quinta-feira, 22 de abril de 2010

Brasília, 50: do sonho de José Bonifácio à integração do Brasil

Brasília, símbolo da integração nacional e da realização do povo brasileiro, começou como um sonho do patriarca da nossa Independência, José Bonifácio de Andrada e Silva.

A ideia de transferência da capital para os altos sertões da pátria foi retomada nos primórdios da República, pelo governo do marechal Floriano Peixoto, que constituiu a Comissão Cruls, para localizar no Planalto Central do Brasil, a mil quilômetros do Rio de Janeiro, a exata localização da futura capital do país.

O governo do consolidador da República não pôde realizar o sonho, que foi retomado por outro visionário, o presidente Juscelino Kubitschek. Realização dos gênios de Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, Brasília teve também a presença dos trabalhadores, chamados candangos, que ajudaram a transformar em realidade o sonho dos patriotas que pensaram em integrar o Brasil profundo através da construção de uma capital no coração do país.

Cinquenta anos depois de fundada, Brasília alcançou o objetivo dos que a projetaram. A integração é hoje uma realidade, não somos mais uma civilização apenas litorânea, como disse um escritor antigo, de caranguejos bordejando o litoral para um lado e para o outro. Hoje integramos o Centro-Oeste, a Amazônia, e Brasília teve um papel fundamental na ocupação de todo esse vasto território.

Goiânia hoje é uma metrópole e Goiás um estado progressista. O Mato Grosso é um centro importante da agricultura e da pecuária no Brasil. Cuiabá, Campo Grande, mais recentemente Palmas, Rondônia com sua capital Porto Velho, o Acre, a metrópole da Amazônia, Manaus, dão ao Brasil, com todos os seus problemas e deformidades, a ideia de uma nação única, que tem a integrá-la sua capital no centro-oeste da nossa pátria.

É evidente que além de capital administrativa, de centro dos Três Poderes, Brasília tem também valor arquitetônico inestimável. É uma lição pedagógica de um povo que acredita na sua capacidade de empreender e de realizar. Brasília não é apenas uma realidade política, econômica e social, é também uma homenagem à inteligência de nossa arquitetura e de nosso planejamento urbano.

Reflete, por outro lado, as desigualdades e os desequilíbrios do país. Os pobres e os ricos, os que têm um padrão de vida elevado, e aqueles que lutam desesperadamente para ter acesso ao emprego e serviços públicos. Mas esse é outro desafio que nos cabe enfrentar.

Brasília também precisa ser uma cidade justa, socialmente equilibrada, referência para o povo brasileiro, exemplo de cuidado com os interesses nacionais, o que nem sempre tem acontecido.

Nesse momento de celebração, nos cabe, com o olhar crítico, mas otimista, festejar Brasília. Homenagear seu povo, síntese de todo o povo brasileiro, e ter um gesto de agradecimento aos que acreditaram no passado que o presente seria possível.

* Aldo Rebelo é jornalista, escritor e deputado federal (PCdoB-SP)

Por Aldo Rebelo*, em seu site

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Excesso de sexo desnuda impotência do papa

Sucedem-se revelações de novos casos de padres católicos pedófilos. Com a mesma triste insistência, o Vaticano nega conhecimento dos fatos e, quando flagrado em torpe mentira, admite o acobertamento dos celerados e pede desculpa às vítimas – mas não leva os criminosos aos tribunais e nem dá assistência às crianças. Acuado, contra-ataca com declarações desastrosas, das quais depois tem que pedir vênia. Seria uma comédia dos erros, se não fosse uma tragédia em que só as vítimas são punidas.

Os casos se multiplicam. No dia 6 de abril, a Igreja Católica da Noruega e o Vaticano admitiram que a renúncia ao cargo foi a única punição que o bispo de Trondheim, Georg Mueller, sofreu pelos abusos sexuais que cometeu. Mas mesmo essa reprimenda é rara. Ocorreu em 2002, com Juliusz Paetz, arcebispo de Poznan, na Polônia, e em 1995, com o cardeal Hans Hermann, de Viena, ambos também pedófilos. Os inúmeros casos acontecidos nos EUA, Europa, América Latina e outras regiões continuam impunes e, a maioria, abafados.

No caso de Mueller, o papa Bento XVI ainda encobriu o verdadeiro motivo da repreensão ao molestador de crianças, ao divulgar que ele havia sido “renunciado” pela lei canônica 401/2, que declara que o bispo deve apresentar sua desistência caso se torne "inadequado para o preenchimento do cargo".  Convenhamos: abusar sexualmente de uma criança ou adolescente é mais, muito mais do que ser inadequado a qualquer cargo, mesmo que da hierarquia católica. É caso de cadeia, não de renunciação.

