sexta-feira, 4 de setembro de 2009

FIDEL CASTRO - OS FINS NÃO JUSTIFICAM OS MEIO

3 de Setembro de 2009 - 17h01


O líder da Revolução cubana, Fidel Castro, afirmou que as notícias diretas procedentes dos Estados Unidos produzem em certas ocasiões indignação e às vezes repugnância.
Em um artigo intitulado "O fim não justifica os meios", divulgado na quarta-feira (2) pela publicação digital CubaDebate, Fidel Castro assinala que "qualquer página do grande volume de notícias procedentes de um continente, região ou país do mundo, de um modo geral estão relacionadas com a política dos Estados Unidos da América. Não existe lugar do planeta onde não é experimentada a avassaladora presença do império".

O líder cubano considera que, como é lógico, durante quase dez anos as notícias sobre as guerras brutais dos Estados Unidos ocuparam espaços importantes na imprensa e ainda mais quando havia uma eleição presidencial.
Leia abaixo a íntegra do artigo de Fidel Castro:
Fidel Castro: O fim não justifica os meios

As notícias diretas provenientes dos Estados Unidos da América em ocasiões produzem indignação e outras vezes repugnância.

Como é sabido, nos últimos tempos grande número delas se referiam aos problemas associados à grave crise econômica internacional e as suas consequências no seio do império. Não são, portanto, as únicas referentes a esse poderoso país. Qualquer página do grande volume de notícias procedentes de um continente, região ou país do mundo, de um modo geral estão relacionadas com a política dos Estados Unidos da América. Não existe lugar do planeta onde não é experimentada a avassaladora presença do império.

Como é lógico, durante quase dez anos as notícias sobre as suas brutais guerras ocuparam importantes espaços da imprensa e ainda mais quando havia uma eleição presidencial.

Contudo, ninguém tinha imaginado que no meio do drama das guerras de conquista apareciam as notícias sobre os cárceres secretos e os centros de tortura, um vexante e bem guardado secreto do Governo dos Estados Unidos.

O autor da grotesca política que conduziu a esse ponto tinha usurpado a presidência dos Estados Unidos da América nas eleições de novembro do ano 2000, mediante fraude eleitoral no sul do estado da Flórida onde se decidiu a guerra.

Depois de usurpar o poder , W. Bush não apenas arrastou o país a uma política de guerra, mas também deixou de subscrever o Protocolo de Quioto, negando ao mundo durante 10 anos, na luta pelo meio ambiente, o apoio da nação que consome 25 por cento do combustível fóssil, o que pode ocasionar à espécie humana um prejuízo irreparável. Já a mudança climática está presente no incremento mundial do calor, que os pilotos de aviões executivos podem observar através dos tornados de crescente força que são formados desde as primeiras horas da tarde nas suas rotas tropicais e podem ser motivo de perigo para os seus modernos jatos. Ainda não se conhecem as causas do acidente do avião de Air France que se desintegrou em pleno voo.

Nada seria comparável com as consequências do descongelamento da enorme massa de água acumulada sobre o continente antártico, somada à que se derrete sobre a Groenlândia. O meu ponto de vista sobre a responsabilidade que cai sobre Bush, sustentei-o em recente encontro com o cineasta norte-americano Oliver Stone ao comentar-lhe o seu filme: "W" , referente ao penúltimo Presidente dos Estados Unidos da América.

Limito-me a assinalar que após os erros e horrores políticos de George W. Bush, o ex-presidente Cheney, que foi o seu conselheiro, defende a ideia de que as torturas ordenadas à CIA para obter informação estavam justificadas, razão pela qual salvaram vidas norte-americanas graças à informação obtida por essa via.

É claro que não salvou as vidas dos milhares de norte-americanos que morreram no Iraque, nem as de quase um milhão de iraquianos, nem os que em número crescente morrem no Afeganistão. Também não se sabe quais serão as consequências do ódio acumulado pelos genocídios que estão sendo cometidos ou podem ser cometidos por essas vias.

Trata-se, compreenda-se bem, de um problema essencial de ética política: "o fim não justifica os meios". A tortura não justifica a tortura; o crime não justifica o crime.

Tal princípio foi debatido e se manteve durante séculos. Em virtude dele a humanidade tem condenado todas as guerras de conquista e todos os crimes cometidos. É bem grave que o mais poderoso império e a mais colossal superpotência que haja existido nunca proclame tal política. Mais preocupante ainda não é só que o ex-presidente e o principal inspirador de tão pérfida política a proclame abertamente, mas que um elevado número de cidadãos desse país, talvez mais da metade, a apoie. Nesse caso, seria uma prova do abismo moral ao qual pode conduzir o capitalismo desenvolvido, o consumismo e o imperialismo. De ser assim, deve proclamar-se abertamente e pedir opinião ao resto do mundo.

Considero, contudo, que os cidadãos mais conscientes dos Estados Unidos da América serão capazes de realizar e ganhar essa batalha moral a medida que compreendam a dolorosa realidade. Nenhuma pessoa honesta no mundo deseja para eles, ou para qualquer outro país, a morte de pessoas inocentes, vítimas de qualquer forma de terror, venha de onde vier.

Fidel Castro Ruz, Havana, 2 de setembro de 2009, 19h34 .

Fonte: Agência Cubana de Notícias