sábado, 11 de maio de 2013

A ARTE DE DEIXAR APRENDER

"(...) deixar aprender é deixar que o conhecimento nasça, que o conhecedor renasça a cada novo conhecimento, é deixar que cada um se reconheça no ato de aprender."

Para Martin Heidegger ensinar é mais difícil do que aprender porque ensinar significa: deixar aprender.

Uma arte refinada, que exige sensibilidade extrema para perceber as disposições de cada aluno, para detectar o grau de maturidade intelectual e emocional de cada aluno, para permitir que o aluno mesmo entre em contato com a necessidade pessoal de buscar a verdade

O professor que entende as “artimanhas” desse deixar aprender jamais pretende dominar o aluno com recompensas e muito menos com punições ou ameaças. Limita-se (rompendo todos os limites) a apresentar o que entende ser a verdade, mais com uma atitude de busca do que com grandes proclamações de já ter encontrado ou definido tudo.

Deixar aprender é transmitir o entusiasmo irresistível de quem se comprometeu radicalmente com a realidade. O mestre entusiasmado faz os alunos descobrirem, em clima de reverência (sem expulsar o bom humor), que aprender é emocionante porque tem a ver com o sentido da vida.

O professor que sabe deixar aprender dispensa a “aulística”, esta habilidade que se reduz a dar aulas picotadas de sala em sala. Vive, sim, da “holística”, essa visão da existência que nada deixa de fora. Não existe “o fora”. Todos os aspectos da realidade são conciliáveis numa visão generosa: o subjetivo e o objetivo, o interior e o exterior, a teoria e a praxis, a liberdade e a obediência, a autonomia e a heteronomia, o etc. e o etc.

Deixar o outro aprender é deixá-lo ver as realidades contrastantes que se harmonizam numa visão abrangente, numa visão filosófica da realidade. A realidade é matizada, e também precisamos deixar que ela se manifeste.

Deixar que o outro aprenda não é deixar de dar aulas. É cultivar o conhecimento integral da realidade, atitude que nada tem a ver com o conhecimento exaustivo das coisas, com a tentação epistemológica da análise avassaladora, com o domínio antecipado de categorias às quais o real deverá ajustar-se, custe o que custar.

O professor verdadeiro, na minha concepção, é aquele que entende o conhecimento como um co-nascimento, ou, para ser mais explícito, como o co-naissance do famoso trocadilho de Gabriel Marcel.

Isto é, deixar aprender é deixar que o conhecimento nasça, que o conhecedor renasça a cada novo conhecimento, é deixar que cada um se reconheça no ato de aprender.

O resto é pedagogia.

Professor Gabriel Perissé 
Doutor em Filosofia da Educação pela USP e coordenador pedagógico do Ipep (Instituto Paulista de Ensino e Pesquisa).

quinta-feira, 2 de maio de 2013

SANTA CATARINA - A SUÍÇA BRASILEIRA É AQUI?

“Venham visitar, mas venha sabendo que aqui os 'Alpes Suíços' são montanhas de mazelas sociais também!!!”

Tenho visto muitos papagaios do Governo do Estado afirmar que Santa Catarina é a SUÍÇA BRASILEIRA. Pra ser sincero com meus milhares de amigos que não moram aqui e ouvem falar deste engano vou elencar umas verdades. Primeiro dizer primeiro que amo meu Estado, mas prezo pela verdade e a verdade me diz que entre a SUIÇA BRASILEIRA e SUÍÇA EUROPÉIA existe um grande abismo de disparidade. 

Na “SUÍÇA BRASILEIRA” ou Vergonha Catarinense tem: 

a- ) Professor vergonhosamente remunerado; 
b- ) Escola em avançado estado de degradação; 
c- ) Rodovias em degradação e abandono; 
d-) Policiais e Bombeiros Militares com salário de fome; 
e-) Órgãos Públicos são como colônias de parasitas comissionados; 
f-) A decentralização administrativa é um cabidão de regalia empregatícia; 
g-) Viúvas de ex governadores recebendo salários de até R$ 15 mil reais ao mês; 
h-) Ex Governador recebendo Salários de aposentadoria Cumulativa em média de R$ 25 mil cada uma chegando a receber 50 mil reais mês de salários; 
i-) Regalias pagas a Ex Governadores de Colombo Salles, Antônio Carlos Konder Reis, Jorge Bornhausen, Henrique Córdova, Esperidião Amin, Casildo Maldaner, Paulo Afonso Vieira e Leonel Pavan, que custam aos cofres públicos em média mais de R$ 200.000 mil reais por mês ; 
j-) Tem corrupção e sorteio pragmático em licitação de Obras Públicas; 
l-) Milhares de jovens viciados e morrendo pelo envolvimento com drogas; 
m-) Centenas de crimes cometidos mensalmente pouco divulgados; 
n-) O Crime Organizado queimando Oníbus e Veículos pelo estado todo; 
o-) Presidiários organizando festas dentro de Presídios, e criminosos ditando regras sociais; 
p-) ASSASSINATO de vereador sendo declarado como HOMICIDO; 
q-) Milhares de focus de Mosquito e casos de Dengue; 
r-) Rodovias sucateadas e legadas ao abandono; 
s-) Obras públicas superfaturadas, corrupção na esfera pública e os privilégios nocivos ao estado; 
t-) Beleza em abundância e imensa degradação ambiental também, falta saneamento básico, praias contaminadas e cidades sujas; 
u-) Moradores de rua espalhados em grade numero pelas maiores cidades do estado como uma dolorida chaga social; 
v-) Mentirosos saindo pelo “ladrão” (sem trocadilho), com postura de bom cidadão; 
x-) O marketing de turismo como uma grande falácia, porque na essência somos sim: encanto turístico, vergonha politica e tragédias sociais também; 

( !!! ) ESTA É A SUÍÇA BRASILEIRA!!! NÃO PRECISA SE ASSUSTAR, TUDO ISSO AQUI É REAL! SÓ AS BELEZAS NOS SALVAM! 

