segunda-feira, 12 de julho de 2010

Mais três estados criam juizados de violência contra a mulher

Dos 27 estados brasileiros, somente quatro ainda não possuem Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, que foram criados pela Lei Maria da Penha. Recentemente os estados do Piauí, Tocantins e Roraima promoveram a instalação desses juizados. Com isso, apenas os estados de Santa Catarina, Paraíba, Rondônia e Sergipe ainda não possuem esses juizados especializados.

 

De acordo com a presidente da Comissão de Acesso à Justiça e Cidadania do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), conselheira Morgana Richa, a 4ª Jornada da Lei Maria da Penha, realizada em março deste ano, e os Mutirões da Cidadania do Conselho pretendem que todos os estados possuam os juizados até o final deste ano.

Segundo ela, os estados de Santa Catarina, Paraíba e Rondônia estão preparando cronograma para criar as unidades até o final do ano. “Em Rondônia, há a previsão de aprovação de uma lei nos próximos dias para autorizar a criação do Juizado”, explica Morgana.

A conselheira Morgana esclarece que a meta de 100% de juizados de Violência Doméstica instalados proporcionará um atendimento mais adequado às mulheres. “É necessária uma estrutura exclusiva e apropriada, pois trata-se de um tema muito delicado”, afirma.

A conselheira destaca que mesmo com as limitações e dificuldades do Judiciário local é preciso ampliar as políticas públicas voltadas para as mulheres vítimas de violência. “O Judiciário precisa priorizar aspectos essenciais na seara dos Direitos Fundamentais, onde se inserem os grupos de maior vulnerabilidade”, opina.

Até março deste ano, havia 43 Juizados especializados em Violência Doméstica contra a Mulher, sendo que alguns estados possuíam mais de um juizado, como no caso do Rio de Janeiro com seis unidades. Atualmente, há 46 juizados em todo o país. Até o final deste mês haverá 48, pois o Tribunal de Justiça de Tocantins criará uma unidade em Araguaína e outra em Gurupi. Segundo informações prestadas ao CNJ por esses juizados, há aproximadamente 195 mil processos em andamento referentes a violência doméstica e familiar contra a mulher.

Agência CNJ de Notícias


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Bolívia quer que água seja declarada direito humano irrevogável 

O presidente da Bolívia, Evo Morales, anunciou nesta segunda-feira (13) que seu governo apresentou perante as Nações Unidas um projeto de resolução para que o acesso à água seja um direito humano irrevogável. Em entrevista coletiva no Palácio de Governo, Morales ressaltou que o direito à vida, incluído na carta de Direitos Humanos da ONU, "é impossível" sem a água. "Meu pedido, desde a Bolívia, aos presidentes e aos Governos dos cinco continentes que são parte das Nações Unidas, é que aprovem a água como direito humano", sentenciou.

O líder lembrou que a Constituição de seu país, promulgada no ano passado, já considera o acesso à água um direito da população boliviana, e agora espera que se faça o mesmo no organismo internacional. Segundo Morales, isso ajudaria a cumprir com os Objetivos do Milênio para o ano 2015, entre os quais se encontra a dotação de água potável e saneamento em todo o mundo. "Seria totalmente contraditório para as Nações Unidas dizer que aprova como objetivo dotar o mundo de água potável e saneamento, e não declarar a água um direito humano", opinou.

Morales fez uma chamada aos movimentos sociais para que pressionem os Governos "que não querem debater". "Se a água continuar sendo um negócio privado, é uma forma de prejudicar os direitos humanos e por isso deve haver uma resolução para declarar a água um direito humano no mundo todo. (...) Em alguns países, infelizmente, ela está como um direito e negócio privado, quando deveria ser de serviço público", assegurou. Morales explicou que, por causa da mudança climática, a falta de água afeta cada vez mais o mundo. "Sem água não podemos viver, estamos trabalhando para que a água seja declarada um direito humano", concluiu.

