
Não tenho dúvida disso. Sem uma ideia projetiva da educação básica, discutir a formação de professores fica em cima de pressupostos, ou de alguns conhecimentos objetivos da formação dada atualmente, e daquilo que vem sendo colocado, de modo desarticulado, por vários segmentos da sociedade. Não reconhecemos e nem sempre percebemos como se manifestam os múltiplos olhares e discursos sobre a formação de professores e as demandas da escola. Em geral, ficamos nas grandes dicotomias, mas hoje a sociedade é muito mais heterogênea. Há variadas formas de requisitos para a educação e segmentos sociais que pensam de modo muito divergente.
Poderia dar exemplos?
Há segmentos que acham que a formação acadêmica, na educação básica, deveria centrar-se em dar ao aluno o necessário para trabalhar com conhecimentos científicos, matemáticos, com as questões da vida, da biologia. Defendem uma formação genérica, o que não quer dizer leve. Lembrando, em relação à discussão do currículo, que já tivemos em nossa história, nos anos 80, uma formação mais genérica, com um núcleo duro de disciplinas, mas com flexibilidade para preencher parte desse currículo com questões locais e regionais. Não foi adiante, pois a discussão não se resolveu. Há outros segmentos que defendem que a educação básica deveria ser eminentemente pragmática, ou seja, dar apenas aqueles instrumentos para a vida cotidiana, basicamente língua portuguesa e matemática útil – que trabalhe com aplicações, não a matemática acadêmica ou para formar o pensamento, a lógica. E outros que demandam uma revolução na formação, iniciando-se até mesmo na pré-escola, trazendo os dilemas de ponta do conhecimento para formação tanto de crianças como de jovens e adolescentes. E há outras. Por enquanto, o que está mais em pauta é a ideia de dar uma formação mais genérica, básica, culminando com uma formação mais literária e científica no ensino médio. Tem também outra posição, que propugna que haja um currículo diversificado a partir do ensino fundamental 2. Ou seja, os alunos que têm preferência por formação humanista teriam um currículo diversificado, diferente daqueles que mostram interesse por uma formação mais das ciências exatas, ou de tecnologias. Muitos acham que essa flexibilização deveria começar no 8º ou 9º anos, porque aí o adolescente já começa a manifestar suas motivações e preferências cognitivas.
Qual o melhor caminho?
Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Pensei que, com a discussão da Base Nacional Comum, fôssemos chegar a um ponto de consenso, mas essas questões dos diferenciais não foram levantadas. Estamos sempre trabalhando em cima de um modelo já culturalmente incorporado às representações de certas lideranças, e não conseguimos sair disso para ver o conjunto de demandas e concepções presentes para achar um caminho intermediário. As discussões se polarizaram demais.
A Base chega meio atropelada?
Chega sem trazer um pensamento renovador. Precisaríamos pensar a estrutura curricular da educação básica de maneira mais criativa, nos liberando um pouco desses arcanos que existem na cultura desde o século 19. A proposta da educação infantil me parece que supera algumas concepções arraigadas sobre o trabalho com a criança. Mas não vejo isso nos outros segmentos, em que ficamos numa discussão de conteúdos disciplinares específicos. Esse pode ser um ponto de partida, mas não de chegada. Para avançar, seria preciso que grupos diferenciados entrem em um debate mais ampliado, vendo os modelos que daí surgiriam, e trabalhando sobre eles.
Como vê a formação oferecida pe­las universidades públicas pa­ra a docência?
De modo geral, nem as públicas nem as privadas estão realmente formando professores. A crítica às universidades públicas é que elas não faziam uma associação adequada entre as teorizações e as práticas, que é um movimento de interdisciplinaridade, difícil, inclusive para os professores doutores que estão nessas universidades, pois a formação deles é disciplinar, e não interdisciplinar. Como de certa maneira abandonamos os estudos de didática e das práticas de ensino com teorizações adequadas e fortes, eles também não têm onde se apoiar. No Brasil, deixamos de lado essas questões, confundindo didáticas e práticas de ensino com tecnicismo, confusão que estamos começando a desfazer. Não tenho dúvida de que as universidades públicas formam um corpo discente um pouco melhor, pois já trabalham com um grupo selecionado, estudantes que vêm para a universidade com vontade de estudar. E têm um currículo acadêmico bem mais forte. Então, saem com uma formação acadêmica melhor, mas não com uma formação para ser professor.
