quarta-feira, 28 de julho de 2010

Meio ambiente

Eron Bezerra *
 

Atualmente, como nós sabemos, a questão ambiental é usada como pano de fundo de um objetivo ideológico específico: o bloqueio da Amazônia e a sua eventual internacionalização.


Os fatos que sustentam essa afirmativa são abundantes e nem vale apenas enumerá-los. São por demais evidentes para que alguém isento ouse questioná-los. Mas devemos ter o cuidado de separar o discurso reacionário pró-internacionalização daqueles que efetivamente demonstram real preocupação com a sustentabilidade.

A forma predatória de uso dos recursos naturais está comprometendo a existência da nossa espécie e de dezenas de outras espécies de terráqueos sobre a face da terra. E, por isso mesmo, reclama outro modo de produção se é que temos interesse em continuar usando tais recursos.

A pesquisa certamente vai responder a muitas interrogações e questionamentos que hoje ainda não tem respostas satisfatórias. Isso não deve nos paralisar. O nível de conhecimento cientifico e tecnológico atual nos permite manejar florestas, espécies florestais e animais outrora ameaçados de extinção, andar de avião ou carro movido a hidrogênio e dispor de toda uma gama de produtos “limpos”. Todavia, na etapa atual do capitalismo, o uso desses produtos é condicionado pela lucratividade, o que obviamente tem restringido a sua utilização e o seu alcance.

Assim, esse tema figura em todas as rodas de debate. Freqüenta a academia e o mundo político de forma intensa e é manejado de acordo com a concepção ideológica do interlocutor de plantão, seja o produtivismo, o santuarismo ou o sustentabilismo.

Não é inusitado, portanto, que a 62ª Reunião Anual da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), o mais importante encontro de pesquisadores do país tenha pautado esse tema para reflexão. É uma grande oportunidade para se tratar o assunto com a seriedade que se impõe na prazerosa capital potiguar.

A preocupação real e sincera com a questão ambiental não é nova. Mas nenhum pensador de vulto dedicou a atenção que o tema requer. Compreensível. A consciência é produto da realidade material objetiva. E realidade objetiva era “crescimento rápido”.

Amazônidas de grande visão como Artur Cesar Ferreira Reis, Araujo Lima, Djalma Batista, Agnelo Bittencourt e Samuel Benchimol já revelavam grande preocupação com o tema, num momento em que a questão ambiental ainda não era “modismo”. E mais recentemente o poeta Thiago de Melo e o jurista Bernardo Cabral têm dedicado boa parte de suas elaborações teóricas em torno desse tema. Thiago fez da poesia o seu escudo para a defesa sincera da questão ambiental. Cabral fez da defesa recorrente da importância da água a sua causa maior, tanto como parlamentar quanto como articulista.

Esforço-me para dar a minha modesta contribuição a esse tema. Por isso aceitei com prazer suspender a campanha por um dia para vir a 62ª Reunião Anual da SBPC, a convite do INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) para fazer o lançamento de meu livro “Amazônia, esse mundo à parte”, no qual eu procuro abordar a complexidade amazônica, sua cultura, sua gente, seus mistérios.

A luta de idéias é algo permanente e nem sempre sutil. Precisamos assegurar que a sustentabilidade seja concepção real de desenvolvimento e não retórica para os produtivistas que apenas querem mascarar seu caráter predador ou para os sustentabilistas que tão somente recorrem ao palavrório para impedir todo e qualquer uso de nossos recursos naturais.

* Engenheiro Agrônomo, Professor da UFAM, Deputado Estadual, Membro do CC do PCdoB, Secretário Nacional da Questão Amazônica e Indígena.

Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna