domingo, 11 de abril de 2010

Malhando em ferro quente

João Guilherme Vargas Netto *

Quero alinhavar três análises que procuram entender o que se passa entre os trabalhadores pobres, os aposentados pobres, os subempregados e os desempregados que não são a base do nosso movimento sindical organizado.

Para André Singer, em artigo publicado na revista Novos Estudos de novembro de 2009, Lula conquistou em 2006 os votos desta população, onde se misturam conservadorismo e reivindicações, com suas políticas sociais; já o pesquisador norte-americano Cesar Zucco, confirmando o achado, afirma que Lula atraiu os pobres das metrópoles. O cientista político de Yale e Princeton destaca o papel do Bolsa Família neste feito (ver Folha de S.Paulo de 5 de abril). E Maria da Conceição Tavares em importante entrevista para Teoria e Debate de janeiro/fevereiro de 2010, reconhece esta base do “lulismo” e, ampliando a análise, cita os aumentos do salário mínimo como um dos elementos essenciais para a nova configuração política e social que deve orientar a atitude dos partidos progressistas.

Para os três há uma concordância: o povo pobre aderiu a Lula garantindo-lhe o reconhecimento maciço.

O papel positivo desempenhado pelos reajustes do salário mínimo não pode, para quem analisa o movimento sindical e para seus dirigentes e ativistas, ser subestimado.

Os ganhos reais do mínimo - conquistados e garantidos pela interação entre a vontade política do presidente e a ação unitária das centrais sindicais – têm um poderoso reflexo sobre a economia (o mercado interno que nos salvou da crise e tem alavancado o crescimento do PIB), sobre a sociedade (melhoria da condição de vida dos mais pobres e ascensão social) e sobre o movimento sindical (vitória de uma estratégia unitária de caráter social não corporativo).

Eles afetam positivamente de maneira direta todos os que recebem o salário mínimo (nos mercados formais e informais de trabalho), os aposentados que o recebem e toda a grade de reajustes das aposentadorias (com ganhos reais, pela primeira vez, influenciados pelo avanço do salário mínimo), os pisos salariais profissionais (que são pressionados de baixo para cima e melhoram as condições de negociação de diversas categorias), os salários mínimos regionais nos cinco Estados que o praticam e alteram a maior as parcelas do seguro-desemprego. Os efeitos positivos desdobram-se em todas as direções e abarcam a esmagadora maioria dos trabalhadores, contribuindo também para diminuir o desemprego com o desenvolvimento da economia.


* É consultor sindical de diversas entidades de trabalhadores em São Paulo
Fonte:http://www.vermelho.org.br/coluna