quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

CHAPECÓ: A OBVIEDADE DA ELEIÇÃO MUNICIPAL DE 2016.

‘O certo é que não haverá novidade alguma numa disputa polarizada entre ''Direita e Esquerda' ou na mistura dessas duas forças que apresentam também crise de identidade.‘

Para quem não se ilude está claro o cenário para a próxima eleição. Tanto pelo viés natural dos fatos, boatos e sinalizações da conjuntura local quanto, pelos movimentos possíveis que podem ocorrer no tabuleiro sem grandes espantos. Tendo como base a ultima eleição ao governo do estado e o histórico das ultimas três disputas municipais:

Primeiro porque há muito tempo sabemos que o Vice Prefeito Luciano Buligon (PMDB) encostado pessoalmente pela conjuntura de 2012 como candidato a vice de José Caramori, não tem força politica eleitoral o que naturalmente o tira de uma disputa. Sem lágrimas, ranger de dentes e direito de reivindicar a cabeça da chapa. 

Segundo, o PSD do casal ‘dobradinha’ J. Rodrigues e G. Merisio tem força política, estrutura financeira e compromisso natural de apontar o candidato para cabeça de Chapa por se tratar de situação. E nesse cenário teriam pelo menos uns três nomes fortes para vencer as eleições novamente. Isso não se trata de jogar água fria em perspectivas eleitorais de ninguém, mas fazer uso da razão na leitura conjuntural sustentado no fato que não há (sim, não há) nenhuma articulação, ou projeto concreto na organização de base ha muito tempo de quem quer que seja para fazer frente a isso. 

Terceiro, a esquerda de Chapecó única força capaz de polarizar uma disputa com capacidade e chances de vencer, não tem convergência de ideias, projetos concretos e humildade necessária para primeiro reconhecer os limites e superá-los. Digo isso porque é a posição de cargo eletivo que se ocupa e não a estratégia que determina quem pode ser cabeça de chapa com unidade e desde o ano de 2008 uma unidade forçada, pelas circunstâncias e nunca por um projeto eleitoral concreto. Ou seja, a oposição municipal é quase um paradoxo, um movimento sobre si mesmo. Uma negação as origens, a ponto daquela esquerda de outrora que estudava conjunturas, estratégias e ações agora sabe tudo e acredita do auto de sua catedral de vidro que ainda pode ser canonizada pelos eleitores, porque se julga melhor que o demônio que governa há mais de uma década. Será?

Por fim, o resultado das ultimas eleições municipal, somado ao resultado da recente eleição para o governo do Estado temos dois cenários possíveis e uma remota via da novidade (sic) com pouca força: 

- a primeira pela ordem natural, os governistas após consulta de base e pesquisa medindo força política apontar como nome de sua liderança jovem Américo do Nascimento, por exemplo, mesmo diante do bando de urubus com pouco respaldo que salivam tirar um pedaço da ocasião. E para isso já traçaram a estratégia para isolar o Partido dos trabalhadores. Pois numa disputa polarizada, mesmo com a força que supostamente teriam a professora Carminatti e o Deputado Pedro Uczai pela votação que obtiveram. Isolados sem partidos aliados de apoio dificilmente crescem além do óbvio. Por isso, cite-se aqui: não será novidade alguma se por via da conveniência ou convergência estendida, se os velhos aliados como PCdoB, PDT forem convidados/orientados/forçados a compor na chapa da situação. Pois isso pode ter entrado no pacote de 2014 e nas pretensões que ainda estão na ordem dos ajustes e ambições. Mas se ainda não acreditam esperem para ver, pois não somos nós ‘opinistas’ de ocasião que definimos. 

- a segunda possibilidade é fruto da leitura conjuntural em que percebendo uma disputa mais acirrada e difícil, a alternativa de garantia possível seja o nome do Deputado Gelson Merísio como candidato a prefeito e para vice outra liderança do PSD (com o próprio A. Nascimento) para assumir em 2018 quando o mesmo sairá como candidato a Dep. Federal, teriam como a grande garantia de manterem-se no governo, já que as pretensões do ex-prefeito é o governo do estado. 