VENHAM VISITAR, MAS VENHA SABENDO QUE AQUI OS “ALPES” SÃO MONTANHAS DE MAZELAS SOCIAIS TAMBÉM!!! 

Neuri Adilio Alves
Professor / Pesquisador

quarta-feira, 24 de abril de 2013

AOS PREGADORES DO 'CAGAÇO' SOU FAVORÁVEL QUE:

"Fim dos tempos??? Não... Fim de linha idiotas!!!"
Por Neuri Adilio Alves

Sejam condenados por Crime de Racismo/Preconceito qualquer IDIOTA, (sim eu disse idiota), Pastor, Missionário, Padre, Pregador que fizer uso instrumental, vazio de Exegese e Hermenêutica BIBLICA pra INSTITUCIONALIZAR a HOMOFOBIA entre os seus fiéis seguidores. É preciso punir duramente dentro da Lei, da mesma forma que qualquer outro ato de preconceito ou agressão contra a vida é julgado. 

Mais do que isso, é preciso acabar com este mercado maldito do engano e senso comum usado a base de gritaria e Bíblia na mão como mercado lucrativo da fé. Mesmo que para isso, se faça necessário um marco regulatório de critério para abrir Igrejas, Casas de Pregações e afins! Exigindo de inicio um certificado teológico emitido por instituição devidamente reconhecida por órgão federativo para então receber o "Habite-se" de local físico para culto da fé. E posteriormente que requeira junto ao 'Senhor' sua vocação de 'enviado pregador'. 

Porque tem muita gente que adormece delinquente e acorda como convertido pregador. Muitos dos quais não conseguem gerenciar a própria vida, mas abrem as portas da sua casa pra enganar fiéis usando de senso comum, com Versículos e Capítulos Bíblicos decorados. Se não tiver um certificado devidamente reconhecido por uma instituição de mesmo modo legal, não pode abrir Igreja, e muito menos ser "empresário do ledo engano da fé". 

E se inicialmente for necessário a presença da Vigilância Sanitária (por insanidade) que assim seja feito, pois poderá ajudar na limpeza da boca suja primeiro. Depois se pode esterilizar também o 'diabo' que eles tanto usam pra assustar os fiéis. 

Porque no Brasil existe lugares que a quantidade de "Igreja" esta tão grande que o 'Diabo' é expulso de uma Igreja e entra na outra logo a frente, isto quando ele não abre uma pra si mesmo. 

Fim dos tempos??? Não... Fim de linha idiotas!!! 
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ANTES QUE ME ESQUEÇA... sou favorável que seja levado a julgamento por crime contra a humanidade e apologia ao racismo todo governo que por acordo e interesse politico indique para conduzir qualquer 'Órgão Público', principalmente de Direitos Humanos um Parlamentar acusado de Xenofobia, Homofobia e Misoginia. Exemplo neste momento do Brasil!

Neuri Adilio Alves 
Professor Pesquisador

sexta-feira, 19 de abril de 2013

OS DADOS MENTIROSOS SOBRE A ECONOMIA DA VENEZUELA - ATAQUE DOS FACISTAS


Veja o conteúdo da Carta do Professor de Economia da UFF Universidade Federal Fluminense Victor Leonardo de Araujo, à Editora do caderno Mundo de O Globo, Sandra Cohen.


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Prezada Senhora Sandra Cohen, 

Já é sabido que o jornal O Globo não nutre qualquer simpatia pelo governo do presidente venezuelano Hugo Chávez, e tem se esforçado a formar entre os seus leitores opinião contrária ao chavismo – por exemplo, entrevistando o candidato Henrique Caprilles sem oferecer ao leitor entrevista com o candidato Nicolás Maduro em igual espaço. Isto por si já é algo temerário, mas como eu não tenho a capacidade de modificar a linha editorial do jornal, resigno-me. 

O problema é que o jornal tem utilizado sistematicamente dados um tanto quanto estranhos na sua tarefa de formar a opinião do leitor. Sou professor de Economia da Universidade Federal Fluminense e, embora não seja “especialista” em América Latina, conheço alguns dados sobre a Venezuela e não poderia deixar de alertá-la quanto aos erros que têm sido sistematicamente cometidos.

Como parte do esforço de mostrar que o governo Chávez deixou a economia “em frangalhos”, o jornalista José Casado, em matéria publicada em 15/04/2013 (“Economia em frangalhos no caminho do vencedor”) informa que o déficit público em 2012 foi de 15% do PIB. Infelizmente, as fontes desta informação não aparecem na reportagem (apenas uma genérica referência a “dados oficiais e entidades privadas”!!!), uma falha primária que nem meus alunos não cometem mais em seus trabalhos. Segundo estimativas apresentadas para o ano de 2012 no “Balanço Preliminar das Economias da América Latina e Caribe”, da conceituada Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal), o déficit foi de 3,8% do PIB, ligeiramente menor do que no ano anterior, mas muito inferior ao apresentado pelo jornal. Caso o jornalista queira construir a série histórica para os resultados fiscais para a Venezuela (e qualquer outro país do continente), pode consultar também as várias edições do “Estudio Económico” também da Cepal. 

Para poupar o seu trabalho: a Venezuela registrou superávit primário de 2002 a 2008: 2002: 1% do PIB; 2003: 0,3; 2004: 1,8; 2005: 4,6; 2006: 2,1; 2007: 4,5; 2008: 0,1; e déficit nos anos seguintes: 2009: -3,7% do PIB; 2010: -2,1; 2011: -1,8; 2012: -1,3. O déficit é decrescente, mas bem distante dos 15% do PIB publicados na matéria. 

