sábado, 15 de agosto de 2015

OS EXPLICADORES DO BRASIL.

Eduardo Hoornaert é um conhecido historiador da Igreja e da história do Brasil na perspectiva das vítimas. É belga e vive no Brasil praticamente toda a sua vida, trabalhando e pesquisando no Nordeste. Interessa-se especialmente pela cultura popular e por sua sabedoria. Publicamos aqui este texto que nos ajuda a refletir e nos tornar críticos face às pressões político-ideológicas dominantes no atual momento. LBoff

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No momento pipocam por toda parte explicações da situação atual no Brasil, principalmente na Internet, mas também na rádio, na TV e nos jornais. Enumero algumas:

– O Brasil está em crise. Nos grandes meios de comunicação, essa afirmação é hoje um postulado. Mas não se explica o que se entende por ‘crise’. Em 1939, quando eu tinha 9 anos, o país em que nasci estava em ‘crise’: as pessoas estocavam alimentos e todos sentiam que a guerra se aproximava. Isso era crise. Neste momento, no Brasil, os preços aumentam, o consumo diminui, mas será que isso é crise? O fato de alguns deixarem de viajar a Orlando com a família porque o dólar está alto é sinal de crise? É o que se diz na TV. Minha impressão é que os grandes meios de comunicação têm interesse em falar em ‘crise’.

– Vivemos numa democracia. O termo ‘democracia’ virou uma palavra sagrada, intocável. Mas o que dizer de um país de 200 milhões de habitantes, em cima dos quais os porta-vozes de uma só família, os filhos de um bem-sucedido jornalista do Rio de Janeiro que criou uma rede de meios de comunicação, pronunciam a cada dia oráculos que passam por verdades eternas, praticamente nunca contestadas? Isso é democracia? Há muitos outros exemplos que mostram que a palavra ‘democracia’ não corresponde ao que está efetivamente acontecendo.

– A economia é uma ciência. A indicação, pela presidenta Dilma, de Joaquim Levy como ministro da Economia, é interpretada por muitos como escolha de alguém formado em ‘ciência econômica’. Dá se a impressão que Levy domina uma ciência que o comum dos mortais não consegue entender, mas que deve ter seus segredos. Faz aproximadamente 250 anos, desde Adam Smith (1776), que os economistas procuram erguer suas ‘artes’ ao patamar de ciência. A história desmente essa pretensão e apresenta muitos casos em que a economia provou ser, não uma ciência, mas uma ‘arte de fazer’.

– O Brasil está dividido entre inteligentes e ignorantes. Essa é uma análise extremamente grosseira, mas hoje vejo que ela é adotada por quem se autoproclama ‘filósofo’, ‘analista político’, ‘jornalista qualificado’. No final do ano passado, os ignorantes colocaram Dilma no poder, mas ‘depois de ver como ela governa’, compreendem que os inteligentes têm razão. Daí os números extremamente baixos da popularidade da presidenta. Mas, como se sabe de que modo Dilma governa? Isso passa necessariamente pela mediação dos grandes meios de comunicação, e assim voltamos ao acima exposto acerca da concentração da comunicação pública no Brasil nas mãos de um número extremamente reduzido de pessoas.

– O ciclo PT passou. Alguém disse isso e muitos o repetem. A explicação tem uma aura de verdade inconteste que dispensa análise empírica. Como foi dito por uma pessoa inteligente, deve ser verdade. Se você duvidar, é petista ignorante.

– Lula é populista. Essa frase também tem ares de inteligência. Mas o que se entende por ‘populista’? Assisti recentemente a um programa na televisão, em que se disse que populista é quem simpatiza os governos ‘populistas’ de Venezuela, Bolívia e Ecuador (as repúblicas bolivarianas). Isso, disse o interlocutor, não tem futuro, pois esses governos não têm dinheiro. Melhor aliar-se aos Estados Unidos e à Europa, onde há dinheiro. Então entendi o que é populista: é o contrário de dinheirista.

– Temos de combater o terrorismo. Divulgado aos quatro ventos pelo presidente americano Bush na manhã do dia 11 de novembro de 2001 (data do ataque às torres gêmeas em Nova Iorque) depois de receber um telefonema de seu conselheiro Kissinger que falou em ‘war on terror’ (guerra contra o terror), o terrorismo é um dos termos que caracterizam as sociedades em que vivemos. A civilização está sendo ameaçada por terroristas, assim como no passado esteve ameaçada por comunistas. Mas, se um drone americano mata pessoas inocentes no Afeganistão, isso é terrorismo? Não, ninguém diz isso. Matar inocentes no Afeganistão é combater o terrorismo, assim como apoiar golpes militares na América Latina, nos anos 1960-70, era combater o comunismo. Dias passados, a Câmara Federal aprovou uma lei que de certa forma aplica ao Brasil o pacote antiterrorista fabricado nos Estados Unidos. Essa lei parte da ideia que o terrorismo pode estender seus tentáculos sobre o país, o que deve ser evitado a qualquer custo. Temos de ficar de sobreaviso, pois a conspiração terrorista pode eclodir onde menos se espera. Quem não concordar com ideias divulgadas pelos grandes meios de comunicação, por exemplo, é potencialmente ‘terrorista’.

A lista de frases que hoje pretendem explicar o Brasil não se esgota com esses poucos exemplos. Mas as que apresentei brevemente acima bastam para que enxerguemos a saída diante do poder avassalador dessas e de outras frases que costumamos ouvir diariamente nos grandes meios de comunicação. Penso que, mais que nunca, é preciso usar o cérebro. A coisa mais preciosa que a natureza pode nos oferecer é um cérebro que funcione bem, ou seja, que nos faça pensar de forma independente. O cultivo de uma inteligência independente constitui a tarefa mais importante da vida.

