segunda-feira, 12 de outubro de 2015

A CRIANÇA QUE VIVE EM MIM NUNCA MORRE

''... sonhar é alma própria da criança, aliás, crianças não sonham, elas são feitas de sonhos, são os sonhos com pernas, braços, cabeça e risos.''

Dentro de mim brinca uma criança que nunca morre. Há décadas,
todos os dias juntos sorrimos, choramos, sonhamos, brincamos e dormimos. Somos inseparáveis, mesmo quando se avança no tempo, na idade e as pessoas parecem contemplar em meus gestos, minhas palavras e expressões uma imagem rígida de matéria infeliz, séria e com pouca luz. Porque criança é luz, energia que não dissipa, sabor de vida que não perde gosto.

Dentro de mim há um parque de diversões, um piquenique em tarde sem fim, há uma casinha na árvore que abriga a vida toda em lembranças, alegrias, tristezas, recomeços, renovados sorrisos. Porque criança infeliz é dia sem sol. Há anos entendi que a criança vive em mim e eu vivo nela, que triste a vida adulta sem a criança e a criança sem uma vida adulta por si. Pois a beleza da vida esta nesta mescla terna que ignora o fim, unificando as pontas do nascer ao tarde da existência.

Dentro de mim há um mundo de sonhos, porque sonhar é alma própria da criança, aliás, crianças não sonham, elas são feitas de sonhos, são os sonhos com pernas, braços, cabeça e risos. Porque sonhar é Ser, é se reinventar, é se recriar é reviver. Bom é ser criança pois embora os pesadelos tentem nos atormentar, morrem eles também de tédio quando recorremos aos nossos heróis da fantasia ou mesmo a fantasia de nossos heróis da vida real.

Dentro de mim há um livro com belas histórias, porque histórias belas somente as crianças sabem contar. E narrativas épicas, imaginárias ou reais somente crianças podem, sabem e conseguem ilustrar. O mundo dos adultos é triste, gélido, sombrio e pragmático na soma, multiplicação, divisão e subtração – enquanto esse Eu Criança é sempre mais!

Dentro de mim moram constelações de estrelas, rios de alegrias, tempestades de amigos, porque criança nasce amigo para ser eterno. Tal vez isso explique porque criança não quer, não tem e não faz inimigos. Crianças são singelezas, jardins que perfumam, embelezam e dão cores em um mundo triste, embora tantos mundos felizes com jardins abandonados, cores tristes e sem perfume.

Dentro de mim há um campo de futebol, uma casinha de bonecas, uma pista de carros, um balanço no galho da árvore. Há um sítio de peraltices, um vale de esperanças, uma escola educativa. Há rostos felizes e tristes porque a vida também é espelho a refletir ninares em noite com sono perdido.

Dentro de mim há um tempo que passa em direção ao tarde da vida, embora tarde possa parecer o dia que nos damos conta que a criança deixou de morar em nós. Crianças não morrem, morrem quem velho se faz: aborrecidos, desanimados, desacreditados, sem sonhos, sem risos, sem sol, sem peraltices. Sem as brincadeiras de rodas, as canções de ninares, as histórias passadas e as presentes, as que ainda inventarei para descrever o futuro.

Dentro de mim há tudo isso é um pouco mais: do dia de ontem, hoje amanhã e a eternidade. Eu não quero morrer triste e pobre: porque tristeza é o que envelhece a vida, a torna cansada e sem amanhã. E pobreza mesmo é perder o direito sonhar. Crianças são eternas, desde que a eternidade não deixe de viver e nisso somente eu e você podemos escolher. Eu sei! Dentro de mim há uma criança que vive, tão sonhadora, agitada, peralta e feliz – E VOCÊ?


Neuri Adilio Alves 
Filósofo, Professor, Pesquisador