De acordo com o embaixador da Bolívia nas Nações Unidas, Pablo Solón, a falta de acesso à água potável e serviços de saneamento de qualidade provoca a morte de uma criança a cada oito segundos, a mais alta taxa de letalidade das patologias no planeta. Para ele, o fato de a água não estar listada entre os direitos humanos obrigatórios tem permitido que as decisões políticas relacionadas ao tema sejam tratadas por instituições que não respondem aos Estados membros da ONU e não se aderem a suas normas. Portanto, “é muito importante que muitos Estados contribuam com esta resolução e que ela seja aprovada com a linguagem clara”, disse o embaixador. A proposta boliviana faz parte de uma das medidas solicitadas na carta de motivos da I Conferência Mundial de Povos e Direitos da Mãe Terra, que aconteceu em abril na cidade de Cochabamba, na Bolívia.

O jornal boliviano Los Tiempos afirma que a solicitação lembra que quando se escreveu a Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948, ninguém podia prever no dia no qual a água seria uma área de dificuldade, mas que agora não é um exagero dizer que a falta de acesso à água limpa é a maior violação aos direitos humanos no mundo. 

“O mundo precisa de um sinal claro que mostre que a água é um assunto prioritário”, disse Solón. 
Com agências
Fonte: http://www.vermelho.org.br/noticia


"Mary e Max – Uma Amizade Diferente"

Cloves Geraldo *

Iguais e diferentes

Animação do diretor australiano Adam Elliot trata de amizade e frustrações que as estruturas sociais causam às pessoas

                As vidas de dois seres quase improváveis permitem ao diretor australiano Adam Elliot discutir as relações sociais nos tempos atuais. A partir da história real da garota australiana Mary Dinkle, 8 anos, e do estadunidense Max Horovitz, 44 anos, ele se vale da animação para estruturar sua narrativa, centrada em estados de espírito, visões de mundo, desencontros amorosos, compulsão consumista e, sobretudo, amizade entre eles. Uma história que atravessa 20 anos, entre altos e baixos, retraimento e fuga da realidade com que ambos se deparam, para manter vivas suas expectativas.
                Elliot, responsável pelo roteiro, direção e animação, estrutura a narrativa de modo a que o espectador não perceba que está diante de personagens que agem como pessoas reais. Vale-se das vozes dos atores Toni Collete (Mary), Philip Seymour Hoffman (Max) e Eric Bana (Damian) para torná-los críveis, próximos dele, espectador. Diferentes das dublagens das animações tradicionais que enfatizam encantamento e medo, jogando com suas emoções.
                Além disso, os ambientes/cenários contribuem para esta verossimilhança. Sombrios, amarronzados; dão densidade ao clima opressivo em que Mary e Max vivem. Móveis, utensílios, fotografias e animais, longe de serem decorativos, são extensões de ambos. Gordinha, inquieta, insatisfeita consigo e com os pais, ela tenta evadir-se de sua casa; ele, obeso, sofrendo da Síndrome de Asperger (espécie de autismo), mal consegue se deslocar pelo seu apartamento. Elliot trabalha-os não com suas fraturas, prefere dotá-los de humor corrosivo, criativo, tornando-os interessantes, simpáticos, até.
                Difícil conduzir uma narrativa assim, sem deixá-la cansar o espectador, por mais que o diretor/amimador tenha encontrado um equilíbrio nas sequências, cenas e entrechos. Trata-se de animação sem grandes lances de ação e desfecho grandioso. Elliot consegue manter o espectador atento pela forma como sua câmera foca os personagens. Ela está sempre próxima de Mary, de sua mãe, de seu galo; sempre situando Max entre móveis, utensílios e seu peixe no aquário. Quando dele se aproxima é para captar suas reações à vida ou para concentrar-se numa carta de ou para Mary.
             Preferências cotidianas unem Max e Mary
             Este tipo de narrativa ajuda o espectador entender o papel dos cenários. Tanto Mary, vivendo no subúrbio de Melbourne,  Austrália,  quanto Max, morando em Nova York, compensam suas carências de formas adversas. Ela tentando escapar à solidão, ao alcoolismo e roubos da mãe; ele entupindo-se de chocolate e fugindo da colega do grupo de tratamento de Asperger consume seu dia vendo tv. No entanto, eles têm em comum gostar do mesmo programa de televisão e compensar suas frustrações convivendo com animais – Mary com um galo, Max com um peixinho.
                Estes são mais que bichos de estimação, viram muletas, substitutos de pais, amigos, amantes, companheiros/as. Mary procura substituir estas compensações à medida que cresce. Consegue alguém para discutir suas carências; Max, cada vez mais velho, mantém-se solitário, comendo cada vez mais chocolates. Elliot nesta caracterização introduz um elemento importante para a compreensão de ambos: o que leva uma garota australiana a se tornar amiga por duas décadas de um estadunidense sem esperança alguma de elevar-se de patamar numa sociedade de massa?
                A resposta é simples: seus pontos em comum. Justamente aquilo que, em princípio, poderia ser improvável. Mas não é. São duas pessoas comuns. Gostam do mesmo programa de TV e adoram chocolate. Através destes marcos de identidade, elas trocam cartas, presentes e ficam cada vez mais próximas. Elliot dota-os de humor e criatividade para mostrar o quanto são diferentes, o  quanto são iguais. Principalmente, quando ela, iniciando a amizade quer saber como surgem os bebês nos EUA.  A resposta que ele lhe dá é hilariante, corrosiva, daquelas que fazem rir e pensar na mordacidade de Max para com padres, rabinos e freiras.
                São nestas sequências que os comentários ácidos do judeu Max e as inquietações da sensível Mary levam o espectador a entender o que, na verdade, quer Elliot. Mostrar como ambos são vítimas das estruturas sociais, capitalistas, feitas supostamente para “o bem estar” e terminam causando dores e frustrações. Max é um faz tudo, ex-comunista, que não sonha com mais nada. Seu horizonte vai apenas até pilhas e pilhas de caixas de chocolate. O de Mary, depois de tentar escapar à solidão, é o de mãe solteira em busca de uma saída. Elliot, mesmo assim, evita cair no pessimismo: Mary encontra nas cartas de Max, pregadas na parede do apartamento dele, a satisfação de tê-lo tido como amigo.
Um belo filme, em que a sobriedade narrativa em off de Barry Humphries ajuda a compreender melhor a natureza humana e as estruturas que os aprisiona. Nem se percebe os recursos de animação usados por Elliot. Eles estão ali para compor um quadro dos tempos atuais, cheios de carências e poucas compensações.