Como vê as licenciaturas com modelo de formação interdisciplinar, tal como a Faculdade do Sesi/SP está propondo? Não há o risco de faltar a base disciplinar?
A ideia, nesse caso, é partir do problema complexo que emergirá da associação dos conteúdos das disciplinas com os conteúdos da pedagogia, para recuperar o que é da disciplina. É um caminho inverso. Dou um exemplo na formação da medicina. Muitas faculdades hoje têm a base propedêutica que tínhamos e temos em muitos cursos. Ou seja, você tem anatomia, fisiologia, todas essas disciplinas de base, mas que agora já partem para analisar situações-problema. Com esses estudos de caso, o aluno tem de recorrer ao conhecimento disciplinar, mas já com uma visão interdisciplinar. E funciona. A Universidade Harvard, por exemplo, está com uma proposta nessa linha, mas não é a única, pois antes Oxford, na Inglaterra, e outras já fizeram isso. Aqui mesmo já tivemos experiências em Marília e outros lugares com esse tipo de formação. Isso exige que os professores formadores já tenham feito seu caminho disciplinar e interdisciplinar. E não de uma área, mas de duas ou três. Se você vai lecionar história da educação, tem de ter conhecimento da historiografia, da antropologia, da sociologia e trazer essa visão interdisciplinar para a história da educação. Se não, fica ali no fato histórico. Os grandes historiadores dão um salto, porque têm uma cultura interdisciplinar ampliada. Ao professor se poderia dar essa cultura interdisciplinar ampliada. Poderíamos ter cursos que formam a partir de situações-problema. Quando a resolução no 2 de 2015 do Conselho Nacional de Educação propõe que o aluno comece o estágio logo no primeiro ano, não é para ele dar aula, e sim para que possa ver a escola e problematizar a sua realidade, saber o que é ser um profissional professor, de forma concreta. Com isso, pode-se construir um currículo bem diferenciado.
Temos exemplos?
Vi alguns currículos muito interessantes aqui no Estado de São Paulo, houve renovações muito grandes em áreas disciplinares aqui na USP como, por exemplo, filosofia, matemática, física, até na ECA (Escola de Comunicações e Artes), propostas para formar professores de modo diferente. Mas ainda são casos isolados. Na Unicamp, tem um belíssimo programa de licenciatura de física e química, bem feito, bem pensado. Você pode pensar em formações polivantes de diferentes naturezas. A proposta do Sesi caminha nessa direção, mas o projeto ainda não nos dá a ideia do que vai ser o currículo concreto, pois ainda é um projeto em construção.
E na América Latina?
Vi uma abordagem interessante em Buenos Aires. Há um horário das disciplinas-base – antropologia, história da educação, sociologia – só que tem um momento disciplinar, com muitas horas, em que esses professores trabalham com os alunos na observação de escolas e comunidades. Os alunos trazem suas observações e os professores fazem interpretações à luz da sua disciplina sobre aquela situação. E formam um consenso multidisciplinar complexo sobre ela. Os alunos vão aprendendo a olhar as realidades escolares, usando conhecimentos disciplinares, mas com um olhar integrado. Só que isso exige do professor uma dedicação muito grande, pois tem de trabalhar com os outros. E isso é feito nos quatro eixos de formação para o professor. Nas universidades públicas, não seria difícil termos projetos inovadores, pois muitos docentes são contratados em regime de dedicação exclusiva; poderia haver uma presença maior, mais integrada, nas atividades de ensino. Já nas particulares, isso é bem mais difícil, pois veriam isso como custo. Mas não é impossível.
E a proposta do conselheiro do CNE César Callegari de fazer com que todas as faculdades de pedagogia, públicas ou privadas, tenham uma escola, de sua propriedade ou associada?