Afirmar que o déficit público na Venezuela corresponde a 15% do PIB tem sido um erro recorrente, e também aparece na matéria intitulada “Onipresente Chávez”, publicada na véspera, também no caderno “Mundo” do jornal O Globo em 13/04/2013. A este propósito, tenho uma péssima informação a lhe dar: diante de um quadro fiscal tão saudável, o presidente Nicolás Maduro não precisará realizar ajuste fiscal recessivo, e terá condições de seguir com as políticas de seu antecessor.

A matéria do dia 15/04/2013 possui ainda outros erros graves. O primeiro é afirmar que existe hiperinflação na Venezuela, e crescente. Não há como negar que a inflação é um problema grave na Venezuela, mas O Globo não tem dispensado o tratamento adequado para informar os seus leitores. A inflação na Venezuela tem desacelerado: foi de 20% em 2012, contra 32% em 2008 (novamente utilizo os dados da Cepal). Tudo indica que o jornalista não possui conhecimento em Economia, pois a Venezuela não se enquadra em qualquer definição existente para hiperinflação – a mais comumente utilizada é de 50% ao mês; outras, mais qualitativas, definem hiperinflação a partir da perda da função de meio de troca da moeda doméstica, situações bem distantes do que ocorre na Venezuela.

Outro equívoco é afirmar que “não há divisas suficientes para pagar pelas importações”. A Venezuela acumula superávits comerciais e em transações correntes (recomendo que procure os dados - os encontrará facilmente na página da Cepal). Esta condição é algo estrutural, e a Venezuela é a única economia latino-americana que pode dar-se ao luxo de não precisar atrair fluxos de capitais na conta financeira para financiar suas importações de bens e serviços. Isto decorre exatamente das exportações de petróleo.

O problema, Senhora Sandra Cohen, é que os erros cometidos ao expor a situação econômica venezuelana não se limitam à edição do dia 15/04, mas tem sido sistemáticos e corriqueiros. Como parte do esforço de mostrar que o governo Chávez deixou uma “herança pesada”, a jornalista Janaína Figueiredo divulgou no dia 14/04 (“Chavismo joga seu futuro”) que em 1998 a indústria respondia por 63% da economia venezuelana, e caiu para 35% em 2012. Infelizmente, a reportagem comete o erro primário que o seu colega José Casado cometeu: não cita suas fontes. 

Em primeiro lugar, a informação dada pelo jornal é que a Venezuela era a economia mais industrializada do globo terrestre no ano de 1998. Veja bem: uma economia em que a indústria representa 63% do PIB é super-hiper-mega-industrializada, algo que sequer nos países desenvolvidos foi observado naquele ano, nem em qualquer outro. E a magnitude da queda seria digna de algo realmente patológico. Como trata-se de um caso de desindustrialização bastante severo, procurei satisfazer a minha curiosidade, fazendo algo bastante corriqueiro e básico em minha profissão (e, ao que tudo indica, o jornalista não fez): consultei os dados. 

Na página do Banco Central da Venezuela encontrei a desagregação do PIB por setor econômico e lá os dados eram diferentes: a indústria respondia por 17,3% do PIB em 1998, e passa a representar 14% em 2012. Uma queda importante, sem dúvida, mas algo muito distante da queda relatada por sua jornalista. Caso a senhora, por qualquer juízo de valor que faça dos dados oficiais venezuelanos, quiser procurar em outras fontes, sugiro novamente a Cepal, (Comissão Econômica para América Latina e Caribe). As proporções mudam um pouco (21% em 1998 contra 18% em 2007 – os dados por lá estão desatualizados), mas sem adquirir a mesma conotação trágica que a reportagem exibe. Em suma: os dados publicados na matéria estão totalmente errados.

O erro cometido é gravíssimo, mas não é o único. A reportagem ainda sugere que a Venezuela é fortemente dependente do petróleo, respondendo por 45% do PIB. Novamente, a jornalista não cita suas fontes. Na que eu consultei (o Banco Central da Venezuela), o setor petróleo respondia por 19% do PIB em 1998, contra pouco mais de 10% em 2012. Como a Senhora pode perceber, a economia venezuelana se diversificou. Não foi rumo à indústria, pois, como eu mesmo lhe mostrei no parágrafo acima, a participação desta última no PIB caiu. Mas, insisto, a dependência do petróleo DIMINUIU, e não aumentou como o jornal tem sistematicamente afirmado.

A edição de 13/04/2012, traz outros erros graves. Eu já falei anteriormente sobre os dados sobre déficit público apresentados pela matéria assinada pelo jornalista José Casado (“Onipresente Chávez”). A mesma matéria afirma que a participação do Estado venezuelano representa 44,3% do PIB. O conceito de “participação do Estado na economia” é algo bastante vago, e por isso era importante o jornalista utilizar alguma definição e citar a fonte – mas isto é algo, ao que tudo indica, O Globo não faz. Algumas aproximações para “participação do Estado na economia” podem ser utilizadas, e as mais usuais apresentam números distantes daqueles exibidos pelo jornalista: os gastos do governo equivaliam a 17,4% do PIB em 2010 (contra 13,5% em 1997) e a carga tributária em 2011 era de 23% (contra 21% em 2000), nada absurdamente fora dos padrões latino-americanos.

Enfim, no afã de mostrar uma economia em frangalhos, O Globo exibe números simplesmente não correspondem à realidade da economia venezuelana. Veja bem: eu nem estou falando de interpretação dos dados, mas sim de dados que equivocados!