Como o cérebro está diretamente ligado aos órgãos de observação (visão, audição) e trabalha os dados provenientes desses órgãos, tudo depende da capacidade de elaborar corretamente o que nos vem por meio da observação. Quando assistimos à TV, por exemplo, o cérebro não fica totalmente passivo mas interage com as imagens e as palavras.

Diante do bombardeio diário de imagens e mensagens, um cérebro sadio se posiciona de forma independente. Isso se chama reflexão. Esse cérebro forma um ‘critério’, ou seja, um pensamento crítico acerca do que ouvimos e vimos na tela. O critério correto é resultado de uma luta permanente pelo domínio sobre nossa própria mente. Arriscamos ‘perder a cabeça’ quando não reagimos diante da maré montante de palavras e imagens diariamente despejadas sobre nós. Pois se trata realmente de uma maré, que ameaça inundar tudo, se não construímos um dique seguro para conter seu avanço. Esse dique é nossa inteligência. Se não preservamos nossa inteligência independente, corremos o perigo de virar um rebanho empurrado por um louco.

A marcha do dia 16 de agosto. Para terminar, umas palavras acerca da marcha do dia 16 de agosto, em grande parte preparada pelo movimento ‘Vem Pra Rua’ (VPR), que se articula de forma bem organizada por meio da Internet. Há quem pensa que essa marcha apresenta uma alternativa para o Brasil. Mas é preciso saber que o movimento VPR se articula em torno de um núcleo duro de apenas cinco pessoas, um verdadeiro ‘comando’ muito bem organizado, com disciplina e sem crítica interna (como acaba de revelar o Jornal ‘Valor’). Se alguma mensagem corre pela Internet que não esteja de acordo com o que esse núcleo decide, ela é eliminada do circuito organizado pela VPR.

Estamos diante de um movimento que não tem nada de novo, a não ser a técnica de comunicação e o charme de pessoas bem-sucedidas na vida, que têm entre 40 e 50 anos e participam do dito núcleo central u colaboram com ele. Esse núcleo duro decide atacar Dilma e Lula (talvez Renan Calheiros), mas não Eduardo Cunha. Você participa da marcha, grita palavras de ordem e pensa agir com liberdade, mas na realidade está enquadrado dentro de um movimento que ‘outros’ (Globo, Veja, etc.) já começaram a interpretar antes mesmo que aconteça a marcha do dia 16 de agosto. É essa interpretação ‘pré-fabricada’ que constitui a ração a ser digerida pelo grande público a partir do dia 16 de agosto.

Fonte: https://leonardoboff.wordpress.com

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

FACHIN: É PRECISO PRESERVAR AS INSTITUIÇÕES E DEMOCRACIA

Nesta quarta-feira (12), o ministro Luiz Edson Fachin, recém empossado no Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou que diante da atual crise política o país deve estar “acima de qualquer embate” entre os poderes da República. Segundo ele, é preciso preservar as instituições para assegurar a democracia.


Nelson Jr/STF
Luiz Fachin é ministro do Supremo Tribunal FederalLuiz Fachin é ministro do Supremo Tribunal Federal
“O que me parece muito importante neste momento, como, aliás, em todos, é colocar o Brasil acima de todo e qualquer embate que haja. Os interesses do Brasil são maiores que os interesses momentâneos de uma crise política que o país pode estar passando”, afirmou Fachin em entrevista após ser homenageado em um evento no Palácio do Itamaraty.

“É preciso preservar as instituições, preservar a democracia e estar disposto ao diálogo e à troca de ideias que levem em conta os interesses maiores do Brasil e não os interesses circunstanciais ou conjunturais. Este é grande desafio que se coloca para quem, de fato, quer apostar na estabilidade e não no caos”, acrescentou.

Para o ministro, dialogar significa “respeito ao dissenso” e não “adesão” de um poder ao outro. Ele também defendeu a necessidade de estabelecer uma “área comum de interesses” para assegurar estabilidade na economia, tranquilidade na sociedade e preservação das instituições democráticas.

Ao comentar a afirmação da presidenta Dilma Rousseff durante a cerimônia, de que é preciso respeitar a soberania das urnas, o ministro afirmou: “Do ponto de vista da democracia, a vontade popular é, evidentemente, determinante para a periodicidade da escolha dos nossos governantes e a vontade popular também expressa o gesto de soberania e preservação da democracia”.
 

EDUCAÇÃO INFANTIL: O DESAFIO DE ADEQUAR PRÁTICAS PEDAGÓGICAS

Quais são as melhores estratégias para construir práticas pedagógicas adequadas ao conhecimento do outro e do mundo social?

Creches e pré-escolas são, na maioria dos casos, o primeiro contato extrafamiliar da criança com o mundo e, por isso, apresentam oportunidades ímpares para o seu desenvolvimento em sociedade. A relação com novos adultos, o contato com pessoas de diferentes origens e interesses, as vivências em ambientes coletivos representam, por si sós, um laboratório de experiên­cias e aprendizagem sobre os aspectos sociais do mundo. Porém, quais os melhores caminhos para aproveitar esse potencial e construir práticas pedagógicas adequadas ao conhecimento do outro e do mundo social? Especialistas garantem que mesmo as escolas com abordagem mais didática e metodológica do conhecimento devem valer-se de atividades lúdicas e integradas, que provoquem a curiosidade da criança.

Beatriz Abuchaim, pesquisadora da Fundação Carlos Chagas (FCC), lembra que a criança apresenta uma curiosidade inata pelo ambiente que a circunda, incluindo os objetos, as pessoas e os elementos da natureza. Por isso, o professor deve observar seu comportamento, interesses e manifestações para, depois, propor experiências que contemplem a compreensão tanto de aspectos da natureza quanto da sociedade. "É fundamental que, nesse processo, as curiosidades e hipóteses das crianças sejam valorizadas, para que elas aprendam a desenvolver uma postura científica frente aos diversos objetos de conhecimento", destaca Beatriz.