- terceiro seria a possibilidade de um empresário da cidade e ai teriam pelos menos uns cinco nomes de peso compondo chapa, embora seja uma possibilidade mais distante não se descarta principalmente numa condição de candidato a vice. ‘O certo é que não haverá novidade alguma numa disputa polarizada entre ''Direita e Esquerda' ou na mistura dessas duas forças que apresentam também crise de identidade.‘

Digo isso porque partidos como PMDB, PSDB, PR, DEM e todos os tentáculos menores desse polvo governamental não tem força politica para exigir nada. Nem mesmo para blefar com candidaturas próprias, pois a votação obtida por estes nas ultimas eleições diz: ''se contentem com o que lhes oferecer, porque vocês são quase insignificantes''. 

Até concordo que politica não se reduz a receita de bolo, (mas até por respeito à receita), mas os ingredientes estão todos ai esperando para ser misturado e levado ao forno. A digestão fica por conta de quem não se nega experimentar!

Neuri A. Alves - Professor Pesquisador, Graduado em Filosofia, Antropologia Filosófica - PUC/PR e PUCCamp/SP.



terça-feira, 9 de dezembro de 2014

EDUCAÇÃO: Conflitos na inserção do eletrônico!

''É triste perceber que no Brasil a Escola do Futuro parece ter envelhecida ontem, agoniza de madura e vai morrer de esperança pela forma lenta como se conduz!''

Aquilo que muitos especialistas, pedagogos, psicopedagogos tem apontado como problema em relação ao uso das tecnologias por parte dos alunos, deveria ser visto como proposição inadiável. A escola, precisa se desfazer da '’machadinha, da caixa de fósforo e do punhado de sal’’ usado outrora. 

Nós estamos no século XXI, conflitando com o aluno de 7 anos olhando para o século XXII e grande parte dos professores com o saudosismo do século passado da Caneta Bic (anos 50) como instrumento moderno de inserção na escrita,da máquina de datilografia na década de 80, ou mais o mais rudimentar e deprimente focados no primo distante da xerocadoras o velho mimeógrafo. 'É triste perceber que no Brasil a Escola do Futuro parece ter envelhecida ontem, agoniza de madura e vai morrer de esperança pela forma lenta como se conduz!'

Não dá para continuar apontando para o aluno como o problema por seus Ipad, Smartphone, Tablet e afins, quando precisamos suprir o atraso presente na estrutura das escolas, planos pedagógicos e dos próprios professores no uso dessas tecnologias também. Em relação ao Brasil, o francês Edgar Morin consultor da Unesco já afirmou há mais de uma década, que só daremos um salto quantitativo e qualitativo sobre um século de atraso na educação se assumirmos o compromisso da inserção maciça numa educação instrumentalizada com o mundo tecnológico que ai está. Mas, para isso é preciso investir em professores bem preparados para o ''Pensar Complexo''. 

Ambos, professores e alunos situados e sintonizados na 'Dialogia' que transcende a comunicação linear dialética. Algo que vai além da polaridade emissor-receptor. Em um processo de comunicação genuína, os envolvidos estão em uma relação de acoplamento estrutural, modificando-se e modificando aos outros. A dialogia permite o entrechoque de ideias, considerando como essencial a convivência com as contradições, entre estudante-estudante e estudante-professor, em um movimento espiral de troca e evolução das pessoas e daquilo que está sendo discutido. 

As ideias não faltam esta faltando coragem e ousadia para a transição necessária. Pois a escola precisa deixar o primitivo espaço de centro de adestramento já apontado pelo filósofo Antonio Gramsci, assim como a sala de professores o ‘cemitério’ onde se mata a esperança no jovem ou ‘tribunal’ onde se julga o comportamento de uma criança ou adolescente sumariamente com caso perdido. 

Do contrário pelo movimento incontrolável do tempo em que vivemos, e as tsunamis violentas de novas tecnologias podemos ter certeza que aquela escola da alfabetização inicial que instrumentaliza para a escrita e leitura precisará ser reaplicada ao final do ensino médico para milhões de jovens que desaprenderam a ler escrever morfologicamente em seus aparelhos eletrônicos ao esmagarem a escrita e silenciarem a leitura oral e o diálogo social. É aqui onde termina a vida do conhecimento e se apaga a vela no velório do futuro. Sem lágrimas, sem esperanças e sem sonhos!