Outra revelação recente: o padre Joseph Jeyapaul, que violentou dois menores de idade nos Estados Unidos, em vez de punido foi transferido pelo Vaticano para escolas católicas na Índia, mesmo um arcebispo americano tendo informado o fato à Santa Sé. A Congregação para a Doutrina da Fé se limitou a pedir ao arcebispo de Jeyapaul que monitorasse o facínora "para que não constituísse um risco para menores e não gerasse um escândalo entre os fiéis". Numa estranha deturpação do Evangelho, não é oferecida outra face, mas crianças de outra nacionalidade ao agressor.
Impotente para enfrentar a súcia voluptuosa que encontra na batina o valhacouto para seus vícios, o papa aciona seus pares para injuriar as vítimas dos lascivos.  O decano dos cardeais, monsenhor Angelo Sodano, prestou-se ao serviço de dizer ao “Osservatore Romano”, jornal oficial do Vaticano, que o que está existindo é uma mera “divergência cultural” e que as denúncias e clamor de justiça são "ataques injustos contra o papa” que ocultariam “conceitos da família e da vida contrárias ao Evangelho".

Já seu irmão de fé, frei Raniero Cantalamessa, pregador da Casa Pontifícia, que durante a homilia da missa de Sexta-Feira Santa comparou as reações aos escândalos de pedofilia na Igreja Católica com a perseguição sofrida pelos judeus – e que não contava com a reação judaica ao seu disparate –, foi desautorizado pelos seus superiores e teve que fazer-se de arrependido. Lançado às feras pelos colegas de batina, afirmou que não teve a intenção de "ferir as sensibilidades nem de judeus nem de vítimas de pedofilia." Embora Bento XVI tenha sido comunheiro, com seu silêncio, do despautério quando foi pronunciado, Cantalamessa ainda tentou livrar a honra do Sumo Pontífice: "O papa não inspirou (o sermão) e, como todos os demais, ouvia pela primeira vez as palavras que pronunciei."

As orgias clericais não são algo de novo sob o Sol. A novidade é a revelação e a exposição massiva da alta hierarquia católica no encobrimento dos episódios. Em 1743, em Lisboa, foi publicado um Romance Católico, anônimo, pois naqueles entonces o Vaticano podia queimar quem o contrariasse. A obra tratava da devassidão de costumes em conventos e seminários. Com as palavras iniciais dessa obra em versos peço a bênção aos leitores e vou cuidar dos meus afazeres.
"Pecadores, que engolfados no mar do mundo andais, às loucuras ponde termo,  a Lei Divina observai: lástima é, ó humanos, que seja alegria tal, que em lugar de honrar a Deus, tanto assim Deus ofendais? Mas ai que chegou a tanto, o vosso enorme pecar, que até por divertimento a vosso Deus tratais mal. Santo do Céu suspendei o louvor, Anjos pasmai, que o que em voz é glória a Deus, no mundo é pena infernal: atendei para estes homens, no seu estilo de cantar, chorareis com ânsia amarga, o seu delírio, o seu mal!"
Carlos Pompe *
http://www.vermelho.org.br

À imagem e semelhança do... Homem!

“Não farás para ti imagem esculpida, nem figura alguma do que há em cima no céu, nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra.” Este é o segundo mandamento da Lei de Moisés do Velho Testamento da Bíblia, que virou o primeiro mandamento das artes plásticas contemporâneas.

A comparação não é minha, mas do poeta mineiro e estudioso de artes, Afonso Romano de Sant'Anna, em seu livro “Desconstruir Duchamp”, onde o autor tece inúmeras reflexões sobre o estado atual das artes plásticas no mundo, dominadas pela arte conceitual.

Qualquer pessoa que tenha atualmente um mínimo interesse em acompanhar como andam as coisas no mundo das artes plásticas – que a nova academia prefere chamar e incluir no termo “artes visuais” – se verá diante de um quadro bem difícil de assimilar. Num mundo onde reinam “conceitos” abstratíssimos e onde “tudo” – literalmente qualquer merda (Manzoni, artista italiano enlatou suas próprias fezes que foram vendidas a preço de ouro) – pode ser considerado arte, quem ganha é o sistema: mercado de ações, curadores, negociantes de arte, instituições e, claro, o artista digerido por esse sistema.