Mary e Max – Uma amizade Diferente” (“Mary e Max”). Drama. Animação. Austrália. 2009. 93 minutos. Roteiro, Direção, Animação: Adam Elliot.


* Jornalista e cineasta, dirigiu os documentários "TerraMãe", "O Mestre do Cidadão" e "Paulão, lider popular". Escreveu novelas infantis,  "Os Grilos" e "Também os Galos não Cantam".

Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna

Serra está nos devendo uma resposta: é ou não é um impostor?

Ao comentar neste domingo (11), em seu blog, o manifesto assinado pelos presidentes de cinco centrais sindicais que acusa o candidato José Serra de mentir aos trabalhadores brasileiros, o jornalista Josias de Souza, da Folha de São Paulo, observou que o ex-governador paulista “ainda não se manifestou publicamente sobre os ataques que lhe foram dirigidos”.


Convém ressalvar que o funcionário da Folha de São Paulo sempre foi hostil aos movimentos sociais e, a exemplo da empresa em que trabalha, também tucanou. No texto sobre o manifesto chama os presidentes das centrais de mandachuvas e mandarins do sindicalismo.
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Afirma também que a Conferência Nacional da Classe Trabalhadora (Conclat), realizada em 1º de junho, definiu apoio à candidatura de Dilma Rousseff à Presidência, o que não corresponde à verdade. Embora a maioria dos sindicalistas esteja engajada na campanha de Dilma, a Conclat não indicou apoio a nenhum candidato em respeito à pluralidade política dos sindicatos. Os sindicalistas aprovaram dois documentos, um manifesto político e uma agenda da classe trabalhadora por um novo projeto de desenvolvimento nacional fundado em três valores fundamentais: soberania, democracia e valorização do trabalho. A mídia hegemônica não viu a Conclat, mas fez questão de reproduzir informações distorcidas sobre (e contra) o evento.


Apesar do equívoco apontado e dos preconceitos contra os representantes dos trabalhadores, a observação final do blogueiro da Folha é pertinente. Serra está devendo uma resposta à sociedade. O eleitor tem o direito e até o dever de saber se o candidato que lhe pede voto para presidente da República é mentiroso ou não.