Seria importante oferecer ao leitor de O Globo uma correção dessas informações – mas não na forma de errata ao pé de página, mas em uma reportagem que apresente ao leitor a economia venezuelana como ela é, e não o caos que O Globo gostaria que fosse.
E, por favor, nos próximos infográficos, exibam suas fontes.
Atenciosamente,

PS: Não sei porque ainda perco tempo, mas enviei o e-mail abaixo para O Globo. Como a linha editoria não será modificada, peço que divulguem. Abs, Victor.

Victor Leonardo de Araujo
É Professor de Economia da UFF Universidade Federal Fluminense.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

A MORTE DO FILÓSOFO E O SILÊNCIO DA VERDADE

“O ASSASSINATO de Marcelino Chiarello foi a tentativa de incinerar as verdades por ele desnudadas. Foi um insulto a justiça das causas sociais, … foi o apagão que faltava para nos mostrar os sujos meandros da legalista e putrefata justiça em nossa cidade, nosso estado em nosso pais! Foi a gota de sangue que manchou a justiça, pela covardia de quem executou, a conivência de quem investigou e frieza de quem banalizou. Marcelino foi morto duas vezes: como HOMEM e CIDADÃO!” 

A vida poderia até ser metaforizada como um jogo, se não fosse este lado prosaico que tece nossas relações sociais. Esta aventura consciente que nos faz escolher entre o que nos emancipa como humanos e o que nos coloca no roll gélido animalesco das disputas de espaços e interesses. Se não fosse este fruto imperativo democrático que nos provoca ao universo das escolhas. Tudo isso que nos empurra, nos carrega, nos conduz, nos orienta, nos divide, separa, nos 'dialetiza'. Porque esta também é uma real bipolarização de nossa aventura existencial, e nela o cálice da Justiça pode ser servido como sangue na nova e eterna aliança, sinal da justiça (ao modo cristão) ou simplesmente como imolação pública do direito a vida como produto de um legalismo fragilizado, descomprometido. 

O que assusta é ver a incineração de nosso 'Contrato Existencial', este direito antropológico primevo do Ser Humano decidir, direito manifesto a liberdade de se expressar e questionar a realidade que nos cerca. E estou eu aqui a discorrer sobre isso! Porque um dos mais pertinentes exemplos disso é a morte do cidadão, Pai de Família, Professor, Vereador e Filósofo Marcelino Chiarello à mais de 12 meses. 

O que justifica nosso descréditos caros cidadãos, é o juízo de des/valorização das instâncias judiciais e criminais. Porque no assassinato de Marcelino todos nós fomos assassinados como cidadãos, a partir do momento em que as instituições decretaram silêncio e banalização do caso. Sim eu disse banalização desta covarde e trágica realidade. E o filósofo assassinado covardemente pelas mãos humanas, também se tornou uma vítima de Cronos (Κρόνος) 'Deus do tempo' a que tanto estudou e provou do poder de fugacidade. Porque a inércia e um certo desleixo na investigação do caso (foi como uma prisão do tempo) um estratégico modo pra acomodar o sentimento de revolta do povo, a sede de justiça que a cidade de Chapecó externava. 

Tanto do ponto de vista sociológico como Filosófico, temos um caso de esmagamento de todos os imperativos da razão e dos direitos, em troca da delegação de nossos poderes de julgamento/decisão as instâncias que poderiam se caracterizar como imparciais soberanas do jus/legalismo na esfera social. Para muitos eu cantei a pedra, ressaltei que todos nós já fomos, seremos, como somos neste momento vítimas destas contradições veladas, dos que de forma pragmática buscaram soprar para longe a verdade. Enquanto se ventila no silêncio como encomenda premeditada a covardia desleal e conivente cometida contra o cidadão. 

Sei bem o sentimento que me afeta neste momento enquanto escrevo, porque é o sentimento da ausência, embora por várias oportunidades nossas discussões racionais, epistêmicas brotavam de sua inteligência singular. Marcelino tinha uma memória privilegiada, uma língua afiada e um raciocínio lógico que funcionava como uma 'Navalha de Occam'. Era um homem de coração, mente, e práxis ideológica marxista, mas com certeza poderia ser visto como um doutor na arte da 'Maiêutica'. E isso perturbava sim, muitos setores da burguesia empresarial e política na cidade de Chapecó. 

Eu o conheci muito bem, com ele convivi, dialoguei, me senti influenciado nos meandros da filosofia. Quando no inicio do ano de 1996 enquanto eu me preparava para mudar pra Curitiba e Cursar filosofia. Com os mesmos professores que foram dele também enquanto seminarista na Pia Sociedade dos Missionários de São Carlos (Carlistas), tanto ele como seu irmão, o nobre e conceituado Professor de História e Filosofia Claudir Chiarello. 

Marcelino costumava me dizer que eu tinha que me conduzir pro seminário de formação sacerdotal como indivíduo pra emancipação social na luta de classes e não apenas como candidato possível ao sacerdócio. Lembro-me com hoje quando me entregou um livro novinho da Edição Filosofando (Edição gratuita para professores) que aliás ainda esta comigo e bem preservado e me disse: “vai e estuda o marxismo incansavelmente, porque este será o caminho da compreensão e libertação das forças produtivas e os filósofos precisam contribuir neste desafio!” 

Estudar filosofia eu cumpri, mas sair do curso marxista mergulhado no praxismo eu não consegui, porque a filosofia me conduziu para o campo do Existencialismo. Porém, o legado nobre, fiel, inteligentíssimo e respeitável do amigo carrego comigo. Tanto nas minhas reminiscências pessoais como nas lembranças de nossos professores em Curitiba que até hoje falam do aluno inquieto, curioso e questionador como ele ficou conhecido. Principalmente no antigo IVF-Instituto Vicentino de Filosofia atual FAVI, por professores como João Batista Penna (Antropologia), Aluísio (Filosofia Politica I, II, III), Cleverson (Lógica, Metafisica e Filosofia da Ciência), Bortolo Vale (Introdução e História da Filosofia) e o orientador Pedagógico da época padre Carlos. 