Neuri A. Alves - Professor Pesquisador, Graduado em Filosofia, Antropologia Filosófica  - PUC/PR e PUCCamp/SP.



domingo, 23 de novembro de 2014

CARACTERÍSTICAS DO NOVO PARADIGMA COSMOLÓGICO EMERGENTE

''Como um todo, o universo é um sistema aberto que se auto-organiza e continuamente transcende para patamares mais altos de vida e de ordem.''

Muito se fala hoje de quebra de paradigmas. Mas há um grande paradigma, formulado já há quase um século, que oferece uma leitura unificada do universo, da história e da vida. Ousamos apresentar algumas figuras de pensamento que o caracterizam.

1) Totalidade/diversidade: o universo, o sistema Terra, o fenômeno humano estão em evolução e são totalidades orgânicas e dinâmicas construídas pelas redes de interconexões das múltiplas diversidades. Junto com a análise que dissocia, simplifica e generaliza, faz-se mister síntese pela qual fazemos justiça a esta totalidade. É o holismo, não como soma, mas como a totalidade das diversidades orgânicamente interligadas.

2) Interdependência/re-ligação/autonomia relativa: todos os seres estão interligados pois um precisa do outro para existir e coevoluir. Em razão deste fato há uma solidariedade cósmica de base que impõe limites à seleção natural. Mas cada um goza de autonomia relativa e possui sentido e valor em si mesmo.

3) Relação/campos de força: todos os seres vivem numa teia de relações. Fora da relação nada existe. Junto com os seres em si, importa captar a relação entre eles. Tudo está dentro de campos pelos quais tudo tem a ver com tudo. 4) Complexidade/interioridade: tudo vem carregado de energias em diversos graus de intensidade e de interação. Matéria não existe. É energia altamente condensada e estabilizada e quando menos estabilizada como campo energético. Dada a interrelacionalidade entre todos, os seres vem dotados de informações cumulativas, especialmente os seres vivos superiores, portadores do código genético. Este fenômeno evolucionário vem mostrar a intencionalidade do universo apontando para uma interioridade, uma consciência supremamente complexa. Tal dinamismo faz com que o universo possa ser visto como uma totalidade inteligente e auto-organizante. Quanticamente o processo é indivisível mas se dá sempre dentro da cosmogênese como processo global de emergência de todos os seres. Esta compreensão permite colocar a questão de um fio condutor que atravessa a totalidade do processo cósmico que tudo unifica, que faz o caos ser generativo e a ordem sempre aberta a novas interações (estruturas dissipativas de Prigogine). A categoria Tao, Javé e Deus heuristicamente poderiam preencher este significado.

4) Complementariedade/reciprocidade/caos: toda a realidade se dá sob a forma de partícula e onda, de energia e matéria, ordem e desordem, caos e cosmos e, a nível humano, da forma de sapiens e de demens. Tal fato não é um defeito, mas a marca do processo global. Mas são dimensões complementares.

5) Seta do tempo/entropia: tudo o que existe, pre-existe e co-existe. Portanto a seta do tempo confere às relações um caráter de irreversibilidade. Nada pode ser compreendido sem uma referência à sua história relacional e ao seu percurso temporal. Ele está aberto para o futuro. Por isso nenhum ser está pronto e acabado, mas está carregado de potencialidades. A harmonia total é promessa futura e não celebração presente. Como bem dizia o filósofo Ernst Bloch: “o gênesis está no fim e não no começo”. A história universal cái sob a seta termodinâmica do tempo, quer dizer: nos sistemas fechados (os bens naturais limitados da Terra) deve-se tomar em conta a entropia ao lado da evolução temporal. As energias vão se dissipando inarredavelmente e ninguém pode nada contra elas. Mas o ser humano pode prolongar as condições de sua vida e do planeta. Como um todo, o universo é um sistema aberto que se auto-organiza e continuamente transcende para patamares mais altos de vida e de ordem. Estes escapam da entropia (estruturas dissipativas de Prigogine) e o abrem para a dimensão de Mistério de uma vida sem entropia e absolutamente dinâmica.

6) Destino comum/pessoal: Pelo fato de termos uma origem comum e de estamos todos interligados, todos temos um destino comum num futuro sempre em aberto. É dentro dele que se deve situar o destino pessoal e de cada ser, já que em cada ser culmina o processo evolucionário. Como será este futuro e qual seja o nosso destino terminal caem no âmbito do Mistério e do imprevisível.