Leia abaixo o comentário de Josias de Souza:

Centrais sindicais chamam José Serra de ‘mentiroso’

Em “manifesto” assinado pelos presidentes de cinco centrais sindicais, o presidenciável tucano José Serra foi chamado de “mentiroso”.

O texto contesta duas informações difundidas por Serra: a de que seria responsável pela criação do FAT e a de que teria tirado do papel p seguro-desemprego.

“Não fez nem uma coisa, nem outra”, anota o libelo das centrais, fechadas com a candidatura petista de Dilma Rousseff.

O documento traz as assinaturas dos presidentes da CUT, Força Sindical, CGTB, CTB e NCST. “Serra: impostura e golpe contra os trabalhadores”, eis o título.

Quanto ao seguro-desemprego, os mandachuvas das centrais sustentam que “a verdade” é que foi criado por meio de decreto presidencial (número 2.284).

Editado em 10 de março de 1986, foi assinado pelo então presidente José Sarney. O texto das centrais acrescenta:

“Sua regulamentação ocorreu em 30 de abril daquele ano, através do decreto nº 92.608, passando a ser concedido imediatamente aos trabalhadores”.

Sobre o FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador), as centrais afirmam: “Foi criado pelo projeto de lei nº 991, de 1988, de autoria do deputado Jorge Uequed (PMDB-RS)”.

Acrescentam: “Um ano depois, Serra apresentou um projeto sobre o FAT (nº 2.250/1989), que foi considerado prejudicado pelo plenário da Câmara”.

Deu-se, segundo as centrais, “na sessão de 13 de dezembro de 1989”.

A proposta de Serra teria descido ao arquivo porque “o projeto de Jorge Uequed já havia sido aprovado”.

Como que decididos a abortar o esforço de Serra para "apresentar-se como beneméreito dos trabalhadores", os presidentes das centrais capricharam na desqualificação:

“[...] Tanto no Congresso quanto no governo [de São Paulo], sua marca registrada foi atuar contra os trabalhadores. A mentira tem perna curta e os fatos desmascaram o tucano”.

Na Constituinte (1987-1988), escrevem os dirigentes das centrais, Serra “não votou” uma série de propostas. Listaram-se nove temas:

1. “Serra não votou a redução da jornada de trabalho para 40 horas”.
2. “Não votou pela garantia de aumento real do salário mínimo.
3. “Não votou pelo abono de férias de 1/3 do salário”.
4. “Não votou para garantir 30 dias de aviso prévio”.
5. “Não votou pelo aviso prévio proporcional”.
6. “Não votou pela estabilidade do dirigente sindical”.
7. “Não votou pelo direito de greve”.
8. “Não votou pela licença paternidade”.
9. “Não votou pela nacionalização das reservas minerais”.
De acordo com o “manifesto” das centrais, foi “por isso” que o Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar) deu nota baixa a Serra.

O desempenho do então deputado constituinte tucano rendeu-lhe média 3,75 na aferição do Diap. A nota máxima era 10.

De resto, os presidentes das cinco centrais esmeraram-se nos ataques ao estilo de Serra à frente do governo de São Paulo. Anotaram coisas assim:

“Reprimiu a borrachadas e gás lacrimogênio os professores que estavam reivindicando melhores salários”.

Em maio, a ministra Nancy Andrighi, do TSE, aplicou multa de R$ 7.000 à Apeoesp, associação sindical que representa os professores do Estado de São Paulo.

A multa foi estendida à presidente da entidade, Maria Izabel Azevedo Noronha, a Bebel. Ela desancava Serra em assembléias e manifestações.

Acionado pelo PSDB e pelo DEM, o TSE entendeu que a greve, por política, promoveu “propaganda negativa de Serra”. Daí as multas.

Em 1ª de junho, as centrais que agora atacam Serra realizaram, em São Paulo, um encontro batizado de Conferência Nacional da Classe Trabalhadora”.

Nessa reunião, aprovaram um “programa de desenvolvimento” para o país. E declararam apoio à candidatura petista de Dilma Rousseff.

Serra ainda não se manifestou publicamente sobre os ataques que lhe foram dirigidos pelos mandarins do sindicalismo pró-Dilma.