Mas perde o ser humano. Nesse sentido, a crise atual das artes plásticas está nos dizendo alguma coisa, e precisamos ouvi-la.

Um primeiro fato que chama a atenção é a absurda elitização daquilo que pode ser chamado de alta cultura, como livros, teatro, concertos musicais, cinema, museus. Recentemente, o Ministério da Cultura fez uma pesquisa cujos dados são alarmantes. Para não entrar em outras áreas, apenas em relação a um dos dados avaliados pelo índice que mediu o consumo cultural do povo, verificou-se que 70% dos brasileiros jamais colocou os pés em um museu!

Há muitos anos, exatamente em 1959, Ernst Fischer já chamava a atenção, em seu livro “A Necessidade da Arte”, para a falta de interesse e de empenho, por parte do sistema capitalista, de que a imensa maioria do povo tenha acesso à cultura. Diz ele: “... massa de seres humanos para os quais mesmo a velha arte é algo de inteiramente novo, seres cujo gosto artístico ainda está por se formar, cuja capacidade de apreciar as qualidades artísticas precisa ser desenvolvida”, necessitam de que a arte se liberte do fato de ser bem de uma “elite educada” a que se chama “público”. E essa “elite educada” nunca foi tão elite quanto atualmente em que a arte conceitual se assume como obra DE e PARA iniciados. Mas faz sentido! Se um tubarão congelado em formol ou uma cama desarrumada após uma relação sexual podem ser expostos como “obras de arte”, realmente para se enxergar nisso o que “eles” dizem que existe – arte – realmente há que ser um iniciado de uma de suas herméticas escolas! 

Mas o sentido da arte, segundo acredito, é o da arte que vem da História, desde as primeiras inscrições nas cavernas descobertas na Espanha e França. Criaturas criadoras que somos, desde milênios, a arte sempre serviu para nos comunicar uns com os outros, para nos unir, para nos inspirar, para nos colocar “em estado de equilíbrio com o meio circundante”, como diz também Ernst Fischer. A história da arte é a história da humanidade, uma vez que o foco – e o objetivo – da arte é o ser humano.

Humanismo percebido por Marcelo Gleiser, físico teórico brasileiro, que acaba de lançar no Brasil o seu novo livro “Criação Imperfeita”. O livro fala de ciência, de Física e Astronomia. O que isso tem a ver com Arte? O seguinte: Marcelo Gleiser propõe uma mudança de foco num paradigma tão antigo quanto a ciência: “é necessário deixar para trás a expectativa de que devemos achar explicações finais sobre o mundo, sejam elas científicas ou religiosas”, diz ele e acrescenta que essa maneira de fazer ciência nos fez evoluir e aprender muito como funciona o universo e do que somos feitos. “Por muito tempo, talvez por tempo demais, buscamos harmonias que não existem; buscamos, também, por companhia nos céus – divina ou extraterrestre, que aliviasse os temores de nossa existência.” Mas esse tempo já passou, diz ele, ao propor o que ele chama de Humanocentrismo, ou seja, a necessidade de recolocar o ser humano no centro da atenções, das ciências à artes.

Nas artes hoje vivemos sob o pensamento único que impera sob o nome de “arte contemporânea”. Mas o que exatamente significa o termo “arte contemporânea”? Para o mercado – e para o sistema atual das artes, na expressão do jornalista Luciano Trigo – significa simplesmente commodities. Arte é negócio – e negócio é arte, inclusive para alguns artistas.

Arte não é mais aquela obra de criação de um ser humano apresentada à outro com o sentido de refusão desse homem, como diz Antonio Callado, num sentido de coletividade “que completa uns homens nos outros”, que “torna novos” os homens, que incita-os “à permanente escalada de si mesmos” e da sociedade. Hoje Arte é mercadoria, no sentido capitalista definido por Marx como mais-valia. Na Idade Média, uma pintura valia um preço, mas o preço real do gasto com material e do trabalho do artista. Hoje, na busca alucinante (e alucinógena) pelo lucro a todo custo, um tubarão imerso em formol do artista plástico Damien Hirst é vendido como obra de arte por 12 milhões de dólares. O mundo deve estar louco... Mas, pensando bem, esse mundo é uma minoria, que da maioria quer mesmo é distância. Melhor – para eles – que ainda hoje 70% de brasileiros não possam ir a um museu contemplar as Belas Artes...