7) Bem com cósmico/bem comum particular: O bem comum não é apenas humano mas de toda a comunidade de vida, planetária e cósmica. Tudo o que existe e vive merece existir, viver e conviver. O bem comum particular emerge a partir da sintonia com a dinâmica do bem comum universal.

8) Criatividade/destrutividade: O ser humano, homem e mulher, no conjunto dos seres relacionados e das interações, possui sua singularidade: é um ser extremamente complexo e co-criativo porque intervem no ritmo da natureza. Como observador está sempre inter-agindo com tudo o que está à sua volta e esta inter-ação faz colapsar a função de onda que se solidifica em partícula material (princípio de indeterminabilidade de Heisenberg). Ele entra na constituição do mundo assim como se apresenta, como realização de probabilidades quânticas (partícula/onda). É também um ser ético porque pode pesar os prós e os contras, agir para além da lógica do próprio interesse e em favor do interesse dos seres mais débeis, como pode também agredir a natureza e dizimar espécies (nova era do antropoceno).

9) Atitude holístico-ecológica/antropocentrismo: A atitude de abertura e de inclusão irrestrita propicia uma cosmovisão radicalmente ecológica (de panrelacionalidade e re-ligação de tudo), superando o histórico antropocentrismo. Favorece outrossim sermos cada vez mais singulares e ao mesmo tempo, solidários, complementares e criadores. Destarte estamos em sinergia com o inteiro universo, cujo termo final se oculta sob o véu do Mistério situado no campo da impossibilidade humana.

10) O possível se repete. O impossível acontece: o Mistério.


Por Leonardo Boff, autor da recente obra 'A grande transformação na economia, na política e na ecologia', Vozes 2014.

Fonte: http://leonardoboff.wordpress.com

terça-feira, 18 de novembro de 2014

AQUELA EDUCAÇÃO SOFRIDA E ESTA SONHADA COM A RAZÃO!

''Um transfigurar, daquela educação sofrida para esta sonhada sobre o travesseiro da razão, alimentada pela esperança inesgotável e exercitada na prática pelos que nunca se cansam.''

Inegável que ainda andamos devagar em relação à pressa que temos e precisamos ter. Buscando nos encontrar a caminho, minimizar em partes o sofrimento secular da exclusão e cuidar dessas feridas abertas pela elite colonial. Mas podemos nos mover por tantas certezas que nos faz sonhar sempre mais! 

- A certeza de que estamos menos desolados e mais esperançosos, porque podemos contemplar mais luzes para a Educação. Já não temos mais 34,6 mil escolas do ensino fundamental no Brasil sem acesso à energia elétrica e o mínimo de estrutura e dignidade como havia no inicio do ano de 2003 ao fim da tragédia governamental do sociólogo weberiano neoliberal. 

- Aquela certeza corajosa de afirmar que precisamos avançar muito mais, na forma quantitativa e qualitativa, pois o Brasil de hoje não comporta mais esperar pelas ''novas'' ideias já envelhecidas com os debates de sempre. É hora de avançar sobre o acúmulo do que vem sendo pensado nos últimos anos, e tudo que vier a caminho será bagagem de acréscimo, ajustes e proposições futuras gestadas na dialética educador/educando. 

- Aquela certeza adocicada ao olhar para uma criança iniciando a sua vida Escolar e saber que ela terá um ciclo completo de inclusão a sua frente. Sem as barreiras seculares do exclusivismo elitista que por quinhentos anos excluía os filhos de escravos, caboclos, indígenas, o filho do operário, do lavrador, da lavadeira, da costureira de chegar a universidade ou a escola técnica e ser tornar doutor. 

E tantas outras certezas positivas se acumulando diariamente a nossa história recente, fruto da persistência dos que nunca deixam de sonhar e nunca se dão por entregues e prontos. Pois foi essa inquietude que nos educou, nos educa e continuara educando no renovar constante de esperanças. 

Na certeza de que o melhor para a Educação esta sempre por vir, porque nos retroalimentamos na maior das certezas: a de que ela não virá sozinha, porque buscar e propor é parte de nós – de todos nós! 

Como bem disse o professor Gabriel Perissé: ''Educação será salvação na medida em que, além de avaliar e pensar, discutir e propor, todos os ministros se sintam ministros da Educação, todos os professores se sintam revolucionários em ação’’ e todo cidadão uma escola em permanente reforma-forma-ação! - 'Um transfigurar, daquela educação sofrida para esta sonhada sobre o travesseiro da razão, alimentada pela esperança inesgotável e exercitada na prática pelos que nunca se cansam.' 