Não acredito nisso. Essa escola vai ser tão diferente da rede que não servirá de inserção real do professor. Já vivemos isso, com os colégios de aplicação. Defendo que uma faculdade ou universidades que têm licenciaturas deveriam ter convênio com um conjunto de escolas em várias partes do estado ou da cidade, de tal maneira que seus alunos possam percorrer realidades diferentes. É muito diferente estar numa escola pública, mesmo que atenda uma população mais ou menos da mesma natureza, no centro de São Paulo ou em Itaquera. Há culturas diferenciadas de quem está aqui e de quem está lá, inclusive das famílias. Prefiro convênios com as redes públicas que organizassem o estágio e em que se pudesse atuar nas escolas com um projeto compartilhado com elas. No caso dos colégios de aplicação, às vezes a faculdade manda no colégio, aí ele se torna uma exceção da exceção da exceção, começa a selecionar os alunos.
Como definir um currículo nacional de formação docente?
A resolução no 2 de 2015 dispõe sobre isso, está lá a Base Nacional Comum de Formação de Professores. Não está definido nos detalhes, mas estão definidos os conhecimentos importantes que um professor deve ter. Pela legislação, é de alçada do CNE definir as diretrizes nacionais de educação, elas são mandatórias. Todos os estados, municípios, instituições públicas e privadas têm de se alinhar. E aí está a inteligência que vejo nas novas diretrizes, embora sejam um pouco cheias de detalhes argumentativos, mas na essência trazem a possibilidade de ser criativo e, ao mesmo tempo, ter uma diretriz clara. Isso é uma qualidade da resolução. Tomara que as instituições tenham competência e vontade política para mudar a formação de professores. O CNE lançou as bases, todas as instituições terão de começar a adaptação a partir do 2o semestre de 2017. Sei que há mobilizações, pois tenho sido convidada para um monte de coisas, mas não sei se todas o farão. Pela resolução, a formação tem de ser feita em pelo menos 4 anos e 8 semestres, não sei como as particulares vão se adaptar a isso. Uma verdadeira transformação nessa formação só viria se houvesse uma integração entre todas as licenciaturas, num centro de formação de professores, num lócus em que as faculdades de educação, de física e química contribuíssem para formar um profissional professor. É uma coisa que discuto há muitos anos: por que existe uma faculdade de medicina, de engenharia e não existe uma faculdade de formação de professores?
E aí juntaríamos os conhecimentos disciplinares com as ciências da educação…
Isso, não é para dissolver faculdades de educação ou o instituto de base que contribui, mas para juntar e, ao fazer isso, teria de haver uma coordenação vivaz que permitisse a interlocução entre eles e a geração de projetos formativos diferenciados. Como a Base Comum, que é você ter uma cultura ampliada nos fundamentos da educação e uma formação bem assentada em didáticas e práticas de ensino. Se essas competências que estão distribuídas fossem condensadas, teríamos a possibilidade de construir a interdisciplinaridade a partir da disciplinaridade, mas propondo um currículo que renovasse a formação. Isso leva tempo? Sim, mas se começarmos já, teremos o tempo de fazê-la.
Não é preocupante o nível de desistência de jovens docentes em início de carreira?
Dos poucos dados existentes sobre isso, não dá para falar que a maioria desiste. Há grande procura pelos cursos de pedagogia. Claro que muita gente que busca esses cursos não quer ser professor e o curso tem seus problemas para formar alfabetizadores. O que nós não temos é procura para disciplinas como história, geografia, ciências sociais. Há poucos cursos para o tamanho do Brasil. Os gaps são nessas áreas. Agora falando em gestão de educação no nível dos estados e municípios, os professores iniciantes não recebem apoio suficiente para que se sintam com um referencial na rede, apoiados através de material, orientação, suporte, eles é que têm de procurar os colegas para se orientar. Se há um coordenador pedagógico sensível a isso na escola, procura dar esse apoio, essa formação. Mas a desistência não é alta, e vou dizer por quê: os licenciandos que procuram trabalhar como professores provêm de camadas sociais menos favorecidas. O salário de um professor é um diferencial para eles. Não é para a classe média, média alta, mas sim para essa camada ascendente. Ele fica na carreira, pois sabe que dali a cinco anos tem X% de aumento, tem estabilidade. Mesmo nas licenciaturas mais sofisticadas, como física, química, matemática, eles têm um nível socioeconômico menor do que os que procuram outros cursos, é um salto social.