Essa postura científica, nessa fase do desenvolvimento, deve ser traduzida por um questionamento, por parte das crianças, de suas próprias ideias e concepções sobre o mundo, e também pelo desejo de buscar novas informações. O professor é peça fundamental para estimular essa postura, por meio de observação permanente e escuta atenta. Uma simples atitude dos alunos pode transformar-se em um projeto pedagógico mais amplo e que abranja diversos aspectos de aprendizagem relativos ao mundo social.

Como exemplo, Beatriz conta que, durante uma pesquisa que realizava em sala de aula com crianças de 4 anos, um menino comentou que morava na favela. "A maioria dos alunos daquele grupo vivia em bairros mais urbanizados e alguns riram do colega. Em vez de repreender os que riram, a professora resolveu trabalhar o que eles entendiam por favela", conta. Assim, passou a registrar as ideias das crianças sobre o que é a favela. Aquelas que moravam em bairros mais urbanizados deram definições negativas, como: "onde dá tiro", "tem bandido" e "matam crianças". Depois, foi a vez dos que moravam na favela falar sobre o que achavam de seu mundo: "amigos"; "pes­soas boas, trabalhadoras"; e "pessoas normais, que não são traficantes".

À medida que novas ideias eram lançadas, as crianças ficavam cada vez mais sérias e compenetradas. Mais tarde, em conversa particular, a professora contou a Beatriz que pretendia continuar a trabalhar o assunto em sala de aula, elaborando um projeto pedagógico que abordasse a questão da violência e das diferenças sociais no Brasil.

"Assim, a docente partiu de uma manifestação das crianças do grupo, no caso o preconceito expresso em forma de risada, para tratar de assuntos mais amplos e profundos, que envolvem questões de cidadania e de convívio em sociedade", destaca. A pesquisadora da FCC também lembra que, conforme a proposta das Diretrizes Curriculares Nacionais, a professora poderia planejar uma série de atividades que contemplassem o tema, explorando-o por meio de experiências em diferentes áreas de conhecimento.

Além das questões levantadas em função da curiosidade das crianças, Monica Fantin, professora na Faculdade de Educação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), acredita que as práticas pedagógicas voltadas ao conhecimento do mundo físico e social devem ser pautadas pela brincadeira e pela exploração da capacidade lúdica dos menores. Como sugestão, os docentes podem propor brincadeiras de detetive para que os alunos encontrem animais e insetos na escola e, depois, partir para atividades mais sistematizadas, como pedir pesquisas de imagens na internet.

"As crianças aprendem no contexto. Por isso, quanto mais brincarem e imaginarem, melhores condições terão para uma aprendizagem sistematizada", garante. Monica lembra que a abordagem das questões relativas ao mundo social nas escolas tem enfrentado questões novas, entre elas a diversidade das famílias, que podem contar, por exemplo, com uniões homoafetivas, assunto cada vez mais presente no cotidiano infantil e que, para ela, deve ser trazido para o contexto escolar.

► Olhar para a diversidade

No caso das escolas privadas, em que o perfil dos alunos tende a ser mais homogêneo, ela defende que os professores invistam ainda mais em atividades que ensinem a lidar com diversidade. "Os docentes devem propiciar o convívio com o diferente por meio de brincadeiras, filmes e músicas que mostrem a realidade de outros países ou famílias", aconselha. Apesar de reconhecer que as políticas públicas dos últimos dez anos tenham priorizado o lúdico e o imaginário na educação infantil, a educadora lembra que muitas escolas se baseiam em apostilas nessa etapa do ensino. "No final das contas, é o professor que dá a tônica na sala de aula", aponta.

Ao lado da exploração da curiosidade e da capacidade lúdica dos menores, Maria Thereza Marcilio, gestora institucional da ONG Avante, defende que as atividades relativas ao conhecimento social devem se apoiar em múltiplas linguagens - entre elas, atividades motoras, intelectuais, artísticas e orais - a exemplo do que defendia o pedagogo italiano Loris Malaguzzi, que enxergava as crianças como partícipes do processo de construção do conhecimento, da identidade e da cultura escolares.

"Alunos de até 6 anos se expressam de forma mais rica e polifônica do que os adultos, e os docentes podem propor atividades nessas diferentes linguagens para enriquecer o processo pedagógico", diz. De acordo com a gestora, é preciso centrar o currículo escolar nas questões que a própria criança coloca, que muitas vezes são profundas e se relacionam a assuntos como nascimentos, mortes, polêmicas familiares e raciais.

Maria Thereza concorda com Monica, da UFSC, ao criticar as escolas de educação infantil que estabelecem horários determinados para o brincar. "O modo privilegiado de a criança se relacionar com o mundo é o brincar. Assim, é por meio do lúdico que a escola deve trabalhar todas as suas atividades", defende. Porém, apesar da crítica, reconhece que as grandes descobertas teóricas em relação à primeira infância são recentes e as instituições ainda estão se apropriando dessas teorias.

► Conceitos na prática

Atividades interdisciplinares e incentivos à curiosidade são dois eixos comuns em práticas pedagógicas de duas escolas particulares de São Paulo. Eduardo Zayat Chammas, coordenador de ciências humanas no Colégio Lourenço Castanho, explica que os conceitos de história, geografia e filosofia são trabalhados por meio de atividades integradas. Um projeto realizado em 2014 e no qual crianças de 5 anos tinham de responder de onde vêm determinados produtos mostra como é o trabalho da escola. "Os alunos investigaram o processo de produção e as origens históricas de elementos como o chocolate e o papel", conta. As crianças também participaram de uma atividade para produzir papiro com a planta, colocando em prática informações levantadas previamente.