Voltei de Curitiba formado, e como recepção tive a visita pessoal de Marcelino em minha casa me convocando para fazer uso do instrumento filosófico na articulação de sua agenda de campanha a vereador em 2004 quando então foi eleito pela primeira vez. Talvez seja isso que hoje me inquieta, me deixa arrepiado por imaginar que ali naquele dado momento, ao bel prazer de seu sonho de uma luta de classe por dentro da politica eu contribui para ele ter entrado nesta maldita trincheira de onde sua vida seria ceifada. Mas este parecia ser um de seus sonhos, e talvez seja este o antídoto que tenta me consolar pela perda! Embora eu não tenha cedido aos seus insistentes convites para engrossar a fileira de ex seminarista/petista como ele, porque minha opção sempre foi o comunismo ideológico partidário de João Amazonas, eu sei o quanto partilhamos das idéias de um mundo melhor. 

Embora eu tenha me mantido afastado do fórum de entidades que incessantemente cobraram por justiça, eu observei a mitigada e covarde forma como as instituições legalistas conduziram o processo de investigação sobre assassinato do Chiarello. Sim assassinato, porque Marcelino não era um homem de características suicidas, mas um homem de bem com a vida, um cidadão que desafiava o desanimo, era uma mescla de 'Razão Lúdica' (sempre a brincar com todo mundo) e 'Razão Sábia' (inteligente e estrategista como poucos) ao seu modo, o modo da vida. 

Porque escrevo isso meus caros! Porque desde o inicio eu imaginava este resultado absurdo, covarde e desproporcional o qual nós ainda precisaríamos passar. Há mais de um ano ele foi brutalmente violentado fisicamente e morto por mãos covarde e sujas de sangue dentro de sua própria casa. Hoje com os resultados pra serem finalizados novamente Marcelino foi assassinado por laudos/pericias/descaso como cidadão. Se não haver nenhuma denuncia as entidade mundiais de defesa da vida, o próximo laudo pode sair que Marcelino existiu apenas como conceito filosófico de existência e que as lágrimas de sua família e amigos não passam de uma metáfora pra ilustrar a imolação da vida. 

Embora como base de compreensão e assimilação por parte de muitos: “depois de Marx e Freud, não possamos mais aceitar a ideia de uma razão soberana, livre de condicionamentos materiais e psíquicos. Após Weber, ignorar a diferença entre uma razão substantiva, capaz de pensar fins e valores, e uma razão instrumental, cuja competência se esgota no ajustamento de meios a fins. Sem esquecer ainda de Adorno, não ser possível escamotear o lado repressivo da razão, a serviço de uma astúcia imemorial, de um projeto imemorial de dominação da natureza e sobre os homens. E após Foucault, não ser mais lícito fechar os olhos ao entrelaçamento do saber e do poder. Nós precisamos de um racionalismo renovado, fundamentado numa razão esterilizado deste ceticismo exposto de humanismo e valorização da vida em todas a suas instâncias, dos acúmulos de saber, poder e defesa de toda a integridade que zela nossa existência. Pois do contrário estamos fadados ao espinhoso caminho que leva desenfreadamente para um fim sem volta, onde tudo se justifica pelos meios”. 

Por muitas vezes tenho sido perguntado se não tenho 'medo' de me expor, escrevendo abertamente minha posição frente a questões que se passam na cidade. Confesso que sim, 'tenho respeito ao medo', porque foi o medo que nos trouxe até aqui como espécie, mas preciso sempre reafirmar que não nasci para o silêncio porque a coragem é o alimento que sustenta o medo, por ser ela também proponente de estratégias pra sobreviver. E no meu caso as palavras gritam aqui dentro de mim, se misturam como tempero da coragem no ato de denunciar, manisfestando o que penso! 

Minha profunda consternação, estima e respeito a quem há anos conheço e sei o quanto tem sofrido em todos estes meses como: a esposa Dione, amiga desde a tenra adolescência no ensino fundamental, ao filho Eduardo que peguei no colo ainda bebe, eloquência e peraltice pertinente a inquietude da infância e agora o acréscimo traumático e violento da injustiça; a sua amável sogra Deolinda, ternura e vigor na defesa da vida e educação e a seu cunhado Gustavo. Enfim a todos os irmãos de sangue de Marcelino aqui representado pelo nome de meu amigo, compadre e singular professor Claudir Chiarello do qual tive intensos momentos de profunda reflexão histórica/filosófica ao longo destes anos. 

Preciso finalizar este todo dizendo que o sentimento que me afeta neste momento é o de que precisamos refazer o caminho pra uma nova 'ética civilizatória' (embora eu não consiga mensurar a intensidade e proposição da mesma) e da 'justiça comum' (onde todos tenham seus direitos preservados). Do contrário, precisaremos sim estar cientes de que em determinados momentos precisaremos fazer uso de nossas próprias mãos, para não sermos vítimas da inércia do jus legalismo. Enquanto em campo aberto aqui fora se espera por quem poderá ser a próxima vítima. 

Digo isso porque a conclusão da morte, a assinatura de um laudo covarde/mentiroso que 'suicida', dissolve qualquer conceito legal, enterra nosso desejo de justiça e abre os precedentes do direito ao estado de terror! Neste caso, se “o Sono da razão produz monstros” como escreveu Goya, talvez tenha chegado o momento de nós libertamos os nossos também, do antigo mito da filosofia a nossa atual realidade histórica local! A morte do filósofo e vereador em Chapecó foi a tentativa de silenciar a verdade! 