E como anda a formação dos coordenadores pedagógicos? Modernizou-se nos últimos anos?
Teoricamente, sim, pois temos bons autores e boas pesquisas sobre a coordenação pedagógica. Na prática, há muitos problemas. Primeiro porque, se você define que o coordenador pedagógico deva ser aquele que vem da pedagogia, o curso não sabe bem o que forma. O diálogo desse formado com pessoas da história, da matemática, da geografia, mesmo tendo feito alguma especialização em coordenação pedagógica, não é fácil, justamente porque ele não tem uma formação interdisciplinar que lhe permita um diálogo fecundo. Não se sustenta o discurso de que “ah, ele pode ver o aspecto pedagógico”. Não há aspecto pedagógico independente de conteú­do, da linguagem daquela área. São linguagens específicas e, se ele tem dificuldade, não é bem recebido. Em outros sistemas, o coordenador pedagógico pode vir de qualquer área – um professor de matemática ou de história que se candidata ao cargo. Em geral, recebe uma formação continuada para isso. Nesses casos, são muito poucos os professores de outras áreas que se candidatam a ser coordenadores pedagógicos. É mais comum que se candidatem a ser coordenadores de área – ciências, matemática, ciências humanas etc. – nas redes onde isso existe. Nas poucas pesquisas que tenho lido sobre esse tipo de coordenação, ela funciona bem. Não temos ainda uma opção clara de que tipo de coordenação pedagógica queremos ter nas escolas. Defendo que deveria haver um curso de pós-graduação, um mestrado profissional voltado à formação de coordenadores pedagógicos. Aí poderia vir de qualquer área, mas teria uma formação psicopedagógica forte, didática, interligada a diferentes conteúdos, linguagens e lógicas. Essa é a formação que precisaríamos ter, mas para isso precisaríamos de uma indução, em nível federal ou esta­dual, o que demanda financiamento.
Hoje, fala-se muito em metodologias ativas de ensino, como instrução por pares, estudo de caso etc. O que é propriamente novo e o que tem mais potencial de estimular o aluno?
Pois é, há muita novidade que não é novidade, e muita novidade que não funciona na escola. A sala de aula invertida, por exemplo, só pode ser fecundamente utilizada após um tempo de aculturação da criança na vida escolar. Porque ela vem de uma vida familiar, ou comunitária, ou de rua, um tanto indisciplinada, solta, e a vida escolar exige concentração e atenção.
Seria mais para o ensino médio…
Sim, e mesmo assim você teria de ter tanto recurso… A nossa população ainda não tem uma situação socioeconômica e cultural equitativa, somos muito desiguais, a maioria não conta com recursos culturais acessíveis, por mais que use celular. Nos entusiasmamos com coisas que às vezes não têm muita objetividade. Então, desconfio de alguns modismos. São coisas muito deste momento da sociedade contemporânea, da imagem, do novo, ou de travestir de novo algo que não é efetivamente novo.
Mas de todas essas coisas, você destacaria algo que tem mostrado bons resultados?
Vi, por exemplo, de estudos de caso de escolas públicas de Chicago, de escolas públicas na França e na Itália que o que funciona mesmo é uma equipe escolar mais fixa, mais perene, que compartilha um período maior dentro da escola. Nos EUA há vários estudos de caso que mostram isso. Esse compartilhamento deve ter um sistema de apoio bem desenvolvido – não de imposição, de apoio –, com material pedagógico, possibilidades. E deixar a comunidade ser criativa. A inovação em geral é produzida em pesquisas que a universidade faz e propõe. Por exemplo, tivemos o Pibid. Não foi tudo, mas a maioria dos projetos trouxe inovações importantes, em termos de construção e teste de material didático, de organização de feiras de ciências com novos modelos. Quando você dá condições e põe interlocutores qualificados, há criatividade nesse universo. A chave é criar condições para compartilhamentos efetivos, no caso da escola com equipes fixas, e no caso da universidade, de os professores conversarem, manterem uma interlocução constante – para definir currículo, quem vai trabalhar com o quê. Tem professor que nem sabe o currículo de formação docente da sua escola. Vai lá e apenas dá a sua aula.