Também preocupada com a interdisciplinaridade, Isabella Nigro, professora de educação infantil do Colégio Marista Arquidiocesano, detalha que o trabalho que equivale às disciplinas do leque das ciências sociais aos menores da instituição se dá por meio de atividades integradas que permitem preservar o conhecimento histórico e ensinam como lidar com a diversidade cultural e desenvolver a identidade. Um exemplo foi o circo organizado para as crianças de 2 anos. Sua finalidade era incentivar a evolução motora de forma lúdica e trazer informações sobre brincadeiras tradicionais, como trapézio e malabarismo, que muitas não conheciam. Assim, artistas circenses foram levados à escola e os espetáculos registrados em fotografias para permitir que as crianças e os pais revivessem a experiência.



segunda-feira, 10 de agosto de 2015

O QUE APRENDI SENDO PAI NAS NOITES, DIAS, PERTO E DISTANTE!

''A gente não nasce pai educador... A gente nasce aprendiz e morreremos apreendendo, porque filho é obra para vida e a vida é a única obra que nunca ficará pronta.''

A gente não nasce Pai, a gente nasce possibilidade, a gente nasce vir a ser, a gente nasce construção e se realiza quando torna-se. Não meramente pai biológico, mas pai existente, pai presente, pai responsável e apaixonado.

A gente não nasce para trocar fraldas, dar banho, mamadeira, papinha e balançar durante as noites de insônia, a gente nasce para SER tudo isso ao mesmo tempo.
A gente nasce para ser amor, porque o amor é capacidade de fazer, atender, promover e refletir a felicidade do filho. Quem não ama não pode ser pai, nunca será pai e muito menos sentirá a existência do filho.

A gente não nasce pai exemplar, a gente se faz a caminho, porque caminhar é amar, apreender. E então assumimos essa condição de ser o espelho do filho, do bom caráter, do exigente, estimulante e orientador. A gente nasce para ser o herói, não aquele de carne osso, mas o herói de sentimentos, que não está ali para salvar e sim para amar porque o amor vaporiza inseguranças e sedimenta segurança.

A gente não nasce pai para pagar pensão, a gente não nasce pai para brigar nos tribunais, a gente nasce para se assumir pai. A gente nasce para ser livre, amadurecer consciência e assumir a responsabilidade de ser espelho, de ser saudade, de ser segurança, de ser esperança na vida do filho.

A gente não nasce para ser meramente pai, a gente nasce para ser ‘PÃE’ pai e mãe junto, porque filho não vem com manual contendo cuidados específicos para progenitor e progenitora. Filho é como flor cultivado nos jardins da vida por onde a família passeia, observa, cuida e ama incessantemente, porque um jardim abandonado é um lugar triste onde a beleza, sonhos e objetivos morrem.

A gente não nasce pai educador, a gente nasce educando, nasce pai e filho, filho e pai. A gente nasce aprendiz e morreremos apreendendo, porque filho é obra para vida e a vida é a única obra que nunca ficará pronta.

A gente não nasce para comemorar datas, a gente nasce para ser data todos os dias, relógio vinte quatro horas, sombreiro dos dias quentes, agasalho dos dias frios, e abrigo aos dias de tempestades. A gente nasce para ser, sendo e assumindo.

A gente não nasce pai, a gente nasce filho, nasce mãe, nasce avô, nasce sonho. A gente será sempre o filho: do pai, do tempo, do lugar, da vida e do amor – Pai e FILHO, Filho e PAI, ontem, hoje, amanhã até tarde da vida e o renascer na geração seguinte.

Pai e FILHO, Filho e PAI tem que ser dialética do Amor – eu tenho um filho e nele me torno, me educo, me renovo, me espelho, me reflito, amadureço e amo. Sou o ontem, o hoje e ainda serei o amanhã Pai e FILHO, Filho e PAI. Porque PAI de verdade não se explica no biológico, mas no silogismo lógico e verdadeiro do cuidado permanente e no amor incondicional!


Neuri Adilio Alves - Pai, Professor Pesquisador em Filosofia e Antropologia Filosófica Existencial.

sábado, 8 de agosto de 2015

O PERSISTENTE BULLYING MEDIÁTICO SOBRE O PT

“A máquina administrativa herdada foi feita para administrar privilégios, não para prestar serviços. E os privilegiados a querem de volta”

Por, Leonardo Boff 08/08/2015
Há um fato inegável que após a reeleição da presidenta Dilma em 2014 irrompeu muita raiva e até ódio contra o PT e o atual governo. Atesta-o um ex-ministro do partido da oposição, do PSDB, Bresser Pereira, com estas contundentes palavras:

“Surgiu um fenômeno que eu nunca tinha visto no Brasil. De repente, vi um ódio coletivo da classe alta, dos ricos, contra um partido e uma presidente. Não era preocupação ou medo. Era ódio. Esse ódio decorreu do fato de se ter um governo, pela primeira vez, que é de centro-esquerda e que se conservou de esquerda. Fez compromissos, mas não se entregou. Continua defendendo os pobres contra os ricos. O ódio decorre do fato de que o governo revelou uma preferência forte e clara pelos trabalhadores e pelos pobres”(FSP 01/03/2015).

Este ódio foi insuflado fortemente pela imprensa comercial do Rio e de São Paulo, por um canal de TV de alcance nacional e especialmente por uma revista semanal que não costuma primar pela moral jornalística e, não raro, trabalha diretamente com a falsificação e a mentira. Esse ódio invadiu as mídias sociais e ganhou também as ruas. Tal atmosfera envenena perigosamente as relações sociais a ponto de que já se ouvem vozes que clamam pela volta dos militares, por um golpe ou por um impeachment.

