quarta-feira, 16 de novembro de 2011


                                  Medidores Humanos                                         


Existem vários instrumentos para medir. Medidores antigos e atuais, úteis ou inúteis, que com maior ou menor precisão nos mostram em que medida o homem é de fato a medida de todas as coisas... 
Transcrevo aqui alguns verbetes de um Dicionário da Medição ainda inédito. 
Azarômetro — mede os infortúnios numa escala de 1 a 13. 
Blefômetro — não costuma ser confiável. 
Chorômetro — mede o choro e outros prantos, sem direito a chorinho. 
Cronômetro — mede o tempo, mas nunca explicará por que um minuto de saudade é mais demorado que uma hora de prazer. 
Darwinianômetro — instrumento de medição ainda em plena evolução. 
Escolhômetro — mede nossas opções, seu alcance e suas conseqüências, mas trava em caso de hesitação. 
Foucaultmetro — mede as palavras e as coisas. 
Gotímetro — mede o que pode ser a gota d’água. 
Gratidômetro — mede a verdade de um agradecimento. 
Humildômetro — instrumento que só os orgulhosos têm. 
Imaginômetro — mede o inimaginável. 
Jargômetro — mede a língua dos especialistas. 
Leiturômetro — mede o número de páginas lidas, deixando escapar o que fica nas entrelinhas. 
Medímetro — mede o medo, numa escala que vai do receio ao pavor. 
Memoriômetro — mede tudo, exceto a amnésia. 
Nadômetro — mede o vazio que há em tudo. 
Olhômetro — medidor sofisticado com que todos nascem, mede a altura da vida e a extensão do destino. 
Orgulhômetro — instrumento que só os humildes têm. 
Passômetro — mede o número de passos que já demos, calcula quanto de passado já temos e quantas vezes já passamos por um mesmo lugar... sem perceber. 
Perguntímetro — o que é que esse instrumento mede mesmo? 
Perplexômetro — mede a imensurável perplexidade humana. 
Psicômetro — quando usado por psicólogos para medir a alma de seus pacientes, quebra. 
Pugilômetro — mede a força do murro em ponta de faca, do soco que se leva, do tapa na outra face oferecida. 
Quantímetro — vale quanto mede. 
Reflexômetro — mede a profundidade das mais incríveis reflexões. 
Rotinômetro — mede o tédio, mas sujeito a quebra se for alterado. 
Sismômetro — mede os abalos sísmicos; não confundir com o Cismômetro, que mede as cismas que nos abalam. 
Tensiômetro — mede a tensão dos ambientes. 
Termômetro — mede a temperatura... e a preocupação das mães. 
Umbigômetro — mede a generosidade humana. 
Variômetro — mede várias coisas que jamais saberemos medir. 
Vergonhômetro — aparelho em falta na terra dos sem-vergonhas. 
Voltômetro — mede as voltas que o mundo dá. 
Xongômetro — não mede coisa nenhuma. 
Zerômetro — mede abaixo da média. 

Gabriel Perissé é doutor em Educação pela USP e escritor.