Como funciona o bem-sucedido ensino técnico da Alemanha

'Sistema dual alemão, baseado em parceria com as empresas, exige boa formação tanto dos docentes de aulas teóricas como dos instrutores práticos'

Um dos países em que o ensino profissionalizante é, reconhecidamente, dos mais bem estruturados no mundo, a Alemanha não oferece um caminho fácil para quem quer se tornar docente na modalidade. Porém, aqueles que conseguiram trilhá-lo e chegar à docência na educação profissional dizem que o esforço vale a pena, corroborando a cultura germânica da recompensa à dedicação.
Isso acontece porque a etapa é a grande vedete da educação alemã. O sistema dual, onde estudam 90% dos alunos da educação profissionalizante, é uma referência de qualidade para outros países, sejam do 1o ou do 3o mundo, pois consegue formar alunos de bom nível de instrução tanto no que tange à cidadania, como também no que diz respeito a seus atributos para o mercado de trabalho. Talvez em especial nesse segundo quesito.
Para se ter uma ideia da potência da modalidade, 54% da força de trabalho de todo o país vem do ensino profissionalizante. Segundo o Departamento Federal de Estatísticas da Alemanha (Destatis), 2,5 milhões de alunos cursam atualmente a modalidade. Além disso, não apenas o Estado mas também as empresas têm um papel decisivo na formação do docente, o que coloca a profissão no centro de um sistema educacional organizado para ser a grande base de desenvolvimento econômico da Alemanha, num modelo com bons níveis de integração.
E, sim, as empresas têm voz e influência até mesmo nos currículos de formação docente. Para entender as motivações desse processo, é preciso antes conhecer o perfil do docente do ensino profissionalizante alemão. A docência do ensino técnico no país está dividida, basicamente, em duas figuras: o professor e o instrutor.
O primeiro é responsável pelas aulas teóricas, seja de disciplinas gerais, como alemão e inglês, ou específicas da área técnica. Já o instrutor é responsável pela parte prática. Só que esse tipo de docente não ensina na escola e não é contratado pelo Estado. Ele é um profissional de uma empresa privada.
No sistema dual, os alunos passam apenas entre um e dois dias na escola, aprendendo teoria com professores. No restante da semana, recebem treinamento prático em uma empresa, a título de estagiário remunerado. Ou seja, o instrutor é a figura responsável por ensinar, acompanhar e avaliar o aprendizado e desempenho do estudante durante a maior parte do seu curso no ensino técnico.
► Empresas em parceira com o Estado

A principal diferença do ensino técnico alemão em relação ao resto do mundo é a participação e influência das empresas em todos os passos da formação de um aluno dessa etapa do ensino.
Se hoje o ensino técnico é o grande motor da economia alemã, foi há mais de 40 anos que as mudanças começaram. Mais precisamente em 1970, com a fundação do Instituto Federal de Formação Profissional (Bibb).
O órgão, subordinado ao Ministério da Educação e Pesquisa, é composto por membros de associações patronais, sindicatos de trabalhadores e representantes do Estado. Em conjunto eles definem e atualizam currículos, elaboram regulamentos e garantem que o aluno está recebendo a educação certa para entrar no mercado de trabalho e ser o tipo de profissional de que o mercado precisa.
As atualizações de currículo costumam acontecer a cada 5 anos. Caso um currículo seja considerado defasado por alguma empresa, ela pode pedir no Bibb uma mudança. “Essa petição é discutida com todos os membros da área. Quando se chega a um consenso, as mudanças são feitas sem perder tempo”, explica Diana Cáceres-Reebs, diretora do Bibb.
Por esses motivos não há lei que exija a participação das empresas no sistema dual. Todas as 447 mil que fazem parte são voluntárias. Elas são responsáveis por 564 mil vagas preenchidas e arcam com todas as despesas do aprendiz, que recebe em média 800 euros (R$ 3.200) por mês para aprender enquanto trabalha.
► Tornando-se um professor