Tal fato deve ser lamentado por revelar a baixa intensidade do tipo de democracia que temos. Sobretudo deve ser interpretado. Nem chorar nem rir, mas tentar entender.Talvez as palavras do ex-presidente Lula sejam esclarecedoras:

“Eles (as classes dirigentes conservadoras) não conseguem suportar o fato de que, em 12 anos, um presidente que tem apenas o diploma primário colocou mais estudantes na universidades do que eles em um século. Que esse presidente colocou três vezes e meia mais estudantes em escolas técnicas do que eles em 100 anos. Que levou energia elétrica de graça para 15 milhões de pessoas. Que não deixou eles privatizarem o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e os bancos do Espírito Santo, de Santa Catarina e do Piauí. Que nos últimos 12 anos nós bancarizamos 70 milhões de pessoas, gente que entrou numa agência bancária pela primeira vez sem ser para pagar uma conta. Acho que isso explica o ódio e a mentira dessas pessoas. Pobre ir de avião começa a incomodar; fazer faculdade começa incomodar; tudo que é conquista social incomoda uma elite perversa”(discurso no sindicato dos bancários do ABC no dia 24 de julho de 2015: Jornal do Brasil online de 25/07/2015).

Posso imaginar a enorme dificuldade que possuem as classes proprietárias com seus poderosos meios de comunicação de aceitar a profunda transformação que surgiu no país com o advento do PT, vindo de baixo, do seio daqueles que sempre estiveram à margem e aos quais se negaram direitos e plena cidadania. Como escreveu acertadamente o economista Ladislau Dowbor da PUC de São Paulo:

”Eles querem a volta ao passado, a restrição das políticas sociais, a redução das políticas públicas, o travamento da subida da base da pirâmide que os assusta”. E acrescenta: “A máquina administrativa herdada foi feita para administrar privilégios, não para prestar serviços. E os privilegiados a querem de volta”(Carta Maior, 22/09/2015).

Efetivamente, o que ocorreu não foi uma simples troca de poder mas a constituição de uma outra base de poder, popular e republicana que deu centralidade ao social, fazendo com que o estado, bem ou mal, prestasse serviços públicos, incluindo cerca de 40 milhões de pessoas, fato de magnitude histórica.

Para entender o fenômeno do ódio social socorrrem-nos analistas da violência na história. Recorro especialmente ao pensador francês René Girarad(*1923) que se conta entre os melhores. Segundo ele, quando na sociedade se acirram os conflitos, o opositor principal consegue convencer os demais de que o culpado é tal e tal pessoa ou partido. Todos então se voltam contra ele, fazem-no de bode expiatório sobre o qual colocam todas as culpas e corrupções (cf. Le bouc émissaire, 1982). Assim desviam o olhar sobre suas próprias corrupções e, aliviados, continuar com sua lógica também corrupta.

Ou pode-se atribuir aos acusadores aquilo que o grande jurista e politólogo alemão Karl Schmitt (+1986) aplicava a todo um povo. Este para “garantir sua identidade tem que identificar um inimigo e desqualificá-lo com todo tipo de preconceito e difamação” (cf.O conceito do político,2003). Ora, esse processo está sendo sistematicamente feito contra o PT, um verdadeiro bullying coletivo. Com isso procura-se invalidar as conquistas populares alcançadas e reconduzir ao poder aqueles que historicamente sempre estigmatizaram o povo como jeca-tatu e ralé e ocuparam os aparelhos de estado para deles se beneficiar.

Distorce minha intenção quem pensar que com o que escrevi acima estou defendendo os que do PT se corromperam. Devem ser julgados e condenados e, por mim, expulsos do partido.

O avanço do povo através do PT é precioso demais para que seja anulado. As conquistas devem continuar e se consolidar. Para isso é urgente desmascarar os interesses anti-populares, frear o avanço dos conservadores que não respeitam a democracia e que almejam a volta ao poder mediante algum tipo de golpe.


Autor: Filósofo, Teólogo e escritor de dezenas de obras vendidas no mundo todo entre essas "A grande transformação: na política, na economia e na ecologia, Vozes 2014.

Fonte: https://leonardoboff.wordpress.com/

domingo, 2 de agosto de 2015

Do latifúndio ao agronegócio. A concentração de terras no Brasil

Apenas no Mato Grosso, um dos principais polos do agronegócio no país, a má distribuição da terra é tem se tornado uma das principais causas de conflitos sociais.

A concentração desequilibrada de terras está na raiz da história brasileira. O antigo latifúndio, responsável pelas extensas propriedades rurais, "se renovou e hoje gerencia um moderno sistema chamado agronegócio", constata Inácio Werner, em entrevista concedida à IHU On-Line por e-mail. Segundo ele, apenas no Mato Grosso, um dos principais polos do agronegócio no país, a má distribuição da terra é evidente e tem se tornado uma das principais causas de conflitos sociais. No total, "3,35% dos estabelecimentos, todos acima de 2.500 hectares, detém 61,57% das terras. Na outra ponta, 68,55% dos estabelecimentos, todos até 100 hectares, somente ficam com 5,53% das terras".

Nos últimos 10 anos, 114 pessoas foram ameaçadas e seis foram assassinadas por combater o monopólio do campo. Na avaliação do sociólogo, o Estado não dispõe de uma política pública eficiente de proteção às vítimas porque é "forçado a tomar posição e enfrentar aliados".