Neuri A. Alves - Professor Pesquisador, Graduado em Filosofia, Antropologia Filosófica Existencial

domingo, 9 de novembro de 2014

Política e Diálogo no contexto da reeleição de Dilma Rousseff

''Alguém precisa ser inimigo de si mesmo para estar contra tais propósitos. A arte dessa dialogação é reencantar a política das coisas e seduzir as pessoas para esse sonho de grandeza ética.''

A reeleição de Dilma Rousseff propicia reflexões sobre as várias formas de se fazer política partidária. Fazer política é buscar ou exercer concretamente o poder. Que fique claro o que Max Weber escreveu em seu famoso texto A Política como Vocação: “Quem faz política busca o poder. Poder, ou como meio a serviço de outros fins ou poder por causa dele mesmo, para desfrutar do prestígio que ele confere”.

Esse último modo de poder político foi exercido, por quase todo o tempo de nossa história, pelas classes dominantes a fim de se beneficiarem dele, esquecendo que o sujeito de todo o poder é o povo. Trata-se do famoso patrimonialismo tão bem denunciado por Raimundo Faoro em seu clássico Os donos do poder.

Vejo cinco formas de exercício de poder:

Primeiro, a política do punho fechado.Trata-se do poder exercido de cima para baixo e de forma autoritária. Há um só projeto político, aquele do detentor do poder que pode ser um ditador ou uma classe dominante. Eles simplesmente impõem o projeto e esmagam os alternativos. Foi o que mais vigorou na história brasileira, especialmente sob a ditadura militar.

Segundo, a política do tapinha nas costas. É uma forma disfarçada de poder autoritário. Mas diferencia-se do anterior porque este se abre aos que estão fora do poder mas para atrelá-los ao projeto dominante. Recebem algumas vantagens, desde que não constituam outro projeto alternativo. É a conhecida política paternalista e assistencialista que desfibrou a resistência da classe operária e corrompeu tantos artistas e intelectuais. Funcionou entre nós especialmente a partir de Vargas em diante.

Terceiro, a política das mãos estendidas. O poder é distribuido entre vários portadores que fazem alianças entre si sob a hegemonia do mais forte. Há alianças entre o partido vencedor com os demais partidos aliados para garantir a governabilidade. É o presidencialismo de coalizão parlamentar. Esse tipo pode criar favorecimentos, disputas de postos importantes no Estado e mesmo a corrupção. Foi o que ocorreu nos últimos anos.

Quarto, a política das mãos entrelaçadas. Parte-se do fato básico de que o poder está difuso nos movimentos e instituições da sociedade civil e não apenas na sociedade política, nos partidos e no Estado. Esse poder social e político pode convergir para algo benéfico para todos. Trata-se da grande discussão atual que prevê a participação dos movimentos sociais e dos conselhos para junto com o Parlamento e o Executivo definirem políticas públicas. Busca-se uma democracia participativa que enriquece a representativa. Negar esta forma é não querer democratizar a democracia e permanecer na atual que é de baixa intensidade.

Especificando: a política das mãos entrelaçadas acontece quando o chefe de Estado se propõe a uma ampla dialogação com todos os segmentos afim de repactuar os atores sociais ao redor de um projeto comum mínimo. O pressuposto é: aquém e além das diferenciações e dos interesses conflitantes, existe na sociedade, a idéia de que país queremos, a solidariedade mínima, a busca do bem comum, a observância de regras consentidas e o respeito a valores de sociabilidade sem os quais viraríamos uma matilha de lobos. As mãos estendidas podem se entrelaçar coletivamente. Mas para isso, precisa-se do exercício do diálogo que implica ouvir a todos e buscar convergências na linha do ganha-ganha e não do ganha-perde. É a ética na política e da boa política verdadeiramente democrática.

Por fim temos a ver com política enquanto sedução no melhor sentido da palavra, subjacente à proposta da Presidenta Dilma. Ela propõe um diálogo aberto com todos os atores políticos, também da área popular. Urge seduzir aqueles 48% que voltaram no candidato da oposição em vista de um projeto de Brasil que beneficie a todos a partir da inclusão dos mais penalizados, da criação de desenvolvimento ecológica e socialmente sustentado que gere empregos, melhores salários, redistribuição de renda, crie um transporte decente e mais segurança para os cidadãos, além do cuidado para com a natureza e a potenciação de um horizonte de esperança para o povo poder se reencantar com a política.