Qualquer pessoa que quiser se tornar-se professor do ensino técnico alemão precisa ter um diploma universitário. Há uma pequena exceção, para os chamados “professores práticos”, que dão aulas-suporte específicas na escola a alunos que precisam de reforço. Ainda assim, esse profissional, que é uma minoria no cenário, precisa ter se formado em uma escola técnica, deve ter experiência de vários anos na profissão, passar por um exame de competência e frequentar um curso sobre pedagogia antes de poder ter acesso à sala de aula.
Para a maioria, o caminho é composto por três fases. A primeira envolve o curso universitário, no qual o futuro professor precisa atender disciplinas correspondentes à área que pretende seguir. Mas para escolher a área que deseja é necessário, além do certificado que permite a entrada na universidade, ter experiência ou treinamento comprovado na área. Assim, essa medida faz com que o perfil dos professores de ensino técnico na Alemanha seja de ex-alunos do sistema dual que resolveram seguir a carreira docente.
Além das aulas da área principal, o universitário também precisa frequentar aulas de psicologia e pedagogia. Algumas áreas de estudo e estados do país também exigem que tenha uma experiência prática, dando aulas.
Todo esse período costuma durar entre quatro e cinco anos e é concluído somente após o estudante passar por um exame organizado pelo Estado, que avalia o nível de aprendizagem.
A segunda fase é um estágio probatório, conhecido como Referendariat, no qual o novo professor acompanha as aulas de outros professores, ensina com a companhia de um veterano e, no final, dá aulas sozinho em escolas designadas. Essa fase dura entre um e dois anos e só é concluída quando o professor passa por um segundo exame organizado pelo Estado.
A terceira e última fase dura até o final da carreira do professor e consiste em garantir que o docente receba formação continuada enquanto estiver exercendo a profissão.
Cada um dos Länder, a versão alemã dos estados, é responsável pela formação continuada de seu corpo docente e as regras e objetivos são expressos por lei. Ou seja, a atualização de um professor de ensino técnico na Alemanha não é somente incentivada, como também obrigatória. Só que, em contrapartida, o Estado é obrigado a assegurar a oferta de capacitação.
Os cursos dessa fase da formação acontecem em institutos estabelecidos pelos estados, porém subordinados ao Ministério da Educação. As escolas também precisam organizar eventos. Há grupos de estudo, seminários, colóquios e cursos de formação a distância, em geral com conteú­dos que abordam novas tecnologias, atualização pedagógica e mudança de currículos.
► Formação do instrutor

No caso da formação do instrutor não há exceção de ordem alguma. Todos são obrigados a ter diploma universitário. Mas, dependendo do tamanho da empresa responsável pela contratação do estudante, esse profissional pode ter mais de uma função.
Em empresas pequenas, que contam com poucos estagiários, geralmente há um profissional que adquire também a função de instrutor. Já em grandes empresas, há departamentos e profissionais específicos que são responsáveis somente pelo treinamento.
Só que, seja primeira ou segunda função do profissional, o caminho para ser instrutor também é bastante restrito. Conforme o Ato de Educação Vocacionada e Treinamento, uma lei federal, instrutores precisam ser considerados competentes na área em que atuam e na capacidade de ensinar.
E para que essa qualificação seja atestada, é necessário ser aprovado em um exame que avalia tanto a competência específica, formal, na área quanto o conhecimento de teorias educacionais. Como muitos instrutores começam atuan­do em outra função, é comum as próprias empresas pagarem pelo treinamento para que eles passem a dominar os conteúdos voltados ao ensino.
Já a formação continuada não é uma obrigação prevista em lei para os instrutores. Porém, como eles estão diretamente ligados ao mercado, onde sempre há grande demanda por inovação, a atualização acaba se tornando inerente ao ofício, especialmente quando trabalham nas grandes empresas, que costumam organizar cursos nos próprios departamentos.
► Treinamento de qualidade

E para os que pensam que dessa maneira os alunos do ensino técnico alemão podem ficar relegados a maior parte do tempo a um docente sem tempo para ensinar com competência, ou que empresas aproveitam a brecha e acabam colocando jovens estagiários no lugar de profissionais com mais tempo de estrada, a diretora de projetos de cooperação do Instituto Federal de Formação Profissional (Bibb, em alemão)Diana Cáceres-Reebs garante que essas possibilidades não estão no horizonte da educação germânica.
De acordo com a diretora, há vários motivos que sustentam o interesse das empresas em fornecer o melhor treinamento possível (leia texto na pág. 45), mas a supervisão formal é feita pelas Câmaras de Indústria e Comércio (IHK, na sigla em alemão). Essas câmaras são responsáveis por monitorar a qualidade do treinamento nas empresas, seguindo as diretrizes do Treinamento para Aptidão do Treinador.
Diana Cáceres-Reebs ressalta ainda um ponto que acredita estar entre as chaves para que o sistema dual alemão tenha há tanto tempo o êxito que vem tendo. “Competência na Alemanha é vista como uma ação integral que se refere à capacidade e vontade de todos em comportar-se de forma atenciosa e socialmente responsável”, explica. Ou seja, trata-se de uma engrenagem que, para funcionar, precisa assegurar-se de que todas as peças que a compõem estarão devidamente preparadas para desempenhar sua parte.
Tranquilidade para lecionar