Essa arte hoje também é tudo, menos pluralismo. Não há espaço para pintores figurativos, por exemplo. Milhares de artistas figurativos, que teimam em representar a realidade em seus quadros, sobrevivem à margem do sistema, esquecidos, resistentes. Afonso Romano de Sant'Anna, também em seu livro “Desconstruir Duchamp” pergunta: “Quantos artistas ainda não estão traumatizados, paralisados, congelados de medo diante do desejo de pintar figuras, como se os talibãs os fossem pegar em flagrante?”

Voltando à frase bíblica inicial, podemos pensar que realmente hoje há um medo da imagem no mundo das artes plásticas – grande paradoxo gerado pela sociedade pós-moderna que multiplica-se em milhões de imagens. Mas esse medo é o mesmo medo de se voltar ao ser humano, de recolocá-lo no centro, como propõe Marcelo Gleiser. É o mesmo medo das elites de que esses 70% de brasileiros possam ir aos museus, às galerias, às livrarias, aos cinemas, aos teatros, aos concertos musicais, porque no dia em que isso começar a acontecer o homem mais uma vez estará dando um salto em sua humanidade.

Para terminar, em prol dessa re-humanização das artes, Ernst Fischer:

“O homem, que se tornou homem pelo trabalho, que superou os limites da animalidade transformando o natural em artificial, o homem, que se tornou um mágico, o criador da realidade social (…) será sempre Prometeu trazendo o fogo do céu para a terra, será sempre Orfeu enfeitiçando a natureza com a sua música. Enquanto a própria humanidade não morrer, a arte não morrerá.”

* Artista plástica, membro do Atelier de Arte Realista de Maurício Takiguthi, designer gráfica. Graduanda em Letras pela FFLCH-USP. Membro da coordenação da Seção Paulista da Fundação Maurício Grabois.

Mazé Leite *
http://www.vermelho.org.br

Depois dos gays, Igreja vai culpar os judeus?

A cúpula do Vaticano está comendo o pão que o diabo amassou depois que transformou o ex-militante da Juventude Nazista, Joseph Alois Ratzinger, no papa Bento XVI. Flagrado mundialmente acobertando padres pedófilos, ele agora põe o alto clero para buscar culpados fora de suas fileiras.


O papa com Bertone atrás
O religioso que ocupa o segundo lugar na hierarquia do Vaticano, logo atrás do papa, cardeal Tarcisio Bertone, declarou no dia 12, em visita ao Chile: "Muitos psicólogos, muitos psiquiatras, demonstraram que não há relação entre celibato e pedofilia, mas muitos outros comprovaram, e me disseram recentemente, que há relação entre a homossexualidade e a pedofilia. Isto é verdade, este é o problema". 
Pretendia açoitar dois desafetos com um báculo só: os que assumem a homossexualidade e os que defendem o fim do celibato. No primeiro caso, foi contestado por organizações de todo o mundo. “Estamos deveras indignados com as palavras que Bertone pronunciou no Chile: não queira a Igreja transferir a sua culpa para outras pessoas inocentes, e penso que ela deve interrogar-se sobre sua própria falta de humanidade”, disse Paul Patane, presidente da Associação Lésbica e Gay Italiana, Arcigay.
No segundo caso, polemizava, dentre outros, com setores católicos envolvidos nas lutas sociais contra as desigualdades e as injustiças. Um dos teóricos desses setores, acreditando que “o Espírito Santo se vale de vias transversas para renovar a Igreja”, expressou sua esperança de que “as denúncias de pedofilia eclesiástica sirvam para pôr fim ao celibato obrigatório”, vendo nessa exigência a origem do mal.
A argumentação evidencia a fragilidade teórica dos setores que não conseguiram libertar-se da teologia. Os inúmeros casos de pessoas casadas (homens e mulheres) pedófilas desmentem, na prática (critério da verdade, para os materialistas dialéticos), a argumentação. Também os casos de celibatários que não avançam sobre crianças e adultos invalidam a tese (considerar que os celibatários não existem seria considerar que são todos, inclusive o autor do artigo, mentirosos).
A história registra casos de pedofilia, com ambos os sexos, aceitos culturalmente como normais desde a Antiguidade Clássica. Em algumas culturas árabes e orientais, mesmo hoje, não são objetadas. Até o início do século XX, no Brasil não eram incomuns os casamentos de adultos com meninas recém-saídas, ou nem isso, da puberdade. Casamentos sacramentados pela Santa Madre Igreja.
A cultura ocidental tem mudado seus conceitos comportamentais, com destaque no que diz respeito à sexualidade. A prostituição e o homossexualismo, em muitos países, vêm sendo descriminalizados. As prostitutas, em alguns locais, já conseguiram inclusive a regulamentação profissional. A união consensual de homossexuais também vem ganhando, além da social, a aceitação jurídica.
Com a pedofilia, porém, acontece o contrário. A tendência é reprimi-la e penalizá-la criminalmente. O Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais considera pedofilia "a atividade sexual com uma criança pré-púbere (com 13 anos ou menos)” e o indivíduo com pedofilia “deve ter 16 anos ou mais e ser pelo menos 5 anos mais velho que a criança". Na Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10 (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde), a pedofilia é identificada como "Transtorno de Preferência Sexual". As consequências prejudiciais para crianças e adolescentes podem ser físicas, psicológicas ou de comportamento, daí a sua criminalização.
As reações do alto clero às denúncias continuam azaranzadas. Seu esforço maior tem sido de se preservar, e não de apurar. Viciado pelo seu passado poderoso, busca “os suspeitos de sempre”, como o oficial pró-nazista do clássico Casablanca, de Michael Curtiz. Homossexuais, prostitutas, ciganos, judeus, mouros, protestantes e comunistas (que na primeira metade do século passado eram acusados de “comer criancinhas”) são endemoninhados. Foi o que quis fazer o segundo homem do Vaticano.
Diante da reação mundial em favor dos homossexuais, o próprio Vaticano confessou, em nota, serem as autoridades eclesiásticas incompetentes “sobre temas de caráter médico e psicológico”. E o que dizer dos pais, de todas as classes e nível cultural, que continuam fornecendo carne tenra para esses monstros?
Carlos Pompe * http://www.vermelho.org.br