Neuri Adilio Alves 
Professor, Filósofo e Pesquisador



quarta-feira, 10 de abril de 2013

A FILOSOFIA SOFRE DE 'BULLYING' METODOLÓGICO NO ENSINO MÉDIO

"Filosofia não pode ser fogo morto! … precisa ser chama que queima terna e eternamente. Tem que ser luz que clareia, força que move, visão que desvela, e caminho pro mundo."


Sempre que encontro jovens e adolescentes em período escolar, tenho por necessária curiosidade fazer duas perguntas clássicas que habitam pulsante a minha mente, incitam meu coração e gritam dentro de mim. Embora somente a resposta da primeira possa me oportunizar fazer a segunda é este pertinente exercício que me leva a pensar qual a razão de tamanha rejeição a disciplina de filosofia por grande parte dos estudantes do ensino médio no Brasil. 

Fato, há poucos dias tive a 'grata' e 'traumática' oportunidade de fazer as duas perguntas novamente! Grata porque é necessário medir o termômetro motivacional em relação a uma “disciplina escolar”, e Traumática porque a resposta quase sempre é a mesma em qualquer lugar do Brasil onde as perguntas possam ser feitas. Voltando ao encontro com os estudantes, lancei pragmaticamente a primeira: VOCÊS TEM AULA DE FILOSOFIA? Resposta em coro: "UIIIIIII TEMOS!"  

A resposta me municiou pra fazer a essencial e traumática segunda pergunta: VOCÊS GOSTAM DE FILOSOFIA? A resposta como em um depreciativo jogral foi imediatamente raivosa: "ODIAMOSSSSSSS!" 

Para amenizar o momento e continuar alimentando minha conversa me faço de vitima. Entro na história de corpo e alma compartilhando com eles desta experiência apimentando ainda mais a situação e vou dizendo: “A filosofia é chata né!” E sigo alimentando o trauma: "Eu também nunca gostei de filosofia, meu professor era chato, mal-humorado, as aulas um saco, só recortes de jornal, conceitos primitivos, folhas e folhas de caderno riscadas a caneta 'Bic' com textos sem fim. Resumos de coisas sem nexo na aula e em casa, leitura de intermináveis páginas de livros como 'Filosofando', 'Novo Olhar', 'Convite a Filosofia' um sarapatel de masturbação mental.” 

Nossa! ... me tornei mais um do grupo, fazendo-os se sentirem até mais fortalecidos. Ali naquele momento deixavam de serem vistos como os rebeldes, desgarrados, perturbadores de aula e da ordem social na escola. Mas inquietos com minha exposição de descontentamento com a disciplina ficaram curiosos e me devolveram uma desconfiada pergunta: “Como era o nome de seu professor? Porque o nosso faz exatamente isso também!” 

O que dizer a estes alunos? Que eles estão errados? Que filosofia é algo bom? - Não! Eu não poderia fazer isso, eu queria ser do grupo deles e pronto, como uma volta a etapa esquecida de minha tenra idade dos anos escolares! Porque a grande verdade é que a atitude de refutar a simples ideia de filosofia como disciplina escolar não é culpa deles. É a nossa imensa parcela de culpa que esta imersa nesta reprovação toda em relação a disciplina. Estamos espalhados pelo Brasil como centenas de milhares de cabeças pensantes, “professores/filósofos” também a banalizar esta disciplina, com pouca didática, pouco conhecimento, pouca motivação, pouca preparação e de mal com a própria opção de vida. O que cobrar dos alunos? 

Os estudantes de hoje precisam mais do que conceitos prontos, eles precisam de provocação! E provocação não se atinge pelo castigo de imprimir a incumbência do escriba a copiar páginas intermináveis de livros. Principalmente se a causa do conflito são aulas pouco produtivas, mau preparadas que levam a dispersão e consequentemente a perda do controle motivacional do aluno, instaurando conflito relacional entre eles e o professor. 

A disciplina de filosofia tem que ser propositiva, encaixando conceitos a realidade, onde o estudante possa ser provocado pra edificar a discussão conceitual e propositiva da aula. Embora não exista modelo pronto de metologia de ensino, podemos seguir orientações como do professor Perissé, do qual é preciso provocar o aluno pensar filosoficamente ao analisar realidades como violência no mundo atual superando respostas prontas como: “pena de morte!”, “mais investimentos!”, “não tem mais jeito”, “construir novos presídios”... Filosofia tem antipatia a soluções milagrosas, frases de efeito, reducionismos, e pouco exercício da razão. 

Precisamos mostrar ao estudante que o filósofo é como a “mosca” que entra na garrafa e de lá nunca mais sai, porque a garrafa é o universo do conhecimento; ... precisamos com coragem desafiadora dizer a ele, que embora filosofia “não sirva para nada” neste mundo, ninguém faz nada sem ela também. Precisamos ao modo Merleau Ponty dizer a ele que filosofia é um modo de reaprender a ver o mundo; é exercício livre, leve e solto da razão aqui e agora, diferente da ciência como 'arcabouço' de processo cumulativo. Dizer sem titubear que ciência vai pro museu, mas filosofia não, porque ela é sempre atual. 

Como se demostra tudo isso, se não pelo empenho apaixonado que deve exaurir de cada palavra de convicção emitida pelo filósofo professor. Com aulas bem preparadas metodologicamente, sem depreciação ou desleixo do comodismo dos textos prontos e conceitos desconexo. Fora disso é profundo desafio e batalha desproporcional no caminho de fomentar no aluno motivação externa enquanto classe/escola e automotivação interna como experiência pessoal. Despertar a convicção permanente como exercício da rebeldia curiosa e aguçada para acumular mais e mais sabedoria. Descrevo isso lembrando que neste momento tenho mais de 14 ex alunos em mestrados ou doutorados de grandes universidades do Brasil a, grande maioria na área da filosofia. Embora isso não me coloque na condição de personalista motivador, é o suficiente para me convencer que é possível os alunos se sentirem atraídos pela disciplina a ponto de fazer tão longo e sublime caminho universitário. 