Benjamin Döhler é um professor do sistema dual da Alemanha. Formado em economia, foi aluno do próprio sistema e trabalhou em um banco enquanto era aprendiz. Atualmente ele dá aulas de negócios e inglês na FLB na cidade de Bonn, antiga capital do país, posto que ocupou até a reunificação das duas Alemanhas.
A escola tem 2.700 alunos e Benjamin ministra oito aulas por semana, em classes que têm entre 20 e 25 alunos. Suas horas-aula, assim como as da maioria dos outros professores, não ultrapassam 20 horas semanais. O restante é para organizar conteúdos e outras atividades.
O professor está bastante satisfeito com a carreira. Sempre mesclando tranquilidade e animação em sua fala, ele afirma que o salário é bom e que não vê motivos para um segundo emprego. “Na realidade, acho que aqui se quisermos um segundo emprego precisamos pedir autorização do governo. Mas não lembro de nenhum colega que tenha ou queira isso”, comenta.
Suas aulas são sempre baseadas no que os alunos podem encontrar no ambiente de trabalho, para tentar tornar a teoria mais atraente, algo nem sempre tentador para alunos do ensino técnico.
Para Benjamin, é exatamente o fato de oferecer ao aluno a possibilidade de teorizar na escola sobre aquilo que coloca em prática em suas imersões no trabalho que faz do dual um sistema único. “Gostava muito disso quando era estudante. Por exemplo, se aprendia sobre os detalhes dos cheques em um dia, no seguinte os estava processando no banco. É isso que faz a diferença”, conclui.
► Um sistema diferente

Diferentemente do que ocorre no Brasil, na Alemanha nem todos os caminhos do ensino secundário permitem aos alunos o ingresso posterior em universidades. Com pequenas variações entre os 16 estados, cujos sistemas educacionais são autônomos, as crianças ingressam em um dos três tipos de escola do secundário por volta dos 12 anos. Para a definição de que escola frequentará, o aluno depende de seu desempenho no ensino fundamental e de uma avaliação conjunta entre família e educadores.
Nas Hauptschulen, porta de entrada para o futuro ingresso no ensino profissionalizante, os alunos recebem uma formação mais geral, durante um período de cinco a seis anos; nas Realschulen, que não existem em todos os estados, essa formação básica é mais sofisticada, dando acesso a cursos tecnológicos ou a centros universitários; finalmente, nos Gymnasien, o aluno permanece por mais anos, ao final dos quais pode ter acesso às universidades, sendo que aqueles que têm melhor histórico escolar conseguem frequentar as melhores escolas.

Fonte: http://www.revistaeducacao.com.br

domingo, 7 de agosto de 2016

De tempos em tempos a plutocracia brasileira tenta um golpe

''O Brasil é palco de uma disputa entre o sonho de um país para a maioria e o uma elite da rapina que quer drenar as riquezas do país para o bolso de meia dúzia.''

A plutocracia brasileira (os 71.440 mil milhardários segundo o IPEA) possui pouca fantasia. Usa os mesmos métodos, a mesma linguagem, o mesmo recurso farisaico do moralismo e do combate à corrupção para ocultar a própria corrupção e dar um golpe na democracia e assim salvaguardar seus privilégios. Sempre que emerge uma democracia com abertura ao social se enchem de medo. Organizam um conluio de forças que envolve setores da política, do judiciário, do MPF, da PF e principalmente da imprensa conservadora e até reacionária como é o caso do conglomerado de O Globo. Assim fizeram com Vargas, com Jango e agora com Lula-Dilma. A sessão de 04/08/ no Senado, mostrou a farsa montada pela oligarquia que usou os senadores como os soldados civis previamente bem instruídos, para aplicar um funesto golpe contra a razão sensata e contra democracia.