domingo, 11 de abril de 2010

Greve dos professores: Serra pediu ajuda a Lula 

e rasgou acordo

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse neste sábado (10), no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que o pré-candidato do PSDB à presidência, José Serra, pediu sua ajuda quando ainda estava à frente do governo de São Paulo para debelar uma manifestação de professores grevistas, mas descumpriu o acordo. Serra teria se comprometido a receber pessoalmente os professores, mas mandou o secretário da Educação, Paulo Renato, como representante.

O pedido de ajuda ocorreu durante uma cerimônia de entrega de ambulâncias da qual ambos participaram em Tatuí, no interior paulista, em 25 de março. “Lá em Tatuí, fomos procurados pelo seu adversário que dizia para nós tentarmos ajudar na greve dos professores que iriam ao Palácio dos Bandeirantes em determinado dia”, disse Lula à pré-candidata do PT, Dilma Rousseff.

“Vim para cá, e o nosso querido companheiro Edinho (Silva, presidente do PT-SP) ligou para o governador Serra. Eu assumi o compromisso de conversar com a Apeoesp (sindicato que representa os professores estaduais)”, agregou Lula.

O presidente relatou ter conversado no mesmo dia durante o 2º Congresso da Mulher Metalúrgica, também no sindicato do ABC, com a presidente da Apeoesp, Maria Izabel Azevedo Noronha, a Bebel, e intermediado uma reunião entre os grevistas e o governador.

“Conversamos com a Bebel, o Edinho ligou para o Zé Serra — e eu havia dito para o Serra diretamente na conversa: ‘Serra, converse você diretamente com o sindicato. Não deixe o seu secretário da Educação conversar porque ele não conversava quando era ministro. Converse você, eles não querem muito e estão dispostos a fazer um acordo. Converse’”, afirmou o presidente.

Segundo Lula, Serra teria prometido ao presidente do PT paulista receber pessoalmente os professores. O iG apurou que o governador sugeriu a possibilidade de enviar o secretário da Casa Civil, Aloyzio Nunes Ferreira, já que a Apeoesp não aceitava negociar com Paulo Renato. “Cheguei aqui e o Edinho me comunicou: ‘Presidente, eu conversei com o Serra e ele vai conversar com os professores’”, disse Lula.

De acordo com Lula, Serra não teria cumprido o acordo. “Conclusão: eu fui embora tranquilo. Conversamos com a Bebel tranquilos de que o governador iria chamar os professores para conversar. Qual não foi minha surpresa quando no dia seguinte ele viajou, não conversou, e mandou um secretário seu conversar com os professores?”.

A assessoria de Serra, que poucas horas antes teve o nome lançado pelo PSDB em Brasília, foi procurada, mas não se manifestou. A repressão policial às manifestações dos professores foi explorada em vários discursos durante o encontro de Dilma com representantes da seis centrais sindicais, neste sábado. “Posso afirmar porque estive do lado de lá na eleição passada. O Serra não gosta de trabalhador”, disse o deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, presidente da Força Sindical e do PDT-SP.