Inácio José Werner é graduado em Ciências Sociais pelas Faculdades Integradas Cândido Rondon – Unirondon e especialista em Movimentos Sociais, Organizações Populares e Democracia Participativa pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG. Foi Agente de Pastoral da Paróquia do Rosário e São Benedito, e posteriormente da Comissão Pastoral da Terra – CPT. Atualmente, é coordenador do projeto Rede de intervenção social do Centro Burnier Fé e Justiça, com sede em Cuiabá. Atua na luta pela erradicação do trabalho escravo, coordena o Fórum de Erradicação do Trabalho Escravo e participa da Comissão Estadual de Erradicação do Trabalho Escravo – Coetrae e do Conselho Gestor do Fundo de Erradicação do Trabalho Escravo – Cegefete. Integra ainda a coordenação do Fórum Mato-grossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento.

Confira a entrevista.

Qual a atual situação agrária do estado de Mato Grosso?

O latifúndio se renovou e hoje gerencia um moderno sistema chamado agronegócio, que controla as terras e a produção. Dados do último censo agropecuário de 2006 indicam que 3,35% dos estabelecimentos, todos acima de 2.500 hectares, detém 61,57% das terras. Na outra ponta, 68,55% dos estabelecimentos, todos até 100 hectares, somente ficam com 5,53% das terras.

Em que contexto social e econômico ocorrem os conflitos agrários no campo em Mato Grosso?Inácio Werner – A concentração das terras traz um reflexo direto para a agricultura familiar. Enquanto a média nacional de apropriação é de 33,92% dos recursos, em Mato Grosso esta fatia cai para 6,86%. Em outras palavras, 93,14% do bolo fica com a agricultura empresarial.

Dom Pedro Casaldáliga, em Uma Igreja da Amazônia em conflito com o latifúndio e a marginalização social, documento que completa 40 anos no dia 9 de outubro, já denunciava o conflito estabelecido pela ganância do latifúndio, que assalta e expropria comunidades e povos que viviam por gerações em sua terras, destacando as populações tradicionais como quilombolas, retireiros e povos indígenas.

Quais são as principais razões de ameaças no campo no estado? Quantas pessoas estão sendo ameaçadas, hoje, no Mato Grosso?

A principal causa de ameaça é a resistência na terra ou a luta pela conquista de um pedaço de chão. Também temos ameaças pela denúncia de venda de lotes destinados à reforma agrária, a denúncia de trabalho escravo, desmatamento ou venda de madeira, além do uso abusivo de agrotóxicos.

Segundo o caderno Conflitos da Comissão Pastoral da Terra, em Mato Grosso, entre 2000 e 2010, 114 pessoas foram ameaçadas, algumas mais de uma vez. Uma mesma pessoa chegou a ser ameaçada seis vezes. Deve-se ressaltar que, destas 114 pessoas, seis foram assassinadas. Nos últimos três meses recebemos mais cinco denúncias de ameaças de morte por lideranças ligadas à luta do campo.

Quem são os grupos econômicos e políticos que exercem hegemonia em Mato Grosso?

O latifúndio, rearticulado através do agronegócio, perpassa e influencia a quase totalidade dos partidos políticos em Mato Grosso. Uns representam o latifúndio e outros, o agronegócio.

Quem é Blairo Maggi? Qual é a sua real força política no estado? Como construiu seu poder econômico e político? E como ele se relaciona com o movimento social?

Blairo é da linha de frente do modelo do agronegócio, alguém que passou a ser porta voz de uma classe, captando muito bem o anseio dos latifundiários que, em vez de escolherem representantes, apostaram em quem era "um" dos seus.

Blairo, através do Grupo Amaggi (André Maggi, pai de Blairo) foi construindo seu "império" através da diversificação. Não investiu somente na modernização de seu latifúndio: além de rei da soja, ele compra, transporta, tem as barcaças, investe em portos, constrói PCHs (pequenas centrais hidroelétricas).

Blairo também se modernizou na relação com o movimento social. No início de seu governo, em 2003, dizia que no Mato Grosso não existia trabalho escravo. Depois, através da pressão dos movimentos sociais, assinou o Plano Estadual de Erradicação de Trabalho Escravo. Recebeu o prêmio "motosserra de ouro", e depois deu sinais buscando evitar a derrubada da mata.

Como o Partido dos Trabalhadores (PT) do estado reagiu ao fato de Maggi ser um dos principais apoiadores de Lula nas últimas eleições e agora de Dilma Rousseff?

A aliança entre PT e PPS e, depois, PR foi costurada em nível nacional e repetida no estado com pouca resistência; houve reações de setores minoritários.

Como repercutem as denúncias de corrupção do Ministério dos Transportes em Mato Grosso que tem em Pagot um dos personagens centrais e é um dos afilhados políticos de Maggi?

No Mato Grosso, a relação Pagot/Maggi é muito conhecida; eles estavam juntos nos dois mandatos do governo Maggi. A reação é pequena, pois a mídia repercute pouco e a relação de ambos é vista como mais um escândalo a se somar a tantos outros.

O Fórum de Direitos Humanos e da Terra – Mato Grosso propõe ao governo do estado a criação do Programa Estadual de Proteção à Testemunha. Como o governo mato-grossense recebeu essa proposta e qual sua expectativa em relação ao Programa?

O Fórum há anos insiste e faz articulação para que o governo estadual possa aderir aos programas federais de proteção. Estas tratativas de aderir esbarram em diversas desculpas, como as alegações de que não há dinheiro para a contrapartida, que isso iria requerer uma grande quantidade de policiais, que teria que haver leis para poder implantar os programas. Agora, pelo menos um primeiro passo parece ter sido dado à medida que se encontram previstos no PPA recursos para esta contrapartida.