Sei bem que por um lado, muitas vezes se pode justificar nossa desmotivação pela baixa valorização por parte dos governos, porém, por outro lado os alunos não podem ser as vítimas de meu descarrego de frustração, baixa estima e luta contra o sistema. Do contrário vira um campo de batalha onde o aparelho do estado mais ganha com as criticas dos alunos e pais contra a escola e a disciplina do professor do que contra o sistema que sucateia o ambiente escolar, sua estrutura física. Consequentemente leva a degradação do singelo e sagrado espírito humano da automotivação formativa, vocação nata, presente em seus professores. 

Enquanto este não for nosso propósito estaremos fadados a concordar com os jovens estudantes, de que Filosofia é uma matéria chata, repugnante, desnecessária e ridícula. Escrevo isso, imaginando o adágio que estudar tem que 'doer na carne', é romper com estruturas que nos aprisionam. Sim eu acredito nisso! ... estudar tem que doer na carne, mas ai vem novos questionamentos: Como podemos suportar esta espécie de exercício dolorido sem a coragem motivadora de enfrentar? Como romper as ditas estruturas que nos aprisionam sem a luz auxiliadora dos mestres que precisariam irradiar o conhecimento como lamparinas que mesmo enfraquecidas lutam até o fim para manter viva suas chamas? 

Filosofia não pode ser fogo morto! … precisa ser chama que queima terna e eternamente. Tem que ser luz que clareia, força que move, visão que desvela, e caminho pro mundo. Inevitavelmente ela pode ser interpretada como uma visita ao mundo do nada, mas que na essência mesmo que na sua forma abstrata em relação a vida e o mundo de cada individuo acrescenta tudo. Mesmo quando o aluno em sua 'miopia rebelde' insista em querer não enxergar. Filosofia é flecha que abre caminho, exercício nato e prodigioso da vida!  


Neuri Adilio Alves
Professor/Pesquisador e Palestrante

segunda-feira, 8 de abril de 2013

O QUE QUER A CORÉIA DO NORTE?

"Nem sempre imagens têm mais valor do que mil palavras. No caso em questão, as imagens e o retorcimento da retórica explanada pelo governo da Coreia do Norte são parte de um grande jogo de ridicularização de um regime cujo único objetivo é a autodefesa. Também existe uma ponta de luta pela sobrevivência. Sobrevivência que significa a própria sobrevida de uma nação milenar. E para mim isso basta."

Por Elias Jabbour* , 08 de abril de 2013.


Perguntemos a qualquer letrado, ou especialista. Você sabia que enquanto a Europa se ensanguentava em guerras religiosas, a Coreia já era uma nação com todos os traços que poderiam a classificar como um Estado Nacional precoce e anterior ao nascimento de Cristo? 

Você sabia que houve uma guerra entre os lados norte e sul da península coreana entre os anos de 1950 e 1953? Você sabia que foi a primeira vez, desde a independência dos EUA (1776) que os norteamericanos assinaram um armistício, ou seja, foram derrotados pela primeira vez em quase 200 anos? Você sabia que desde 1776 os EUA nunca ficaram longe de uma guerra, fora dos seus domínios, por mais de dez anos? Você sabia que na Guerra da Coreia caiu, sobre o lado norte da península, o correspondente a dez bombas nucleares testadas em Hiroshima e Nagasaki? Você sabia que, desde 2001, estão apontadas, à capital da Coreia do Norte (Pionguiangue), cerca de 60 mísseis carregados de ogivas nucleares? 

Mais perguntas: Você tem notícia acerca da invasão de um algum país por parte da Coreia do Norte? Você sabia que o país mais bloqueado, cercado e difamado no mundo é a Coreia do Norte? Será que essa difamação tem alguma relação com a derrota dos EUA na já referida guerra? Será que querem condenar a Coreia do Norte ao retorno à Idade da Pedra? Será que a Coreia do Norte há 60 anos não é o espinho na garganta dos EUA? Diante dos fatos e da história, você acha que os EUA fariam com a Coreia do Norte o mesmo que fizeram com o Iraque, o Afeganistão e outros? A Coreia do Norte tem ou não o direito de se defender? Você tem alguma dúvida sobre o destino de Kim Jong Un: seria recebido com festa num exílio na Europa ou teria o mesmo destino, com os mesmos requintes de crueldade, reservado a Muamar Kadafi? 

Responder estas questões não é uma tarefa complicada. Um mínimo de honestidade já bastaria para saber o que está em jogo nesta guerra psicológica em curso na península coreana. De imediato sugiro qualquer julgamento moral sobre a natureza do regime nortecoreano, se é socialista ou não, se é democrático ou ditatorial, bonito ou feio, rude ou sofisticado. Tem gosto para tudo. Também não seria muito legal tomar a máxima do chanceler brasileiro (Antonio Patriota), segundo quem esperava uma “atitude mais ocidentalizada do líder nortecoreano”. 

Talvez Antonio Patriota esteja levando a sério demais o conselho de Huntington sobre um Choque de Civilizações, quando na verdade tanto Huntington quanto Patriota não passam de vítimas de um verdadeiro “choque de ignorância”. Meu parêntese continua para externar algo mais de fundo. É chocante imaginar que o chefe de nossa chancelaria nunca tenha lido Edward Said (“Orientalismo: O Oriente como invenção do Ocidente”), nem tampouco Barrington Moore Jr. (“As Origens Sociais da Ditadura e da Democracia – Senhores e Camponeses na Construção do Mundo Moderno”). De forma explicita em ambos os livros ficam claras as evidências, na Ásia, de práticas democráticas ao nível da aldeia que remontam ao menos 3.000 anos. 