Da Redação, com informações do Último Segundo


Fonte: http://www.vermelho.org.br/noticia

Malhando em ferro quente

João Guilherme Vargas Netto *

Quero alinhavar três análises que procuram entender o que se passa entre os trabalhadores pobres, os aposentados pobres, os subempregados e os desempregados que não são a base do nosso movimento sindical organizado.

Para André Singer, em artigo publicado na revista Novos Estudos de novembro de 2009, Lula conquistou em 2006 os votos desta população, onde se misturam conservadorismo e reivindicações, com suas políticas sociais; já o pesquisador norte-americano Cesar Zucco, confirmando o achado, afirma que Lula atraiu os pobres das metrópoles. O cientista político de Yale e Princeton destaca o papel do Bolsa Família neste feito (ver Folha de S.Paulo de 5 de abril). E Maria da Conceição Tavares em importante entrevista para Teoria e Debate de janeiro/fevereiro de 2010, reconhece esta base do “lulismo” e, ampliando a análise, cita os aumentos do salário mínimo como um dos elementos essenciais para a nova configuração política e social que deve orientar a atitude dos partidos progressistas.

Para os três há uma concordância: o povo pobre aderiu a Lula garantindo-lhe o reconhecimento maciço.

O papel positivo desempenhado pelos reajustes do salário mínimo não pode, para quem analisa o movimento sindical e para seus dirigentes e ativistas, ser subestimado.

Os ganhos reais do mínimo - conquistados e garantidos pela interação entre a vontade política do presidente e a ação unitária das centrais sindicais – têm um poderoso reflexo sobre a economia (o mercado interno que nos salvou da crise e tem alavancado o crescimento do PIB), sobre a sociedade (melhoria da condição de vida dos mais pobres e ascensão social) e sobre o movimento sindical (vitória de uma estratégia unitária de caráter social não corporativo).

Eles afetam positivamente de maneira direta todos os que recebem o salário mínimo (nos mercados formais e informais de trabalho), os aposentados que o recebem e toda a grade de reajustes das aposentadorias (com ganhos reais, pela primeira vez, influenciados pelo avanço do salário mínimo), os pisos salariais profissionais (que são pressionados de baixo para cima e melhoram as condições de negociação de diversas categorias), os salários mínimos regionais nos cinco Estados que o praticam e alteram a maior as parcelas do seguro-desemprego. Os efeitos positivos desdobram-se em todas as direções e abarcam a esmagadora maioria dos trabalhadores, contribuindo também para diminuir o desemprego com o desenvolvimento da economia.


* É consultor sindical de diversas entidades de trabalhadores em São Paulo
Fonte:http://www.vermelho.org.br/coluna

Serra, Kassab e as enchentes

João Quartim de Moraes *

No verão tropical chove muito. Kassab e Serra sabem disso tão bem quanto qualquer outro. Também sabem que numa megalópolis do tamanho de São Paulo, atravessada por rios que foram transformados em fétidos lixões flutuantes, quanto mais se impermeabiliza o solo, mais aumentam os riscos de enchente.

Poderiam ter lido na Wikipedia que: “A enchente ocorre quando o rio Tietê recebe, repentinamente, um grande volume d'água dos seus afluentes como o rio Aricanduva, que deságua muitos milhões de litros em alguns poucos minutos. A água que já estava no Tietê a uma certa velocidade precisa de algumas horas para ganhar força e adquirir uma velocidade maior. Enquanto a água do Tietê não ganha velocidade, a que vem do rio Aricanduva vai sendo acumulada, e o rio enche até transbordar. Por causa desse fenômeno hidráulico, o rio Tietê precisa de uma área lateral para poder absorver essa enchente. Essa área existe e situa-se a alguns metros abaixo das avenidas marginais”.

Existe ou existia? Professores da USP manifestaram, em meados do ano passado, “total repúdio” à chamada “Revitalização da Marginal do Rio Tietê”, obra encomendada pela dupla Serra/Kassab e empreendida por um cartel de concessionárias do sistema rodoviário. O argumento de fundo dos professores é que a construção de seis novas faixas (três de cada lado) na Marginal, com um custo de R$ 1,3 bilhão, agride frontalmente o princípio da prioridade do transporte coletivo sobre o individual, consagrado no Plano Diretor Estratégico do Município de São Paulo.