O que dificulta, em sua opinião, a constituição de uma política pública eficiente de proteção às testemunhas

O que mais dificulta é o convencimento da importância desta política. O segundo fator é o medo de se comprometer, porque exige uma resposta do Estado. O Estado é chamado a agir sobre as causas das ameaças e, então, é forçado a tomar posição e enfrentar aliados.

Segundo a Comissão Pastoral da Terra – CPT, nos últimos 25 anos, 115 pessoas foram assassinadas em função dos conflitos do campo em Mato Grosso, e apenas três casos foram julgados. Como o senhor analisa a atuação do sistema judiciário brasileiro nesses casos de violência? Por que é difícil julgar os mandantes dos crimes?

A Justiça em nosso país não condena quem tem dinheiro e influência política. Com intermináveis recursos e manobras judiciais, os processos nunca vão a julgamento. Porém, a falha não está só no setor judiciário, à medida que os inquéritos são mal elaborados, muitas vezes propositalmente, para já nesta fase facilitar a absolvição do criminoso influente. Sem dúvida, a lentidão da Justiça contribui com a impunidade e, de certa maneira, incentiva o crime.

O Centro Burnier se constitui, hoje, na principal referência do movimento social do Mato Grosso? Quais são as outras organizações com quem vocês trabalham?

Não saberia dizer se o Centro Burnier é a principal referência. O que sei é nos esforçamos para uma mudança na forma de agir, sempre atuando em rede, reforçando espaços coletivos.

O desafio é criar uma rede forte em momento de fragilização dos movimentos sociais onde a luta pela sobrevivência de cada organização está ameaçada. Trabalhamos em várias frentes de luta, em parceria com algumas instituições, como a Comissão Pastoral da Terra, o Centro Pastoral para Migrantes, o Conselho Indigenista Missionário, as Comunidades Eclesiais de Base, o Centro de Estudos Bíblicos, a Operação Amazônia Nativa, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, a Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional, o Sindicato dos Profissionais da Educação, o Instituto Centro de Vida, além de setores organizados na Universidade Federal de Mato Grosso.



sexta-feira, 31 de julho de 2015

AS CRISES DA VIDA E A AUTOREALIZAÇÃO

''Nós vamos mor­rendo lentamente, em prestações, porque quando nascemos já começamos a morrer, a nos desgastar e nos despedir da vida.''

Quase só se fala de crise e crise das crises, aquela da Terra e da vida, ameaçadas de desaparecer como acenou o Papa Francisco em
sua encíclicas sobre “o cuidado da Casa Comum”. Mas tudo o que vive é marcado por crises: crise do nascimento, da juventude, da escolha do parceiro ou parceira para a vida, crise da escolha da profissão, crise do “demônio do meio-dia”como a chamava Freud que é a crise dos quarenta anos quando nos apercebemos que já estamos chegando ao topo da montanha e começa a sua descida. Por fim a grande crise da morte quando passamos do tempo para a eternidade.

O desafio posto a cada um não é como evitar as crises. Elas são inerentes à nossa condição humana. A questão é como as enfrentamos: que lições tiramos delas e como podemos crescer com elas. Por aí passa o caminho de nossa auto-realização e de nossa maturidade como seres humano ou de nosso fracasso.

Toda situação é boa, cada lugar é excelente para nos medirmos conosco mesmo e mergulharmos em nossa dimensão profunda e deixar emergir o arquétipo de base que carregamos (aquela tendência de fundo que sempre nos martela) e que através de nós quer se mostrar e fazer sua história que é também a nossa verdadeira história. Aqui ninguém pode substituir o outro. Cada um está só. É a tarefa fundamental da existência. Mas sendo fiel neste caminhar, a pessoa já não está mais só. Construíu um Centro pessoal a partir do qual pode se encontrar com todos os demais caminhantes. De solitário faz-se solidário.

A geografia do mundo espiritual é diferente daquela do mundo físico. Nesta os países se tocam pelos limites. Na outra, pelo Centro. É a indiferença, a mediocridade, a ausên­cia de paixão na busca de nosso EU profundo que nos distancia de nosso Centro e dos outros e assim perdemos as afinidades, embora estejamos ao lado deles, no meio deles e pretendendo estar a serviço deles.

Qual é o melhor serviço que posso prestar às pessoas? É ser eu mesmo como ser-de-relações e por isso sempre ligado aos outros, ser que opta pelo bem para si e para os outros, que se orienta pela verdade, ama e tem compaixão e misericórdia.

A realização pessoal não consiste na quantificação de capacidades pessoais que podem ser realizadas, mas na qualidade, no modo como fazemos bem aquilo que a vida situada nos cobra. A quanti­ficação, a busca de títulos, de cursos sem fim, pode significar em muitas pesoas a fuga do encontro com a tarefa de sua vida: de se medir consigo mesmo, com seus desejos, com suas limitações, com seus problemas, com suas positividades e negatividades e integrá-los criativamente. Foge no acúmulo do saber inócuo que mais ensoberbece e afasta dos outros do que nos amadurece para poder compreender melhor a nós mesmos e o mundo. A linguagem trái estas pessoas que dizem: sou eu que sei, sou eu que faço, sou eu que decido. É sempre o o eu e nunca o nós ou a causa, comungada também por outros.

A realização pessoal não é obra tanto da razão que discorre sobre tudo, mas do espírito que é nossa capacidade de criar visões de conjunto e de ordenar as coisas em seu justo lugar e valor. Espírito é descobrir o sentido de cada situação. Por isso é próprio do espírito a sabedoria da vida, a vivência do mistério de Deus, decifrado em cada momento. É a capacidade de ser todo em tudo o que faz. Espiritualidade não é uma ciência ou uma técnica, mas um modo de ser inteiro em cada situação.

