domingo, 30 de agosto de 2015

DECLARAÇÃO DE PARIS PARA A FILOSOFIA 1995

Extraído de: "Filosofia e Democracia no Mundo" Paris, 15 e 16 de fevereiro de 1995


"Nós, participantes das jornadas internacionais de estudo 'Filosofia e democracia no mundo', organizadas pela UNESCO, que ocorreram em Paris, nos dias 15 e 16 de fevereiro de 1995,

"Constatamos que os problemas de que trata a filosofia säo os da vida e da existência dos homens considerados universalmente,

"Estimamos que a reflexäo filosófica pode e deve contribuir para a compreensäo e conduta dos afazeres humanos,

"Consideramos que a atividade filosófica, que näo subtrai nenhuma idéia à livre discussäo, que se esforça em precisar as definiçöes exatas das noçöes utilizadas, em verificar a validade dos raciocínios, em examinar com atençäo os argumentos dos outros, permite a cada um aprender a pensar por si mesmo,

"Sublinhamos que o ensino de filosofia favorece a abertura do espírito, a responsabilidade cívica, a compreensäo e a tolerância entre os indivíduos e entre os grupos,

"Reafirmamos que a educaçäo filosófica, formando espíritos livres e reflexivos - capazes de resistir às diversas formas de propaganda, de fanatismo, de exclusäo e de intolerância - contribui para a paz e prepara cada um a assumir suas responsabilidades face às grandes interrogaçöes contemporâneas, notadamente no domínio da ética,

"Julgamos que o desenvolvimento da reflexäo filosófica, no ensino e na vida cultural, contribui de maneira importante para a formaçäo de cidadäos, no exercício de sua capacidade de julgamento, elemento fundamental de toda democracia.

"É por isso que, engajando-nos em fazer tudo o que esteja em nosso poder - nas nossas instituições e em nossos respectivos países para realizar tais objetivos, declaramos que:

"Uma atividade filosófica livre deve ser garantida por toda parte - sob todas as formas e em todos os lugares onde ela possa se exercer - a todos os indivíduos;

"O ensino de filosofia deve ser preservado ou estendido onde já existe, criado onde ainda näo exista, e denominado explicitamente 'filosofia';

"O ensino de filosofia deve ser assegurado por professores competentes, especialmente formados para esse fim, e näo pode estar subordinado a nenhum imperativo econômico, técnico, religioso, político ou ideológico;

"Permanecendo totalmente autônomo, o ensino de filosofia deve ser, em toda parte onde isto é possível , efetivamente associado - e näo simplesmente justaposto - às formaçöes universitárias ou profissionais, em todos os domínios;

"A difusäo de livros acessíveis a um largo público, tanto por sua linguagem quanto por seu preço de venda, a geraçäo de emissöes de rádio ou de televisäo, de audiocassetes ou videocassetes, a utilizaçäo pedagógica de todos os meios audiovisuais e informáticos, a criaçäo de múltiplos espaços de debates livres, e todas as iniciativas susceptíveis de fazer aceder um maior número a uma primeira compreensäo das questöes e dos métodos filosóficos devem ser encorajadas, a fim de constituir uma educaçäo filosófica de adultos;

"O conhecimento das reflexöes filosóficas das diferentes culturas, a comparaçäo de seus aportes respectivos e a análise daquilo que os aproxima e daquilo que os opöe, devem ser perseguidos e sustentados pelas instituiçöes de pesquisa e de ensino;

"A atividade filosófica, como prática livre da reflexäo, näo pode considerar alguma verdade como definitivamente alcançada, e incita a respeitar as convicçöes de cada um; mas ela näo deve, em nenhum caso, sob pena de negar-se a si mesma, aceitar doutrinas que neguem a liberdade de outrem, injuriando a dignidade humana e engendrando a barbárie.

"Esta declaraçäo foi subscrita por:

- Prof. Ruben G. Apressian (Instituto de Filosofia da Academia de Ciências de Moscou, Federaçäo Russa),

- Prof. Tanella Boni-Koné (Universidade de Abidjan, Costa do Marfim),

- Prof. Tzotcho Boyadjiev (Universidade Saint Klément Ohridski, Sófia, Bulgária),

- Prof. In-Suk Cha (Secretário Geral da Comissäo Nacional para a UNESCO da República da Coréia, Seul, República da Coréia ),

- Prof. Marilena Chaui (Universidade de Säo Paulo, Brasil),

- Prof. Donald Davidson (Universidade de Berkeley, USA),

- Prof. Souleymane Bachir Diagne (Universidade de Dakar, Senegal ),

- Prof. François Dossou (Universidade Nacional do Benin, Cotonou, Benin),

- Prof. Michaël Dummett (Oxford, Reino Unido),

- Prof. Artan Fuga (Universidade de Tirana, Albânia),

- Prof. Humberto Gianini (Universidade de San Tiago do Chile, Chile),

-Prof. Paulin J. Houtondji (Universidade Nacional do Benin, Benin),

- Prof. Joanna Kuçuradi (Secretária Geral da Federaçäo Internacional das -Sociedades de Filosofia, Ancara, Turquia),

- Prof. Dominique Lecourt (Universidade de Paris VII, Paris, França),

- Prof. Nelly Motroshilova (Universidade de Moscou, Federaçäo da Rússia),

- Prof. Satchidananda Murty (Vice-Presidente da Federaçäo Internacional das Sociedades de Filosofia, Índia),

- Prof. Ulrich Johannes Schneider (Universidade de Leipzig, Alemanha),

- Prof. Peter Serracino Inglott (Reitor da Universidade de Malta), S. E. Mohammed Allal Sinaceur (Antigo Diretor da Divisäo de Filosofia da UNESCO, Rabat, Marrocos),

- Prof. Richard Susterman (Temple University, Filadélfia, USA),

- Prof. Fathi Triki ( Decano da Faculdade de Letras e Ciências Humanas de Sfax, Tunísia),

- Prof. Susana Villavicencio (Universidade de Buenos Aires, Argentina)."

Extraído de : UNESCO. Philosophie et Démocratie dans le Monde

- Une enquête de l'UNESCO. Librairie Génerale Française,
1995, p. 13-14