'Alguém precisa ser inimigo de si mesmo para estar contra tais propósitos. A arte dessa dialogação é reencantar a política das coisas e seduzir as pessoas para esse sonho de grandeza ética.'

Para isso é obrigatório olhar para frente. Quem ganhou a eleição deve mostrar magnanimidade e quem a perdeu, humildade e disposição de colaborar visando ao bem comum.

É idealismo? Sim, mas no seu sentido profundo. Uma sociedade não pode viver só de estruturas, burocracia e disputas ideológicas em torno do poder. Tem que alimentar sonhos de melhoria permanente que inclua e beneficie, o mais possível, a todos para superar a nossa espantosa desigualdade social.

Razão têm as comunidades eclesiais de base quando cantam: “Sonho que se sonha só, é pura ilusão. Sonha que se sonha juntos é sinal de solução. Então, vamos sonhar juntos, sonhar em mutirão”.

Esta é a convocação supra-partidária que a Presidenta Dilma está fazendo ao Parlamento, aos movimentos populares e a toda a nação. Só assim se esvazia o discurso das divisões, dos preconceitos contra certas regiões e se sanam as chagas produzidas no ardor da campanha eleitoral com todos os seus excessos de parte a parte.

Por Leonardo Boff, autor de 'Que Brasil queremos', Vozes, Petrópolis 2000

Fonte: http://leonardoboff.wordpress.com

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

NÃO HÁ DEMOCRACIA SEM PARTICIPAÇÃO POPULAR

''Não é os 'Conselhos de Participação Social' que representam uma ameaça a Estado Democrático, mas sim a 'turba' suja e plutocrata que ' ocupa a estrutura legislativa do país.''

Votar contra os 'Conselhos de Participação Social' no governo é votar em favor da ignorância. É deslegitimar uma construção histórica comprovadamente eficaz de participação e cidadania por uma razão obtusa relegada ao fracasso eleitoral nos estados de origem. É preciso dar uma basta nestes sistema de mascataria em que foi transformado a câmara federal dos deputados onde se vota em conformidade com as mazelas que se recebe em troca.

Por isso todo aplauso pela votação contrária aos Conselhos Populares é um abraço no 'senso comum'  de um debate sério e propositivo. O achismo raivoso, nocivo e leviano amordaça a verdade e acaba por esconder o óbvio que esta em nossa  frente. Não faz sentido debater contrariedades com um olhar distante da realidade que esta ao nosso lado, ou em nosso meio social. 

Quem nunca ouviu falar ou participou de Conselho de Escola, Conselhos de Creches, Conselho de Moradores, Conselhos Municipais de Saúde, Cultura, Assistência Social e Transporte. Os Conselhos Universitários, Conselhos Tutelares entre tantos outros conselhos.

Um país que eleva ao legislativo esse tipo de representante político é um país miserável de consciência. Esses ignorantes que votaram contra o Decreto 8.243/2014 (Política Nacional de Participação Social – PNPS), não chegaram ao legislativo em Brasília através de um sorteio 'Rifa' ou jogo de 'Bingo' comunitário. Em grande parcela Eles chegaram até lá por uma ameaça muito maior a democracia participativa que através e a serviço do aparelho de exclusão que tem como combustível a iniciativa privada e os ganchos eleitorais.

Não é os 'Conselhos de Participação Social' que representam uma ameaça a Estado Democrático, mas sim a 'turba' suja e plutocrata que ' ocupa a estrutura legislativa do país e que votou contra o decreto que propunha os 'Conselhos Populares'. São eles próprios a maior das ameaças que se pode ter na democracia.

É preciso lutar até o último grito para que a voz do povo esteja presente nas mais diversas relações de governabilidade de um país democrático fazendo valer a legitimidade dos 'Conselhos de Participação Social'. Pois legitimar esse direito democrático é objetivar o nosso papel de cidadania.

Enquanto alguns gritam pela volta da ditadura, sejamos nós a voz democrática e majoritária dos que buscam ampliar os passos de inserção e liberdade.

Neuri A. Alves - Professor e Pesquisador Licenciado em Filosofia e História. - Curioso do mundo!