A primeira tarefa da realização pessoal é aceitar a nossa situação com seus limites e possibilidades. Em cada situação está tudo, não quantitativamente distendido, mas qualitativamente recolhido como num Centro. Entrar nesse Centro de nós mesmos é encontrar os outros, todas as coisas e Deus. Por isso dizia a velha sabedoria da Índia: “Se alguém pensa corre­tamente, recolhido em seu quarto, seu pensamento é ouvido a milhares de quilômetros de distância”. Se quiseres modificar os outros, comece por modificar-te a ti mesmo.

Outra tarefa imprescindível para a realização pessoal é saber con-viver com o último limite que é a morte. Quem dá sentido à morte, dá sentido também à vida. Quem não vê sentido na morte também não descobre sentido na vida. Morte porém é mais que o último instante ou o fim da vida. A vida mesma é mortal. Em outras palavras, vamos mor­rendo lentamente, em prestações, porque quando nascemos começamos já a morrer, a nos desgastar e nos despedir da vida. Primeiro nos despedimos do ventre materno e morremos para ele. Depois nos despedimos da infância, da meninice, da juven­tude, da escola, da casa paterna, da idade adulta, de algumas de nossas tarefas, de cada momento que passa e por fim nos despedimos da própria vida.

Esta despedida é um deixar para trás não apenas coisas e situações, mas sempre um pouco de nós mesmos. Temos que nos desapegar, nos empobrecer e esvaziar. Qual o sentido disso tudo? Pura fatalidade irreformável? Ou não possui um sentido secreto? Despojamo-nos de tudo, até de nós mesmos no último momento da vida (morte), porque não fomos feitos para esse mundo nem para nós mesmos, mas para o Grande Outro que deve encher nossa vida: Deus! Deus vai, na vida, nos tirando tudo para nos reservar cada vez mais intensamente para si; pode até tirar-nos a certeza se tudo valeu a pena. Mesmo assim persistimos, crendo nas palavras sagradas:”Se teu coração te acusa, saiba que Deus é maior que teu coração”(cf. 1 Jo 3,20 ). Quem conseguir incorporar as negatividades, mesmo injustas, em seu próprio Centro, este alcançou o mais alto grau de hominização e de liberdade interior.

As negatividades e as crises pelas quais passamos, nos dão esta lição: de nos despojar e de nos preparar para a total plenitude em Deus. Então, como diz o místico Sâo João da Cruz: seremos Deus, por participação.

Leonardo Boff é colunista do Jornal do Brasil online, ecoteólogo e escritor.

segunda-feira, 20 de julho de 2015

CHAPECÓ - PORQUE PRECISAMOS TROCAR ESSE GOVERNO LOCAL

Todo ente politico tem por compromisso assumir para si a responsabilidade fazer-se valer o voto recebido da maioria da população que o elegeu. - Mas quem de fato cumpre com essa prerrogativa? Quem de fato assume as irresponsabilidade cometidas? Quem responde com a verdade ao prestar contas de sua administração? 

Porque ir longe quando podemos usar de nossa experiência local para exemplificar as mentiras e atos de ludibriar o povo através do aparelhamento das instituições e veículos de informação sem compromisso ético com a verdade. 

Precisa verdade maior do que elencar ou ilustrar que todas as grandes obras realizada na cidade desde o ano de 2003 (sim todas) as grandes obras em Chapecó foram financiadas pelo Governo Federal e pequenas contrapartidas do Estado. Sem esses investimentos, 90% das grandes obras seriam apenas fotolitos e maquetes". - Se não acredita então conta comigo aqui as obras e cita as que ainda ficaram fora:

► ALIMENTAÇÃO:

1 - Restaurante Popular Centro;
2 - Restaurante Popular Efapi (Verba Liberada)

► SAÚDE:

3 - Hospital da Criança ( Materno Infantil )
4 - Implantação de uma UPA 24 Horas;
5 - Equipamentos para Hospital Regional e Ampliação de Espaços e Especialidades;

► EDUCAÇÃO:

6 - IFES Instituto Federal em Chapecó
7 - UFFS - Universidade Federal Fronteira Sul;
8 - Ensino Técnico Conveniado com o Sistema 'S' (Senai etc etc)

► INFRAESTRUTURA:

9 - Duplicação do Acesso a BR 282;
10 - Elevados e Passarelas no acesso a BR 282;
11 - Reformas no Aeroporto e Construção de Futura Estrutura Moderna;
12 - Investimento no Contorno Viário Leste

► ESPORTE:

13 - Ginásio de Esporte nos Bairros ( Convênio com Ministério do Esporte );
14 - Acadêmias ao ar Livre Praças ( Convênio com Ministério do Esporte );
16 - Centenas de Bolsa Atletas Conveniados;
17 - Patrocínios a Clube de Futebol Local (Caixa Econômica)

► HABITAÇÃO (Urbano e Rural):

18 - Minha Casa Minha Vida (Milhões investidos em Moradia em Chapecó);
19 - Moradias Rural: Unidades do Programa Nacional Habitação Rural;

► AGRICULTURA:

20 - Facilidade em crédito Rural;
21 - Incentivo em Programas mais Alimentos ( Máquinas e Implementos)

22; 23; 24 (...)

E O NOSSO IPTU?

Com o dinheiro de nosso IPTU aqui em Chapecó tem apenas obra de Maquete e TVBox alimentadas pela especialidade da mentira, arte apurada de quem esta a frente do governo. O destino de toda arrecadação simplesmente carece de claras explicações.

É HORA DE FOMENTAR O DEBATE, CRIAR O SENTIMENTO E PROPORCIONAR A MUDANÇA!


Neuri Adilio Alves - Professor Pesquisador, Graduado em Filosofia, Esp. Antropologia Filosófica Existencial - PUCCamp/SP - PUCPR.