Da redação, com Blogs da Folha


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Mesmo quando erra, a ciência busca a verdade

Carlos Pompe *

 
Nature: Contraindo o próton  
A mais recente edição da revista Nature noticia experimentos que colocaram em dúvida alguns dados da eletrodinâmica quântica, teoria que, desde o século passado, explica os fenômenos elétricos, magnéticos e a forma como a luz interage com a matéria. E, ao diagnosticar seu próprio erro, a ciência reafirma sua utilidade como a mais eficaz ferramenta de conhecimento já produzida pela mente humana. Como a definiu Carl Sagan, “é antes um modo de pensar do que propriamente um conjunto de conhecimentos”. A eletrodinâmica quântica, ou QED, está sendo colocada em questão por um experimento que apurou a medição mais perfeita já obtida do raio do próton, uma das partículas presentes no núcleo de todos os átomos. O raio de próton é uma fração de femtômetro – um bilionésimo de milímetro, a menor unidade de medida dominada. O raio do próton encontrado foi ordem de 0,84 femtômetro – a medida atualmente aceita, e agora questionada, era de algo próximo de 0,87. A diferença fica além das margens de erro estatístico.
O erro está sendo debatido pelos especialistas, com o intuito de aprimorar ou refutar a teoria da QED. "Um problema na física da QED é a explicação menos provável, mas de longe a mais interessante e a principal motivação para trabalhos assim", escreve Jeff Flowers, do Laboratório Nacional de Física do Reino Unido, na Nature. E informa: "Por causa da discrepância entre o resultado deste artigo e os trabalhos anteriores, o artigo foi revisado, tanto formal quanto informalmente, por especialistas em física teórica e experimental, e ninguém conseguiu apontar um erro. Claro, isso não prova que não haja erro, mas ele com certeza não é óbvio".


Randolf Pohl, do Instituto Max Planck de Óptica Quântica, na Alemanha, um dos responsáveis pela nova medição, disse que ele e sua equipe estão “muito intrigados. Os experimentos são todos muito precisos e redundantes, então é difícil ver como poderiam ter errado tanto. E os teóricos acreditam que seus cálculos estão corretos. Minha opinião pessoal é que temos muito trabalho pela frente. Só se ninguém encontrar um erro é que poderemos presumir que a QED está em apuros". O pesquisador considera que “se a QED estiver errada, seria um efeito muito sutil, que não afetaria o funcionamento interno de televisores ou computadores".
O físico Flowers alerta que “uma falha da QED terá, de imediato, implicações para a física e para o nosso modelo do mundo e, no futuro, possivelmente em aplicações de alta precisão e tecnologias que ainda não conhecemos. Esperamos continuar a refinar nossa compreensão e nossa capacidade de manipular o mundo físico".
Segundo Carl Sagan, “a ciência está longe de ser um instrumento perfeito de conhecimento. É apenas o melhor que temos. A ciência, por si mesma, não pode defender linhas de ação humana, mas certamente pode iluminar as possíveis consequências de linhas alternativas de ação.
O modo científico de pensar é ao mesmo tempo imaginativo e disciplinado. Isso é fundamental para o seu sucesso. A ciência nos convida a acolher os fatos, mesmo quando eles não se ajustam às nossas preconcepções. Aconselha-nos a guardar hipóteses alternativas em nossas mentes, para ver qual se adapta melhor à realidade. Impõe-nos um equilíbrio delicado entre uma abertura sem barreiras para ideias novas, por mais heréticas que sejam, e o exame cético mais rigoroso de tudo: das novas ideias e do conhecimento estabelecido”. (O Mundo Assombrado Pelos Demônios).
Sem dúvida, pensar científicamente é difícil. Mas, como disse Umberto Eco, “não se preocupe se alguns dizem que falamos difícil: eles poderiam ter sido encorajados a pensar fácil demais pela ‘revelação’ da mídia, previsível por definição. Que aprendam a pensar difícil, pois nem o mistério, nem a evidência são fáceis”. (Em que crêem os que não crêem?)

Expondo, debatendo e relativizando suas próprias conclusões a cada novo avanço, a ciência mostra seu feitio avesso a dogmas e a verdades eternas. Na segunda metade do século XIX, Karl Marx já destacava que “o caminho histórico de todas as ciências só leva a seus pontos de partida efetivos depois de numerosos desvios e rodeios. Ao contrário de outros arquitetos, a ciência não apenas projeta castelos no ar como também constrói diversos andares habitáveis do edifício antes de lançar os seus alicerces”. (Para a crítica da economia política).