Numa entrevista à Folha de São Paulo (24/04/2016) escreveu acertamente Jessé Souza, autor de um livro que merece ser lido, também com certa crítica, “A tolice da inteligência brasileira”(Leya 2015):”Nossa elite do dinheiro nunca sentiu compromisso com os destinos do país. O Brasil é palco de uma disputa entre esses dois projetos: o sonho de um país grande e pujante para a maioria; e a realidade de uma elite da rapina que quer drenar o trabalho de todos e saquear as riquezas do país para o bolso de meia dúzia. A elite do dinheiro manda pelo simples fato de poder “comprar” todas as outras elites”(Quem deu o golpe e contra quem).

No atual processo de impeachment à Presidenta Dilma contam com um aliado poderoso: o complexo jurídico-policial do Estado que substitui as baionetas. O vice Presidente usurpou o título de Presidente e montou um ministério de pantomima com vários ministros corruptos e reduzindo os ministérios, da cultura, da comunicação e da secretaria dos direitos humanos, dos negros e das mulheres, cortando de forma criminosa verbas da saúde, da educação, atacando os direitos dos trabalhadores, o salário mínimo, a legislação trabalhista, as aposentadorias e outros benefícios sociais, inaugurados pelos dois mandatos anteriores.

Por trás do golpe parlamentar estão estas forças citadas por Jessé Souza. Bem disse o Papa Francisco à Letícia Sabatella quando junto com uma famosa jurista teve, há dois meses, um encontro com o Papa em Roma, relatando a ameaça que corre a democracia brasileira. O Papa comentou:”esse golpe vem dos capitalistas”.

O fato é que estamos todos cansados de tanta corrupção, justamente denunciada e das delongas no processo do impeachment.

Ninguém sabe para onde estamos indo. Algo parece ficar claro que o design social, montado a partir do colonialismo e do escravagismo com as castas de endinheirados que se firmaram no poder seja na sociedade seja nos aparatos do Estado está chegando ao seu fim.

Em momentos de obscuridade como os atuais precisamos de uma grelha teórica mínima que nos traga luz e alguma esperança. Para mim serve como orientação Arnold Toynbee, o ultimo historiador inglês a escrever dez volumes sobre a história das civilizações. Para explicar o nascimento, o desenvolvimento, a maturação e a decadência de uma civilização usa uma chave extremamente simples mas esclarecedora:”o desafio e a resposta”(challenge and response).

Diz Toynbee: sempre há crises fundamentais no interior das civilizações. São desafios que exigem uma resposta. Se o desafio for maior do que a capacidade de resposta, a civilização entra num processo de colapso. Se a resposta é excessiva face ao desafio, surge a arrogância e o uso abusivo do poder. O ideal é encontrar uma equação de equilíbrio entre o desafio e a resposta de forma que a sociedade mantenha a sua coesão, enfrente positivamente novos desafios e prospere.

Voltando ao caso do Brasil: os grupos do dinheiro e do poder não conseguem dar uma resposta ao desafio que vem das bases que nos últimos anos cresceram enormemente em consciência e em reclamos de direitos. Eles, por mais que manipulem dados sabem que dificilmente voltarão ao poder central pela via da eleição. Daí a razão do golpe. Desmoralizados, não têm nada a oferecer ao novo Brasil que escapa de seu controle. Jânio de Freitas na FSP de 04/08 disse bem:” O impeachment é uma grande encenação. Uma hipocrisia política de dimensões gigantescas, que mantém o Brasil em regressão descomunal, com perdas só recompostas, se o forem, em muito tempo –as econômicas, porque as humanas, jamais”.

Apesar disso tudo, o legado da atual crise será provavelmente o surgimento de um outro tipo de Brasil, de democracia, de Estado, de formas de participação popular.

A dores do tempo presente não são as dores de um moribundo nas vascas da morte, mas as dores de um parto de um outro tipo de Brasil, mais democrático, mais participativo e mais sensível para superar a pior chaga que nos envergonha: a abissal desigualdade social. Um Brasil finalmente mais humano onde podemos ser singelamente felizes.

Leonardo Boff é articulista do JB on line e autor de “Depois de 500 anos que Brasil queremos”, Vozes 2000.