É normal que Kassab, ex-estafeta do malufismo e membro de um partido que só ousa se chamar DEMocratas porque não tem senso do ridículo, obedeça na prática ao princípio oposto: prioridade para o transporte individual em detrimento do coletivo. Mas no assunto da Marginal ele é mero coadjuvante. Serra é quem decide. É ele pois o principal responsável pela nova escalada de impermeabilização do solo metropolitano.

Evidentemente não lhe faltam áulicos e outras serviçais para defender esse atentado à segurança e à saúde dos moradores de São Paulo. Sob o título trivial “Melhorando o Trânsito, Trabalhando por Você”, o Portal do Governo do Estado de São Paulo publicou, em formato de catecismo, uma série de perguntas e respostas cuja leitura me fez voltar a um já bem distante passado. Numa dessas revistas, provavelmente O Cruzeiro, que líamos esperando a vez de cortar o cabelo na fila da barbearia (naquele tempo de machismo pré-crítico, cabelereiro era para mulheres; os do sexo masculino, mesmo imberbes, iam ao barbeiro) havia uma coluna humorística chamada Ministério das Perguntas Cretinas. O pessoal do Portal do Serra reativou a idé ia (mas fingindo estar falando sério) e acrescentou um seção de respostas ainda mais cretinas. As perguntas são muitas Reproduzimos aqui apenas as que dizem respeito ao estrago ecológico que aqui nos preocupa.

“Qual vai ser a economia de combustível depois que a nova marginal estiver pronta?”. “Estima-se que com a redução do tempo médio de cada viagem possa se chegar a uma economia de consumo da ordem de 1,5 milhão de litros de combustível/ano”. Esse número é imaginário, não no sentido matemático, mas no sentido fantasioso do termo. Mas enfim, está bem no estilo do Serra, aquele que quando candidato a prefeito prometeu que não se candidataria a governador e quando lhe cobraram a promessa violada, respondeu com sua característica caradura: “Aquela era a verdade daquele momento”.

“A melhora no trânsito vai diminuir a poluição?” “Vai. Com a redução do tempo médio de viagem, e a redução do consumo, haverá uma redução de emissão de poluentes”. Não terá passado pela cabeça dos pensadores do PmDEMb que se de fato a velocidade média aumentar, será por pouco tempo, porque os muitos motoristas que fogem dos congestionamentos da Marginal tenderão a dela se servir. Reencontramos aqui a quintessência do urbanismo malufista: obras dispendiosas que aliviam o trânsito, até que tudo entupa de novo. O limiar da saturação já foi atingido há muito tempo e só o rodízio, uma limitação administrativa ao uso do transporte individual estimulado pela própria administração, impede a paralização completa. Não há solução de fundo, além de investir pesadamente nos transportes coletivos, principalmente sobre trilhos.

Duas perguntas do Portal do Governo do Estado são extremamente atuais, muito mais, sem dúvida, do que o governador gostaria; as respostas estão à altura, mesmo porque são os mesmos que perguntam e respondem. se não fossem as trágicas conseqüências envolvidas: “A obra aumenta o risco de enchentes?” “Não, não há risco maior de enchentes por causa da construção das novas pistas”. “A Nova Marginal vai tornar o solo mais impermeável?” “A impermeabilização de terreno com a construção das novas pistas atingirá uma área total de 19 hectares, equivalente a cerca de 30 campos de futebol”. Essa segunda resposta, em especial, tem lugar garantido em qualquer antologia internacional da desfaçatez. 
O solo de São Paulo já está devastadoramente impermeabilizado. Serra mandou explicar que só iria sufocar mais uns trinta campos de futebol na Marginal, a qual, como indica o nome, está na margem do rio. Alguns meses depois, diante de bairros inteiros inundados, ele só poderia explicar que aquela resposta era a verdade daquele momento. Só que os momentos seguintes foram catastróficos. Em setembro 2009, com metade da chuva da última inundação, ocorrida quatro anos a antes, o Tietê transbordou. Transbordou de novo em 8 de dezembro. Os moradores de vários bairros populares, por exemplo Jardim Romano, na Zona Leste, ficaram com água pelas canelas pelo menos duas semanas.

A chuva obedece a fatores meteorológicos. Cai sobre as plantações e as hortas, irrigando-as, ou sobre as cidades impermeabilizadas, inundando-as. A chuva não sabe o que faz. Prefeitos e governadores deveriam saber.