O atual debate sobre o QED é mais uma confirmação da verdade dessas palavras.
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Aticemos nossa curiosidade no Twitter: http://twitter.com/Carlopo

* Jornalista e curioso do mundo.
Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna
Esse texto é uma reflexão de Fidel Castro e serve para aqueles que gostam de Futebol em tempos de Copa do Mundo e que gostam de política internacional. Dizem que notícias ruins não devem ser propagadas, mas como seres racionais e questionadores que somos tal qual descreveram Sócrates e Platão, não custa nada dar uma olhadinha no que esse Senhor Cubano escreve sobre as questões políticas e sociais. 

A felicidade impossível 

Por Fidel Castro! 

Prometi que seria o homem “mais feliz do mundo se estivesse equivocado” e, infelizmente a minha felicidade durou muito pouco. 

Ainda não acabou a Copa do Mundo. Ainda faltam seis dias para a partida final. Que extraordinária oportunidade perderá, possivelmente, o império ianque e o estado fascista de Israel para manter as mentes da grande maioria das pessoas no mundo afastadas de seus problemas fundamentais! Quem teria notado os sinistros planos do império com relação ao Irã e seus brutos pretextos para agredí-lo? Ao mesmo tempo, eu me pergunto: o que fazem, pela primeira vez, os navios de guerra Israelenses nos mares do Golfo Pérsico, do estreito de Ormuz e das áreas marítimas do Irã? É possível imaginar que dali marcharão os porta-aviões nucleares ianques e os navios de guerra de Israel, com o rabo entre as pernas, quando forem cumpridas as exigências contidas na Resolução 1.929, de 9 junho 2010, adotada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, que mantém a autorização para a inspeção de navios e aeronaves iranianos, com a possibilidade de levá-la a cabo em território de qualquer estado e que, neste momento, permite fazê-lo inclusive em navios em alto mar? A resolução também estabelece que não se realizariam inspeções de navios iranianos sem o consentimento do Irã. Nesse caso, a negação seria objeto de análise. 

Outro elemento adicionado é a possibilidade de confiscar o inspecionado, se ficar confirmado que ele viola as disposições da Resolução. Um Irã desarmado foi vítima daquela guerra cruel com o Iraque, na qual massas de Guardiões da Revolução limpavam os campos de minas avançando sobre as mesmas. Este não é o caso de hoje. Expliquei em reflexões anteriores que Mahmud Ahmadinejad foi chefe dos Guardiões da Revolução no oeste do Irã, que teve o peso principal daquela guerra. Anos mais tarde, um governo iraquiano encorajado enviou a maior parte de seus Guarda Republicana e anexou o emirado árabe do Kuwait, rico em petróleo, que foi presa fácil. 

O governo iraquiano mantinha estreita amizade com Cuba, que lhe fornecia, desde os tempos em que não estava em guerra com ninguém, importantes serviços de saúde. Nosso país tentou convencê-lo a sair do Kuwait e acabar com a guerra que havia sido provocada a partir de pontos de vista errôneos. Hoje sabemos que uma embaixadora ianque medíocre, que tinha excelentes relações com o governo do Iraque, o induziu ao erro cometido. 

Bush pai atacou o seu antigo amigo chefiando uma potente coligação - com uma forte composição árabe-muçulmana-sunita, de países que abasteceram de petróleo a grande parte das nações industrializadas e ricas -, a qual avançou desde o Sul do Iraque para cortar a retirada da Guarda Republicana que se dirigia para Bagdá, e, por prudência da Infantaria de Marinha e das Forças Armadas dos Estados Unidos - sob o comando de Colin Powell, general com prestígio, e posteriormente secretário de Estado de George W. Bush -, fugiu para a capital do Iraque. Por pura vingança, contra ela utilizaram projéteis contaminados com urânio empobrecido e, com isso, pela primeira vez, experimentaram o dano que poderiam produzir nos soldados adversários. O Irã, que agora é ameaçado com seus exércitos pelo ar, mar e terra, de religião muçulmano-xiita, em nada é parecido à Guarda Republicana que atacou impunemente no Iraque. 