O que quer de fato a Coreia do Norte, partindo de um julgamento mais pautado pela história? É evidente que o regime busca sobrevida e para isso nega a lógica da rendição incondicional tão cara a outras experiências, entre elas as da URSS, Leste Europeu e recentemente da Líbia. 

Uma nação que historicamente teve seu território sob a cobiça estrangeira, cercada de grandes potências por todos os lados, passando por uma sanguinária ocupação japonesa e que sabe do que são capazes os EUA, não pode se dar ao luxo de esperar o bonde da história passar. O bonde da história derrotou as experiências socialistas da URSS e Europa, levando quase a nocaute por asfixia o governo da Coreia do Norte na década de 1990. Os últimos 25 anos foram marcados por privações de todo tipo, levando inclusive a fome para o outro lado do rio Yalu. O bloqueio, a fome imposta de fora para dentro e as inúmeras ameaças militares e provocações (Coreia do Norte como parte do “Eixo do Mal”, segundo Bush) só fez restar ao governo nortecoreano a opção de se “armar até os dentes” diante do que ocorria em Belgrado sob as hostes das chamadas “intervenções humanitárias”. 

Poucos regimes no mundo tem uma noção da política como uma ciência que leva em conta não somente a correlação de forças, mas também o chamado tempo e espaço. Asiáticos e milenares que são os coreanos dão mostras de ter ido além de Maquiavel, aproximando-se de Lênin acrescido de alguma sabedoria confuciana e espírito de rebeldia herdado pelos ensinamentos de Laotsé. Somente gente preparada poderia manter em pé um país cercado, humilhado e ameaçado desde seu nascedouro e com um cenário recrudescido nas últimas duas décadas. 

O conceito de ditadura não serve de explicação. Mais pobre ainda é levar à sério certas conversas do tipo “governo que se mantém às custas da fome do povo e do não cumprimento dos direitos humanos”, quando na verdade a soberania nacional está acima de qualquer direito humano. Ou se acredita ser possível algum direito humano sob ameaça ou intervenção estrangeira? O único direito humano universal é o direito à vida. E o direito a vida naquela parte do planeta se confunde e se entrelaça com o direito de ser nação soberana. É simples, sem ser simplista: a Coreia do Norte não está de brincadeira, pois sabem com quem estão lidando e do que são capazes os EUA. 

Os nortecoreanos querem ter o direito de ser o que eles decidiram ser desde a explosão das primeiras revoltas camponesas contra a ocupação japonesa, ainda na década de 1910 do século passado. Ao invés de buscarmos dar lições de democracia, civilidade e de governo para uma nação milenar, seria mais interessante entender como um país exposto àquelas condições pode alcançar um nível de desenvolvimento tecnológico capaz de projetar e lançar satélites artificiais, mísseis intercontinentais e mesmo bombas nucleares, algo que nem nossos amigos do Irã e seus imensos recursos petrolíferos conseguiram até hoje. 

Acho que se decifrarmos a formação social que forjou um povo capaz de expulsar Gengis Khan de seus domínios, no auge do poderio militar do Império Mongol, chegaremos a explicações mais plausíveis e próximas da realidade. 

Elias Jabbour é doutor em Geografia Humana pela FFLCH-USP. Autor de “China Hoje: Projeto Nacional, Desenvolvimento e Socialismo de Mercado” (Anita Garibaldi/ EDUEPB, 2006). 

Fonte:

sábado, 6 de abril de 2013

ENTRE O PERFEITO E O IMPERFEITO UMA CONTRADIÇÃO!

"Bem aventurados os que se usam da mentira pra serem perfeitos, porque deles será o caminho da contradição."

Ser Católico, Evangélico, Protestante, Pentecostal e afins é fácil, difícil mesmo é ser cristão todos os dias!

Há anos que observo como os indivíduos costumam 'puritanizar' (tornar puro) o seu próprio espaço pessoal/ temporal de suas relações sociais. Formando uma espécie de "Tribo do Ritualismo Puritano". E tudo que estiver fora desta bolha existencial é mera profanação, caminho do erro. 

É muito fácil edificar um mundo próprio, o difícil é sustentar a verdade que tanto se defende, porque ela também é filha das contradições. 

Ainda não vi nos supermercados a FARINHA só pra Católico, o ARROZ só pra Evangélico, o Açúcar só pra Protestante, ou o Feijão só pra Pentecostal. 

Assim como não vi esta mesma divisão de consumo primário especificado por opção sexual, Heterosexual/Homossexual/Homoafetiva. 

A única coisa que não nos cansamos de ver é o mesquinho modo como as cabeças pequenas setorizam, dividem, segregam e mutilam as relações sociais da existência!

Cada um alimentando a seu modo o "Perfeito" Dragão Cor-de-Rosa na Garagem, o mesmo Dragão que por um capricho "Imperfeito" com a realidade universal, Flutua, é Imaterial e Gelado, como afirma o cosmólogo Carl Segan! Ou seja só existe na consciência fragmentada e desconexa com a complexidade da realidade. Um perigo pra nossa época! 

E Deus disse: Façam-se o 'Puros e os Impuros' e povoem a terra, eis que a terra ficou coberta de mentirosos!!! - Enfim Deus complementou: 'Bem aventurados os que se usam da mentira pra serem perfeitos, porque deles será o caminho da contradição.'

Enfim Deus também se fez Homem e se Humanizou, Ele contrariou o reflexo frágil de nossa própria perfeição!

Neuri Adilio Alves
Professor/Pesquisador