* Professor universitário, pesquisador do marxismo e analista político.
Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna

Serra, Kassab e o mar de lama

João Quartim de Moraes *

Começo esta por onde terminei a anterior. A chuva, que continua implacável, cai sobre as plantações e as hortas, irrigando-as (um pouco demais), ou sobre as cidades impermeabilizadas, inundando-as. A chuva não sabe o que faz. Prefeitos e governadores deveriam saber.

No início de janeiro, Kassab teve de comparecer ao Jardim Romano, na Zona Leste. Estava ficando indecente demais que o prefeito não visitasse um dos bairros populares mais duramente afetados, e há mais tempo, pelas enchentes. Uma reportagem de O Estado de São Paulo (9/1/10), jornal insuspeito de extremismos de esquerda, que relatou a visita, conta que Raquel Santos, profissão babá, ao dar de frente com o prefeito e seus guarda-costas numa esquina enlameada desabafou aos gritos: “O senhor não põe o pé na lama? Eu quero que o senhor ponha o pé na lama. A gente perdeu tudo, ontem minha casa encheu de água com sete crianças dentro. [...] Se quiser uma bota para entrar na lama eu empresto!”. Mas não foi preciso. Kassab saiu de fininho. Chamou a babá Raquel para conversar perto do carro. “Ele veio me amansando, disse que eu estava alterada e fugiu naquele carrão preto”.

Em outros bairros alagados, por exemplo na Vila Regente Feijó, onde manifestantes revoltados botaram fogo em pneus, fechando a avenida Sapopemba, o prefeito julgou mais prudente enviar em seu lugar a Polícia Militar.


Mas não é só a gestão Kassab que está fazendo água. Serra é pelo menos tão responsável pelas enchentes quanto seu parceiro malufista. O estado calamitoso das vias públicas, a sujeira acumulada no bueiros são da alçada do prefeito, mas a impermeabilização da Marginal do Tietê é um presente envenenado do governador. 

A esse respeito o sr. Antonio Carlos Mendes Thame, que “foi Secretário Estadual de Recursos Hídricos nos Governos Covas e Alckmin, Prefeito de Piracicaba e é Deputado Federal (PSDB/SP)”, teve a bondade de me incluir em sua lista internética, mandando um texto que no início achei sarcástico e brincalhão. Parecia um daqueles deboches contra a candidatura presidencial de Serra suscitados pela situação de semi-afogamento em que se encontra a megalópolis paulistana. Por exemplo, o que diz: vote em Serra, porque se ele for eleito vai transpor a enchente paulistana para o semi-árido nordestino. Mas não, o deputado Mendes Thame parece estar falando sério: “São Paulo antecipou-se nas obras de contenção de enchentes, porém o aquecimento global tende a dobrar o volume de chuvas, exigindo dos governos estadual, federal e prefeituras das áreas atingidas a adoção de planos arrojados de prevenção e combate às cheias. É a única de forma de evitar que as enchentes, que assolaram regiões do Sul do País no ano passado, e agora chegaram a São Paulo, continuem a trazer tamanhos prejuízos, colocando em risco a vida das pessoas”.


O principal culpado, segundo o insigne parlamentar, é o aquecimento global, que teria perfidamente burlado os “planos arrojados de prevenção e combate às cheias”. Mas o Plano de Covas (é a ele que se refere o deputado) não é tão arrojado assim. Em termos de engenharia é trivial. O aprofundamento da Calha do Tietê era de fato indispensável. Foi uma iniciativa correta. Incorreto foi superestimar seus efeitos, não levar até o fim o tratamento dos esgotos despejados no Alto Tietê e em seus afluentes e esquecer de combinar com as chuvas para que elas “se mantivessem suas médias históricas” (sic).


Diz ainda o deputado Thame que segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Brasil) e a Universidade de Reading (Reino Unido), “o aumento de temperatura na América do Sul tende a produzir, gradativamente, mais 16 dias/ano de chuva intensa (mais de 10mm) no sudeste do continente, englobando o Brasil”. E acrescenta: “Devido a essa previsão, altamente preocupante, o INPE trabalha na elaboração de projeções que permitam aos órgãos públicos replanejar a infra-estrutura de combate às enchentes”. 


É aí que a porca torce o rabo, como se dizia outrora. Por que o deputado, membro proeminente de seu Partido, não contou isso para o governador? Quem sabe em vez de impermeabilizar a Marginal para facilitar a vida dos automobilistas, ele teria mandado construir mais parques e posto mais transportes coletivos a serviço do povo.

* Professor universitário, pesquisador do marxismo e analista político.
Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna