sexta-feira, 16 de outubro de 2009

 

Tucanagem na USP (ou a privataria vai à universidade)

 

Odair Rodrigues *

O caráter público da Universidade de São Paulo sofre um lento estrangulamento desde a primeira administração tucana de Mário Covas.

A privatização do tripé ensino, pesquisa e extensão vem sendo realizada pelas fundações instaladas na universidade há pouco mais que uma década. Por outro lado, com as verbas vinculadas à arrecadação do ICMS, a comunidade universitária vê seus recursos minguarem porque os sucessivos governos do PSDB reduziram ou isentaram grandes empresas de vários impostos.

O silenciamento daqueles que se recusam a aceitar os ditames neoliberais na academia são constantemente pressionados e até mesmo confrontados diretamente como o professor Kabengele Munanga, respeitado por suas pesquisas e incansável luta contra o racismo.
As organizações sindicais e estudantis sofrem pesada perseguição através de demissões, proibição de reuniões, desocupação judicial das sedes, processos contra as entidades e seus membros.

O extremo aconteceu este ano com a ocupação do campus Butantã pela tropa de choque da PM, que prendeu e feriu professores, funcionários e estudantes em batalhas semelhantes às ocorridas durante a ditadura militar. Prédios foram atacados com gás, helicópteros deram rasantes e balas de borracha foram usadas fartamente onde o deveria prevalecer o debate de idéias.

A professora Suely Vilela, a partir dessa atitude truculenta, passou a ser considerada, pela comunidade universitária, “reitora de fato” assim como Roberto Michelleti é “presidente de fato” em Honduras. Ou seja, tem apenas o apoio dos demo-tucanos e do PIG (Partido da Imprensa Golpista).

O resultado desse desastre político-administrativo reflete diretamente nas atividades acadêmicas. A USP tem paulatinamente perdido qualidade nas avaliações do ensino superior, tanto no Brasil, como no exterior. A universidade, seguindo uma lógica neoliberal, também se afasta cada vez mais da tendência nacional de abrir seu processo seletivo para diversos setores da população: não tem política de cotas, não participa do ENEM e se recusa a ser avaliada por critérios do MEC.

Cada governo tucano de São Paulo imprimiu sua marca nas universidades paulistas, especialmente na USP; Mario Covas implementou a gestão neoliberal, Alckmin ampliou o poder das fundações e reduziu verbas, Serra instaurou a truculência física, política e judiciária nos campi.

É a velha fórmula da privataria, reprimir, fragmentar e depreciar para vender mais barato o patrimônio estatal.

Defender a Universidade de São Paulo como instituição pública é manter a possibilidade de transformá-la em democrática, acadêmica e politicamente, para o povo.
Os brasileiros defendendo seu patrimônio, isso é o que menos deseja a aliança demo-tucana, portanto, combatamos as viúvas do Consenso de Washington no seu ninho paulista.

Em defesa da Universidade Pública, Gratuita, Democrática em São Paulo!

* É professor de língua e literatura no Estado do Paraná, web cronista, poeta, e militante da Unegro e do PCdoB.  Autor do blog Ruminemos: http://ruminemos.blogspot.com

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