O império está a ponto de cometer um impagável erro sem que nada o possa impedir. Avança inexoravelmente para um sinistro destino. A única coisa que se pode afirmar é que houve quartas-de-final na Copa Mundial do Futebol. Assim, os fãs do esporte pudemos desfrutar dos emocionantes jogos em que vimos coisas incríveis. Afirma-se que, em 36 anos, o time da Holanda não perdia em uma sexta-feira em jogos da Copa Mundial do Futebol. Apenas, graças aos computadores foi possível fazer esse cálculo. O fato real é que o Brasil foi eliminado das quartas-de-final da Copa. Um juiz deixou o Brasil fora da Copa. Pelo menos essa foi a impressão que não deixou de repetir um excelente comentarista esportivo da televisão cubana. Depois, a FIFA declarou que era correta a decisão do árbitro. Mais tarde, o mesmo juiz deixou o Brasil com 10 jogadores em um momento decisivo, quando ainda restava mais da metade do segundo tempo do jogo. Com certeza essa não foi a intenção do árbitro. 

Ontem a Argentina foi eliminada. Nos primeiros minutos, o time alemão, através do meio-campo Muller, surpreendeu à confiante defesa e ao goleiro argentino, conseguindo marcar um gol. Posteriormente, não menos de 10 vezes, os centroavantes argentinos não conseguiram marcar um gol. Pelo contrário, o time alemão marcou outros três gols e até Ângela Merkel, chanceler da Alemanha, aplaudia com muito entusiasmo. Assim, novamente, um dos times favoritos perdeu. Dessa forma, mais de 90% dos fãs do futebol em Cuba ficaram atônitos. 

A maioria esmagadora dos amantes desse esporte nem sequer sabem em que continente está localizado Uruguai. Uma final entre países europeus será a mais descolorida e anti-histórica desde que nasceu esse esporte no mundo. No entanto, na areia internacional aconteceram fatos que não têm nada a ver com os jogos de azar e, sim, com a lógica elementar que rege os destinos do Império. Uma série de notícias foram veiculadas nos dias 1, 2 e 3 de julho. Todas giram em torno de um fato: as grandes potências representadas no Conselho de Segurança das Nações Unidas com direito ao veto, mais a Alemanha, instaram, no dia 2 de julho, o governo do Irã a dar “uma rápida resposta” ao convite que lhe foi feito para reiniciar as negociações sobre o seu programa nuclear. 

O presidente Barack Obama assinou no dia anterior uma Lei que alarga as medidas existentes contra as áreas energética e bancária do Irã e poderia punir as companhias que realizem negócios com o governo de Teerã. Quer dizer, um bloqueio rigoroso e o estrangulamento do Irã. O presidente Mahmoud Ahmadinejad afirmou que o seu país reiniciará as conversações no fim de agosto e sublinhou que nelas devem participar países como o Brasil e a Turquia, os dois únicos membros do Conselho de Segurança que rejeitaram as sanções do passado dia 9 de junho. Um funcionário de alto nível da União Europeia advertiu, pejorativamente, que nem o Brasil nem a Turquia serão convidados para participar nas conversações. Não falta nada mais para tirarmos as conclusões pertinentes. Nenhuma das duas partes cederá; uma, pelo orgulho dos poderosos, e a outra, pela resistência ao jugo e pela capacidade para combater, como tem acontecido tantas vezes na história do homem. O povo do Irã, uma nação de milenares tradições culturais, sem dúvidas, vai defender-se dos agressores. É incompreensível que Obama pense seriamente que o Irã aceitará suas exigências. 

O presidente daquele país e os seus líderes religiosos, inspirados na Revolução Islâmica de Ruhollah Khomeini, criador dos Guardiões da Revolução, as Forças Armadas modernas e o novo estado do Irã resistirão. Os povos pobres do mundo, que não temos a menor culpa do colossal enredo criado pelo imperialismo - localizados neste hemisfério ao Sul dos Estados Unidos, outros situados no Oeste, no Centro e no Sul da África, e os que possam ficar ilesos da guerra nuclear no resto do planeta -apenas temos a alternativa de encarar as conseqüências da catastrófica guerra nuclear que vai estourar em brevíssimo tempo. Infelizmente não tenho nada que retificar e me responsabilizo plenamente por tudo o que escrevi nas últimas reflexões. 
 
Fidel Castro Ruz 4 de julho de 2010 17h36